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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

O dilema do Ocidente

O pagamento de resgate de sequestrados por jihadistas põe os Governos diante de uma dura opção

A exigência de um resgate equivalente a 300 milhões de reais em troca da vida de James Foley aumenta ainda mais a vilania, se isso for possível, do assassinato do jornalista norte-americano perpetrado pelo Estado Islâmico (EI). Uma semana antes de tornar público um vídeo com a decapitação do jornalista, a organização enviara um e-mail à sua família exigindo a quantia, obviamente impossível de ser paga por qualquer cidadão mediano, mas ao alcance do Governo dos Estados Unidos. Washington –que no final do semestre passado enviou sem sucesso forças especiais ao Iraque para resgatar os reféns– se manteve firme na linha que seque nesses casos: não há negociação possível com o terrorismo, nem concessão alguma à chantagem. Em sua verborragia autojustificativa, o carrasco do EI afirmou matar Foley em resposta aos bombardeios norte-americanos contra suas posições no Iraque. Nenhuma menção foi feita, claro, ao dinheiro.

Nunca se saberá se Foley teria sido decapitado do mesmo jeito no caso de ter sido pago o resgate, mas do que não resta nenhuma dúvida é que os sequestros de civis ocidentais se transformaram em uma lucrativa fonte de financiamento para diversos grupos terroristas jihadistas. E, diante dessa situação, a resposta da comunidade internacional tem sido desigual. Oscila entre a negativa absoluta a qualquer tipo de negociação, passando pelo recurso a intermediários locais ou internacionais que ajudem a desbloquear a situação –como fez a Espanha no caso do sequestro em 2008 de uma voluntária na Somália– e terminando naqueles casos nos quais se supõe que os Governos, sem fazer publicidade disso, tenham decidido pagar o resgate de seus cidadãos.

Nenhuma das opções é fácil e todas produzem dilemas não só de caráter moral, mas também político e de segurança. Em princípio, nenhum Estado de direito pode descer à chantagem dessas organizações criminosas. Mas para ser eficaz essa posição tem de ser acompanhada de um compromisso quase total entre os países democráticos em não transigir, por mais que as circunstâncias sejam complicadas e dolorosas. Apesar da dor que os sequestros causam aos cidadãos, eles não podem servir para financiar novos atos criminosos contra as mesmas sociedades que pagam os resgates. As organizações jihadistas sem dúvida têm outras fontes de financiamento, mas o ideal seria que a dos sequestros fosse definitivamente encerrada.

No entanto, a realidade sempre é mais complexa que os princípios abstratos, por mais fortes que sejam. Cada sequestro é diferente, como também o país a que pertence cada sequestrado, e cada organização que perpetra o crime. Julgar os diferentes Governos, aplaudindo uns e condenando outros pelo que fazem nessas situações, não conduz a nada. Só dificulta mais a necessária coordenação internacional ante essa praga. E, por fim, alegra os terroristas pela patente divisão criada.

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