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O presidente da Colômbia vê com “bons olhos” o uso medicinal da maconha

Juan Manuel Santos acena positivamente ao projeto de lei que o senador liberal Juan Manuel Galán apresentou há duas semanas no Congresso

O presidente Santos em um discurso nesta quinta.
O presidente Santos em um discurso nesta quinta.Juan apblo bello (EFE)

As palavras do presidente Juan Manuel Santos são um aceno positivo ao projeto de lei que o senador liberal Juan Manuel Galán apresentou há duas semanas ao Congresso. Galán quer que o uso medicinal da maconha seja legalizado. “Vemos com bons olhos sua iniciativa sobre a utilização medicinal e terapêutica da maconha”, disse o presidente em um evento em que se debatia os avanços da política de drogas. Para Santos, não se trata apenas de uma medida “compassiva”, que pode ajudar a reduzir a dor de pacientes com doenças terminais, mas uma forma de “começar a tirar das mãos dos criminosos a intermediação entre o paciente e uma substância que vai aliviar seu sofrimento”, segundo disse nesta quinta-feira em Bogotá.

A proposta de Galán deu início a toda uma polêmica sobre se a Colômbia está preparada para dar esse passo. O senador, filho do candidato à presidência de 1989, Luis Carlos Galán, assassinado pelas máfias do narcotráfico, tinha conseguido que o Congresso sancionasse uma lei que reconhece o vício das drogas como uma doença, e agora aposta que se regulamente o consumo da cannabis com fins paliativos, com base em estudos como o do National Institute on Drug Abuse dos Estados Unidos, que sustenta que a maconha é uma substância menos viciante do que outras como cafeína e álcool.

Galán propõe que a Colômbia desenvolva um modelo próprio e que não o importe. “É fundamental reconhecer as características particulares de nosso país, o perfil epidemiológico de seus habitantes, as condições de cultivo e produção interna e as recentes estatísticas de consumo em idade precoce, para desenvolver um modelo próprio, a partir de dados clínicos e científicos obtidos no território nacional”, escreveu logo que apresentou seu projeto de lei ao Congresso. O parlamentar defende sua iniciativa legislativa argumentando que o uso da maconha para aliviar a dor tem conotações “humanitárias”.

Mesmo assim, setores de direita e a própria igreja acreditam que seria abrir a porta para a legalização das drogas e uma contradição a décadas de luta que custaram milhares de mortos ao país. Um dos senadores do Centro Democrático, Alfredo Rangel, disse que a Colômbia está longe de entrar em uma cultura do consumo responsável e que, pelo contrário, o consumo poderia aumentar. Outros falam de “efeitos colaterais”.

Mas além de respaldar o uso terapêutico da maconha, Santos insistiu em ampliar o debate que vem acontecendo no mundo sobre a guerra contra as drogas. O presidente colombiano disse que essa luta não tem tido sucesso e a comparou a pedalar uma bicicleta estática. “A pessoa faz um grande esforço, transpira, mas olha à esquerda, olha para os dois lados, e tudo continua igual ou às vezes pior. Não importa quanto se esforce, como não se move, a coisa continua. O flagelo não desaparece”, disse. E acrescentou que o sucesso relativo que a Colômbia teve nessa luta fez com que “a espiral de violência e corrupção associada ao problema das drogas ilícitas se transfira a outros países”.

O presidente defendeu, como tem feito em outros cenários, um novo enfoque para enfrentar o problema das drogas, no qual a Colômbia, por sua experiência na luta contra o narcotráfico, tem uma certa “autoridade moral” para participar dessa discussão. “Precisamos – e quando digo ‘precisamos’ falo do mundo inteiro— de um novo enfoque.”

O fracasso da luta contra as drogas é também uma percepção compartilhada pelos líderes de opinião na Colômbia. Segundo uma pesquisa recente, realizada pela Fundação Ideias para a Paz, 69% dos entrevistados votam no fracasso e apenas 8% no sucesso. A grande maioria defende a reforma da política de drogas, e a regulamentação é o modelo que mais tem adeptos.

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