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A Telefônica quer reinar no Brasil

O grupo de César Alierta quer comprar a GVT para liderar o maior mercado da América Latina, ultrapassando o rival Carlos Slim

Ramón Muñoz
César Alierta no conselho de acionistas da Telefônica.
César Alierta no conselho de acionistas da Telefônica.Uly Martin (EL PAÍS)

A Telefônica não só quer se tornar mais brasileira, mas também reinar no país. Custe o que custar. A operadora acaba de lançar uma oferta de 22 bilhões de reais para adquirir a Global Village Telecom (GVT), uma subsidiária de banda larga e telefonia fixa da Vivendi. Se fechar o negócio, o Brasil será, de longe, o país ao qual a multinacional espanhola destinou mais recursos para ganhar tamanho, já que a compra da O2, em 2005, por 25 bilhões de euros, incluía ativos em vários países europeus. Somente nos últimos quatro anos, a empresa desembolsou 15 bilhões de euros após a aquisição, em 2010, de 50% da Vivo, então em mãos da Portugal Telecom.

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Dizem que o Brasil é a obsessão de César Alierta desde que se tornou presidente do grupo há mais de uma década, porque o vê como o país com o maior potencial para gerar crescimento, em comparação com os mercados europeus demasiado saturados. Foi o que admitiu ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já participou de apresentações da empresa. E embora não goste muito de viagens protocolares nem de reuniões, o presidente não se importa de viajar regularmente ao Brasil, porque se sente à vontade. E porque quer conhecer de perto aquele que está prestes a se tornar o principal mercado do grupo.

De fato, apesar de uma ligeira diferença, a Espanha continua sendo o país líder em receita e lucro operacional bruto (EBITDA) do grupo, segundo as contas do primeiro semestre deste ano. Se a compra da GVT se concretizar, o Brasil, que hoje representa cerca de 22% do faturamento e do lucro total, ocupará a primeira posição.

Mas essa liderança interna é apenas uma anedota, porque o que a Telefônica realmente quer é mandar no Brasil. A operadora espanhola está convencida de que, apesar da morna oposição do Governo e dos reguladores, o mercado no país caminha para a consolidação: menos concorrentes e mais competitivos. Das cinco grandes empresas atuais – Telefônica, América Móvil, Oi (Portugal Telecom), TIM (Telecom Italia) e GVT (Vivendi) – devem restar três, segundo o consenso dos analistas.

Os analistas apontam para um mercado com apenas três empresas

A compra da GVT é apenas um primeiro passo nesse processo de consolidação. A próxima a cair pode ser a TIM. E o fracasso da Telecom Italia em sua tentativa de adquirir a subsidiária da Vivendi deixa-a isolada, com presença apenas no mercado de telefonia móvel. A reação irada dos italianos acusando a Vivendi de ter combinado tudo de antemão com a Telefônica (“em uma representação teatral”, disseam) dá uma ideia do seu nervosismo. E a Oi, a quarta operadora fruto da fusão com a Portugal Telecom, está prestes a lançar uma oferta hostil sobre sua subsidiária TIM, como anunciou esta semana.

Gráfico do mercado brasileiro de telecomunicações, com a fatia de mercado de cada empresa no país. Fontes: Telefónica, companhias e Anatel.
Gráfico do mercado brasileiro de telecomunicações, com a fatia de mercado de cada empresa no país. Fontes: Telefónica, companhias e Anatel.

Dados os problemas financeiros da Oi, os analistas sugerem que, na realidade, a operação conta com o apoio tácito da Telefônica e da América Móvil: uma vez concluída a aquisição, seriam partilhados os ativos mais suculentos TIM. “Acreditamos que a Telefônica ainda tem capacidade de participar em qualquer oportunidade de consolidação móvel que se apresente no Brasil”, diz um relatório do Santander. O compromisso de reduzir a dívida que a Telefônica tem com os seus acionistas não parece ser um problema, graças à engenharia financeira.

Tanta concentração não agrada ao Governo e aos consumidores

Esse mercado dominado por dois gigantes multinacionais (Telefônica e América Móvil), com um operador local de convidado (Oi), não convence o Governo brasileiro nem as associações de consumidores. “Com a quarta operadora absorvida pela Telefônica, a liberdade de escolha dos consumidores e a possibilidade de queda dos preços são diretamente afetadas”, disse Veridiana Alimonte, do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC).

Portanto, a Telefônica deve estar muito atenta às decisões da Anatel e do autoridade da concorrência, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE), que devem dar o seu aval à operação.

Uma operação ideal para os ‘pacotes combo’

No Brasil eles ainda não são tão populares como na Espanha, mas deverão ter o mesmo sucesso de pacotes de serviços como o Fusion, que em uma única tarifa oferecem telefonia móvel, fixa, banda larga e televisão. A Telefônica quer transplantar o modelo dos pacotes combo, e, para esse propósito, a compra da GVT cai como uma luva.

A fórmula mostrou ser a mais eficaz para reduzir os preços e ampliar os serviços de telecomunicações. Mas em um país tão extenso como o Brasil, e tão populoso, os outros mercados, como o da infraestrutura, ainda não estão desenvolvidos. Por isso, ainda é difícil vender os pacotes de serviços, exceto nas grandes cidades.

A GVT é muito poderosa, especialmente na banda larga, com mais de 2,5 milhões de clientes, e capacidade de chegar a 10 milhões de lares. Além disso, é geograficamente complementar à Vivo, já que opera em 13% dos municípios em 21 estados e 92% de seus clientes estão fora de São Paulo, onde a subsidiária da Telefônica tem maior presença.

Além disso, a integração dos dois grupos daria à Telefônica o terceiro lugar do mercado de televisão por assinatura, com 1,48 milhão de clientes e 7,8% de participação de mercado.

O grupo espanhol calcula que a nova Telefônica Brasil, que sairá da integração com a GVT, criará um novo líder capaz de gerar 29% das receitas do setor. E resultará em sinergias de até 4,7 bilhões de euros procedentes da combinação de redes, do aumento de renda, da televisão e da nova estrutura corporativa.

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