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A oposição boliviana confiava no ‘efeito Neves’ para virar as eleições

A reviravolta na disputa brasileira é o fator ao qual se agarraram os candidatos

J. L.
Samuel Doria Medina, em um ato em La Paz.
Samuel Doria Medina, em um ato em La Paz.DAVID MERCADO (REUTERS)

A reviravolta eleitoral brasileira no último momento, com a passagem do conservador Aécio Neves ao segundo turno depois de ser menosprezado nas pesquisas, é a esperança à qual se agarrou, de algum modo, de forma pública ou privada, a debilitada oposição boliviana na última semana. Os candidatos opositores, em seu conjunto, não chegam a 30% dos votos, segundo as últimas pesquisas.

O candidato da Unidad Democrática (UD), Samuel Doria Medina, enfrenta pela terceira vez o presidente Morales. Se nas ocasiões anteriores, terminou em terceiro lugar – com 7,8% dos votos em 2005 e 5,6% em 2009 –, desta vez as pesquisas o colocam como o segundo na corrida eleitoral. Máximo acionista da Sociedad Boliviana de Cemento (Soboce), aos 56 anos, Doria Medina é considerado um dos homens mais ricos do país. Apesar de estar caindo nas pesquisas nos últimos meses – dos 18% dos votos em julho passou a 13% em setembro, com uma diferença de 40 pontos em relação a Morales –, o candidato conservador afirma que “sempre há um voto oculto”. “A estratégia do Governo é demonstrar que tudo está resolvido, mas vejam o que aconteceu no Brasil”, assegurou em declarações ao EL PAÍS.

Ex-militante do Movimiento de la Izquierda Revolucionaria (MIR), Doria Medina é partidário de integrar-se no Estado Plurinacional criado pelo Governo atual e, a partir daí tentar emendar todos os erros que, segundo sua opinião, foram cometidos. Nessa linha mostra-se convencido de que ele e o atual presidente aglutinarão mais de 90% dos votos. Sem tanto carisma como líder político, o crescimento do outro candidato conservador, o ex-presidente Jorge Tuto Quiroga, fez com que insistisse no discurso de que a população “sabe que é preciso concentrar o voto”.

Partidário de “não ideologizar as relações internacionais”, Doria Medina assegura que se chegar à presidência manterá contatos tanto com Estados Unidos, Cuba, Venezuela e Brasil. Apesar de que, na sexta-feira atacou a missão de observação eleitoral da Organização de Estados Americanos (OEA) em uma carta dirigida ao chefe da comitiva, o ex-presidente da Guatemala, Alvaro Colom, com quem, disse, não ia se reunir. “Bolívia e América Latina merecem – já chegou o momento – a verdade, sem falsos protocolos nem hipocrisias. Não acho que a missão tenha a intenção de fazer observações que possam incomodar ninguém, menos ainda o poder governante”, disse através de um texto no qual atacava também o presidente da OEA, o chileno José Miguel Insulza, “um personagem às vezes prepotente com os bolivianos, outras, astuto adulador dos poderes circunstanciais.”

Jorge Quiroga, no encerramento da campanha em La Paz.
Jorge Quiroga, no encerramento da campanha em La Paz.JORGE BERNAL (AFP)

O caso de Quiroga surpreendeu a todos. Morando nos Estados Unidos, o ex-mandatário – governou o país entre 2001 e 2002 depois que o general Banzer deixou o poder por estar com câncer –, foi o último a apresentar sua candidatura, na metade do ano, pelo Partido Democrata Cristão (PDC). Com 54 anos, esta é a segunda vez que disputa a presidência contra Morales: ficou em segundo em 2005 (28,59% dos votos). Quiroga é o único dos candidatos opositores partidário de romper com a atual orientação do país. Apesar de que as pesquisas lhe dão 8% desde a metade do ano, foi o único aspirante a subir nas pesquisas, o que fez com que recebesse muitas críticas da Unidad Demócrata, pois estes consideraram que ele estava rompendo a unidade opositora dos conservadores.

Ainda mais distantes da disputa eleitoral estão os outros dois candidatos progressistas. Com 61 anos, Juan del Granado se apresenta pela primeira vez à presidência usando sua gestão à frente da prefeitura de La Paz, entre 1999 e 2010, seu cartão de apresentação. Advogado de pressão, uma de suas conquistas mais reconhecidas foi o processo do ditador García Meza, que terminou com uma condenação de 30 anos sem indulto. Antigo aliado do oficialista Movimiento al Socialismo (MAS), Del Granado defende como slogan de sua candidatura: “Nem com o passado neoliberal nem com o presente estancado.”

O quinto candidato, Fernando Vargas (Partido Verde da Bolívia) é um dos líderes das marchas indígenas que conseguiram interromper parcialmente a construção de uma estrada no Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS), um dos episódios mais criticados e obscuros do segundo mandato de Morales. Indígena mojeño, pai de oito filhos, a candidatura ambientalista de Vargas é considerada, em certa medida, a das comunidades indígenas que estão em desacordo com a atual política oficialista.

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