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O FMI situa a Espanha na dianteira do crescimento europeu em 2015

A previsão de crescimento melhora um décimo de ponto este ano e em 2015 deve passar de 1,3% para 1,7%

Amanda Mars
Um operário numa fábrica de automóveis de Valencia.
Um operário numa fábrica de automóveis de Valencia.EFE

Um país que tem 25% de sua população ativa desempregada, cuja dívida se aproxima perigosamente dos 100% de seu PIB e que não tem alternativa senão a construção para crescer com força, foi quem proporcionou a única surpresa positiva nas previsões econômicas para a zona do euro. A Espanha, que há dois anos era candidata firme a um resgate, é a única economia europeia que viu suas expectativas de crescimento melhorar em relação ao prognóstico de julho no informe de perspectivas globais, apresentado hoje pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

A Assembleia Anual do FMI começou em Washington nesta terça-feira cheia de páginas, folhas de cálculo e discursos milimetricamente medidos para configurar um panorama cheio de incertezas. Menos comedidos, os especialistas que assessoram o FMI enxergam muito mais riscos que um semestre atrás. “Nuvens, incerteza e legados” – são essas, nem mais nem menos, as três palavras que o organismo internacional escolheu para intitular o relatório deste outono (do hemisfério norte). Mas na Espanha o panorama parece ser mais positivo. O PIB vai crescer 1,3% este ano e 1,7% em 2015, o que nos dois casos supõe uma melhora de um décimo em relação às previsões traçadas em julho. No próximo ano, segundo as estimativas, nenhuma outra grande economia europeia vai avançar nesse ritmo.

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“O crescimento na Espanha se manteve, apoiado tanto sobre a demanda externa quanto em um maior consumo doméstico, o que reflete uma melhora das condições financeiras e uma maior confiança”, assinala o comunicado. O país já completou seus primeiros 12 meses em crescimento e, se na primeira parte a reativação veio principalmente pelas exportações, na segunda seu papel foi reforçado pelo consumo graças à criação de empregos. O Governo chegou a prognosticar recentemente que em 2015 serão criados 348.200 empregos e a taxa de desemprego baixará dos 24%; os técnicos do Fundo também preveem um desemprego de 23,5%, três décimos a menos que o previsto em julho; diante dos 24,6% de 2014 e os 26% do final de 2013. É preciso olhar para os números da recuperada Grécia, que acumula sete anos em recessão, para encontrar um dado – somente um pouco – pior, de 23,8%.

Ainda assim, há um ano, cada nova revisão dos prognósticos do Fundo produz a elevação para a quarta economia da zona do euro, após uma dura travessia de duas recessões, várias reformas e um duro processo de desvalorização interna.

Os sobressaltos na zona do euro são tantos que a economia espanhola passou de estar no centro das críticas para receber os cumprimentos dos grandes órgãos internacionais. Esse último levou o primeiro-ministro italiano, Mateo Renzi, a alfinetar, no mês passado: “Sinto vontade de rir quando escuto dizer que nosso modelo deve ser a Espanha. Estimo o país e seu presidente, mas quando me dizem que nosso modelo deve ser o de um país que tem o dobro de desemprego, me preocupo”.

Baixo crescimento potencial

A recuperação se viu castigada nos últimos meses pela estagnação europeia, tal e como admitiu o próprio Governo, mas o ritmo de crescimento pode ser recuperado mais para a frente se a situação não piorar entre os países vizinhos, que são os principais clientes da marca Espanha. O principal risco pode estar, a médio prazo, dentro de suas fronteiras e tem a ver com sua própria natureza: seu baixo nível de crescimento potencial, que é o vigor que mostra uma economia com uma política econômica neutra, e que é um problema para o resto da UE. O Fundo advertiu no ano passado, entre elogios e elogios para suas reformas, que este poderia ser “somente de 1% a médio prazo”. É o legado de uma etapa de expansão baseada na baixa produtividade. Além disso, o crédito segue sendo mais caro para as empresas espanholas que para suas rivais da zona do euro.

A máquina econômica não pode se permitir baixar o ritmo para recuperar os quatro milhões de empregos destruídos e recuperar o nível de riqueza anterior à crise. Para evitá-lo, o Fundo defendeu outro novo aperto na reforma trabalhista, mais medidas para facilitar a reestruturação de dívidas privadas e, ainda que tenha saldado a maior parte das dívidas tributárias, acredita que o Governo deveria melhorar o rendimento do IVA, um imposto que o Executivo se negou a tocar. A pressão para continuar com as reformas também veio da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), cujo secretário geral, Ángel Gurría, disse com ironia: “As reformas nunca terminaram, é preciso reformar as reformas”.

Mas a Espanha não tem na sua agenda mudanças relevantes, para além de uma nova lei para liberalizar serviços profissionais que após múltiplos atrasos estava prevista para esse verão, mas ainda não foi aprovada. Em pleno clima pré-eleitoral, mas também com um processo de ajuste duro pelas costas, a economia espanhola cruza os dedos para que as nuvens vizinhas não ultrapassem suas fronteiras e possa prosseguir com essa lenta e pesada digestão de sua grande bolha e posterior derrocada.

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