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Obama admite que EUA subestimaram força do EI

Presidente reconhece falta de percepção de que Síria se transformava “no marco zero do jihadismo” Mandatário considera que a crise no Oriente Médio já é “um desafio para uma geração”

Yolanda Monge
Barack Obama no sábado, em Washington.
Barack Obama no sábado, em Washington.N. KAMN (AFP)

Assim como aconteceu com o Vietnã – superestimando os vietnamitas do sul e subvalorizando o Vietcong -, a espionagem dos Estados Unidos subestimou a ascensão do autodenominado Estado Islâmico (EI) no Iraque e na Síria e confiou equivocadamente na capacidade das forças de segurança iraquianas para fazer frente à ameaça representada pelos extremistas sunitas.

Em uma entrevista transmitida na noite de domingo no lendário programa 60 Minutes, da CBS, o presidente Barack Obama admitiu esse erro, citando o diretor nacional de inteligência, Jim Clapper, que há duas semanas reconheceu que a espionagem norte-americana tinha se enganado ao subvalorizar o EI.

“Não fomos capazes de prever que as forças iraquianas no norte do país entrariam em colapso”, disse Clapper em 18 de setembro ao The Washington Post, referindo-se ao avanço jihadista. “Não fomos capazes de prever sua disposição para lutar, e isso sempre é um problema”, afirmou. “Não fizemos isso no Vietnã”, concluiu o diretor de inteligência, estabelecendo um paralelismo entre aquela guerra que transformou os Estados Unidos e o conflito que levou Obama de volta a uma região e a uma disputa que ele acreditava ter deixado para trás.

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O presidente utilizou a admissão de fracasso de Clapper. “Está certo, está absolutamente certo”, disse o mandatário. “Jim Clapper reconheceu que eu acredito que eles [a comunidade de inteligência] subestimaram o que estava ocorrendo na Síria”, manifestou Obama.

As declarações do presidente explicam agora, em parte, um comentário feito por ele no início do ano, publicado na The New Yorker, e que lhe gerou algumas críticas. Em janeiro, o mandatário comparou os jihadistas do EI com um time de segunda divisão, ao dizer ao jornalista David Remnick que, mesmo que os aspirantes colocassem a camisa de Kobe Bryant, jamais se transformariam nos Lakers.

“Basicamente, o que aconteceu com o EI foi que havia a Al Qaeda no Iraque, que era um grupo atroz, mas que nossos soldados foram capazes de sufocar com a ajuda das tribos sunitas”, explicou o presidente, no domingo, ao veterano jornalista da CBS Steve Kroft. “Eles desapareceram, mas durante os últimos dois anos, com o caos e a guerra civil na Síria, onde vastas partes do país estão sem governo, eles foram capazes de se reconstruir e de usar o caos a seu favor”, analisou Obama.

Na entrevista com a CBS, Obama afirmou que o Estado Islâmico se reagrupou e recrutou combatentes estrangeiros vindos da Europa, dos Estados Unidos, da Austrália e de outras partes do mundo muçulmano, o que significa que a Síria se tornou o epicentro, “o marco zero dos jihadistas de todo o mundo”.

Em janeiro, Obama dizia que o EI era como um time amador e que dar a eles camisetas de Kobe Bryant não os transformaria nos Lakers

O mandatário disse que os extremistas sunitas fizeram uso de uma campanha publicitária “muito inteligente” através das redes sociais e que contam com uma certa estrutura militar tradicional por terem admitido membros do Exército derrocado de Saddam Hussein. Mas Obama não deu margem para erros quanto às atuais intenções da Casa Branca em relação ao EI. “Temos que encurralá-los, reduzir seu espaço, perseguir seus líderes, interromper seu financiamento, destruir suas armas e cortar seu fluxo de jihadistas estrangeiros”, afirmou.

O presidente foi bastante enfático ao declarar que os EUA não estão lutando mais uma guerra. “Estamos assistindo no Iraque a uma batalha muito real que está ocorrendo em seu território, com as tropas deles. Nós só estamos dando apoio aéreo, e o fazemos, aliás, em nosso próprio interesse”.

O presidente da Câmara dos Representantes não concorda com a estratégia de Obama. No domingo de manhã, horas antes da transmissão da entrevista com o presidente, John Boehner declarou que existe a possibilidade de não haver treinamento para as forças iraquianas disputarem a batalha que é necessária travar em terra. “Os soldados de alguém vão ter de estar ali”, disse Boehner. Quando foi perguntado se as tropas norte-americanas deveriam ser as que darão um passo adiante quando ninguém mais o fizer, respondeu: “Não temos outra escolha. Essa gente é um grupo de bárbaros. Pretendem nos assassinar, e se não os destruirmos antes vamos pagar um preço alto por isso”.

Lembrou que os EUA são fundamentais para a coalizão contra o jihadismo: “Quando há problemas em qualquer lugar do mundo, não chamam Pequim nem Moscou. Chamam a nós”

Sem abandonar a linha multilateral iniciada e de compromisso com os Governos da região, Obama insistiu no envolvimento de mais países no conflito assim como na necessidade de se obter uma solução política para que a paz seja duradoura. “Temos que chegar a soluções políticas no Iraque e na Síria, concretamente, mas no Oriente Médio de maneira geral”, afirmou. Para o presidente, o mundo está diante de “um desafio para toda uma geração”, no qual deveria ser mais importante que um jovem se preocupe em ter uma boa educação e não em ser sunita ou xiita.

Obama lembrou mais uma vez o papel dos EUA como “nação imprescindível” dentro da coalizão internacional criada para combater o EI “porque quando há problemas em qualquer lugar do mundo, não chamam Pequim ou Moscou, chamam a nós”.

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