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Crise do Governo na França

Hollande pede que Valls forme um Governo “coerente e solidário”

O novo Executivo francês será anunciado nesta tarde em meio à crise de Governo

Carlos Yárnoz
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, junto ao presidente Hollande.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, junto ao presidente Hollande.Christophe Ena (AP)

O presidente da França, François Hollande, exigiu do primeiro-ministro Manuel Valls que o novo Governo do país seja “coerente e solidário”, o que pode ser entendido como o desejo de um gabinete sem vozes discrepantes que manifestem em público suas ideias contrárias às linhas políticas mais importantes do Executivo. São essas divergências internas que, na segunda-feira, provocaram uma crise de Governo sem precedentes na França: a demissão de todo o gabinete apresentado por Valls, que durou apenas 147 dias no poder, e não só daqueles poucos ministros mais críticos. Hollande e Valls, que têm mantido contato permanente desde domingo, fecharão a composição do novo Governo no início desta tarde.

A crise culminou na segunda-feira com a auto-exclusão pública de três ministros: Arnaud Montebourg, da Economia; Benoît Hamon, da Educação; e Aurélie Filippetti, da Cultura. Os três se adiantaram à vontade da dupla Hollande-Valls de afastá-los do Governo. As críticas públicas de Montebourg e Hamon às profundas reformas econômicas empreendidas por Hollande e executadas por Valls foram a gota d’água que resultou no atual cenário político em pleno período de fim de recesso.

Ainda na segunda-feira, Filippetti declarou à rede de televisão BMFTV que a decisão de comunicar a Valls seu desejo de não integrar o próximo Governo “foi muito difícil”, mas afirmou que discorda do desequilibrado reparte do ajuste previsto nas reformas. De fato, o Pacto de Responsabilidade apresentado por Hollande prevê para as empresas algumas vantagens fiscais e de contribuições sociais em um total de 41 bilhões de euros (123 bilhões de reais), enquanto para as famílias estão sendo planejados descontos fiscais da ordem de 5 bilhões de euros. Esse foi o principal argumento empunhado por dezenas de deputados socialistas rebeldes para se opor às reformas, e que, na segunda-feira, foi reiterado por Montebourg em seu discurso de despedida.

As apostas sobre a nova composição do Executivo são escassas e discrepantes. A maioria delas coincide em apenas um ponto: a hipótese de que os ministérios mais importantes, o de Economia (até agora nas mãos de Montebourg) e o de Finanças, cujo titular é o ortodoxo Michel Sapin, acabem sendo fundidos e fiquem sob o controle deste último. Seria um sinal positivo para Bruxelas e para Berlim, que não baixam a guarda na hora de exigir uma rígida disciplina orçamentária à França, para que o país reduza seu déficit e sua dívida, uma meta criticada duramente por Montebourg.

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