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A Rússia pode liberar uma exportação recorde de carne brasileira

Após o veto de Putin a alimentos dos EUA e da Europa, 89 estabelecimentos do Brasil foram liberados para a venda de carnes, aves e laticínios

Marina Rossi
Criação de gado em São Félix do Xingu, no Pará.
Criação de gado em São Félix do Xingu, no Pará.Fernando Bizerra Jr. (EFE)

O serviço sanitário russo autorizou nesta quinta-feira a liberação recorde de 89 estabelecimentos brasileiros para a exportação de carnes e laticínios à Rússia. A habilitação desses estabelecimentos se dá a toque de caixa no mesmo dia em que o presidente Vladimir Putin anunciou o veto à importação de alimentos dos Estados Unidos e de alguns países da Europa. O veto é uma resposta às sanções desses países à Rússia, em função da crise ucraniana. A interrupção das relações comerciais com os antigos parceiros tem validade de um ano, podendo ser revista antes desse prazo.

A notícia animou o mercado exportador brasileiro. “Isso é surpreendente, nunca se chegou a tanto”, diz José Augusto Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil. “A Rússia sempre foi reticente ao país, erguendo barreiras fitossanitárias”, explica. Castro prevê que o Brasil pode faturar 500 milhões de dólares com as exportações ao mercado russo. “O mais importante para os exportadores brasileiros agora é ganhar o mercado e mantê-lo depois desse um ano de sanção”, diz.

O vice-presidente de aves da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin, acredita que o episódio está mostrando que o Brasil é um porto seguro. “Temos condições de fornecer carne para a Rússia pelo período que eles precisarem, seja de um ano ou mais”, diz Santin. Apenas com a venda de carne suína e de frango os produtores devem garantir uma receita de 200 a 300 milhões de dólares.

A carne de frango é a que tem as melhores condições de ganhar mercado na Rússia. “Enquanto um suíno leva de oito a dez meses para ficar pronto para o abate, o frango precisa de cerca de 45 dias”, explica. Hoje, 36% da carne de porco brasileira que é exportada vai para a Rússia, enquanto o frango representa entre 4% e 5%. “Por isso há mais espaço para o crescimento”, diz.

A boa notícia para o comércio exterior, porém, pode afetar o mercado interno brasileiro, já que, se a demanda aumentar, o preço da carne no Brasil também deve subir. “Se tivermos um comprador retirando uma quantidade grande e inesperada de carne, haverá um reflexo [no mercado interno]”, avalia. “Mas a cadeia tem um estoque. Não vai faltar comida para o brasileiro, mas haverá sim uma readequação dos preços”.

Rússia já é o principal destino das exportações brasileiras de carnes suína e bovina. Apenas de carne bovina in natura, foram 303.000 toneladas em 2013, gerando 1,2 bilhão de dólares em receitas. De carne suína, foram exportados 134.000 toneladas, com receita na ordem de 412 milhões de dólares. Ao todo, a venda de itens agropecuários para o mercado russo - que inclui café, açúcar, soja, entre outros -, garantiu o ingresso de 2,72 bilhões de dólares.

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