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Medo de perder conquistas favorece Dilma

Apesar de 70% dos brasileiros afirmarem que querem “mudar”, na hora de votar, o conhecido inspira mais confiança

Juan Arias
A presidenta Dilma em uma coletiva em Brasília.
A presidenta Dilma em uma coletiva em Brasília. UESLEI MARCELINO (REUTERS)

Nem sempre a História se repete. Nessas eleições, por exemplo, está acontecendo o oposto do que ocorreu em 2002, quando Luiz Inácio Lula da Silva conquistou a Presidência da República.

Naquela época, os brasileiros tinham medo de Lula. Era a esquerda que chegava ao poder e o sindicalista havia ganhado com a estratégia de “vencer o medo com a esperança”.

Hoje, o PT trouxe de volta às eleições aquele medo que tinha impedido Lula de vencer três vezes a disputa pelo cargo. E, ao contrário do que houve antes, a arma de difundir entre os eleitores de classe baixa o medo em relação à candidata rival, a ambientalista Marina Silva, apresentada como a amiga dos banqueiros, a preferida pelos ricos e aquela que poderia retirar dos mais pobres o que já conquistaram, está dando resultados positivos para Dilma Rousseff.

A já mítica classe C, formada por esses mais de 30 milhões de brasileiros que conseguiram saltar a linha da pobreza e passar para o mundo do consumo, aparece ainda, de maneira geral, sensível ao medo de perder o que já conquistaram.

Apesar disso, os filhos dessas famílias, que já estudaram, são mais críticos que seus pais e já demonstraram, durante as manifestações de 2013, que querem não só programas assistenciais, mas melhorias estruturais para poderem dar um verdadeiro salto social.

Esse medo de perder as conquistas sociais está, efetivamente, dando resultados entre os eleitores dos estados mais pobres como os do Nordeste, para os quais a maioria dos debates eleitorais teóricos, como os da independência do Banco Central, o maior ou menor crescimento do PIB e a flutuação cambial do dólar têm muito menos importância do que a vida real das famílias.

Como afirmou o candidato ao senado pelo Estado do Rio de Janeiro Cesar Maia o que interessa aos mais pobres “é o que entra ou sai de seus bolsos”, o que podem colocar na mesa para eles e os filhos e a segurança do emprego.

Tudo isso, apesar da inegável crise econômica que o país vive e da série de escândalos de corrupção que o PT acumula, sobretudo no caso da Petrobras, continua a ter um forte peso na hora de os eleitores decidirem o voto.

Por isso, apesar de 70% dos brasileiros afirmarem que querem “mudar”, e mesmo que a bandeira da mudança esteja nas mãos de Marina, como afirmou o senador Cristovam Buarque em entrevista ao EL PAÍS, na hora de votar, o conhecido inspira mais confiança – por mais que possa estar em crise – do que o desconhecido, sobretudo quando é apresentado como exterminador do que já foi conseguido.

É verdade que um segundo turno, caso ocorra, supõe uma nova eleição, já que os dois adversários vão dispor, igualmente, de armas para se enfrentarem, e com isso o cenário poderia mudar.

Hoje, no entanto, entre os eleitores, o medo aparece de maneira mais forte, como o demonstra a alta contínua de Dilma nas pesquisas de intenção de voto e a perda de consensos de Marina. Esse medo do ponto de interrogação começa a ser mais eficaz do que a esperança de uma mudança para melhorar as conquistas obtidas nos últimos 12 anos. Melhorias que, sem dúvida, não foram pequenas, sobretudo para os que nunca haviam tido nada.

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