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O mistério das bombas que o Chile não consegue resolver

Um total de 26 ataques foi registrado somente neste ano O caso mostra a fragilidade dos serviços de inteligência do país

Rocío Montes
Busca de provas após o ataque à embaixada britânica, em 2007.
Busca de provas após o ataque à embaixada britânica, em 2007.víctor ruiz (REUTERS)

Um problema inesperado e complexo entrou nas prioridades do governo de Michelle Bachelet, que nada tem a ver com sua agenda de reformas no Chile: a volta dos atentados com explosivos em Santiago, atribuídos a grupos antissistema.

O primeiro dos ataques, com o qual foi inaugurado o que no Chile se conhece como o caso Bombas, aconteceu em um supermercado em 2005. Desde então, com períodos de maior e menor intensidade, os autores não deixaram de atuar. Só há dois condenados pelos 198 ataques. Embora até o momento não houve mortos - a não ser o autor de um dos ataques, cujo artefato explodiu - o conflito preocupa as autoridades. Só este ano aconteceram 26 ataques. Um deles acendeu todos os alarmes do Executivo e da polícia: ocorreu no dia 13 de julho em uma estação do metrô de Santiago em uma hora na qual ainda havia passageiros, algo que nunca tinha acontecido antes. Uma semana depois o objetivo era uma creche. O artefato foi desativado antes de explodir.

Só duas pessoas foram condenadas, depois de quase 200 ações

Com este pano de fundo, o ministro do Interior, Rodrigo Peñailillo, participou nesta segunda-feira de uma reunião sobre segurança no Senado que durou cerca de 10 horas e contou com a intervenção das principais autoridades do sistema judicial e penal. O Governo aproveitou a ocasião para anunciar uma completa reforma do sistema nacional de inteligência com a intenção de modernizá-lo frente a ameaças como o terrorismo, o crime organizado e o narcotráfico.

A preocupação do Governo com a inteligência chilena não é casual. O fato de que em nove anos estes grupos não tenham sido desarticulados reflete a incapacidade de perseguição da polícia, os problemas da Lei Antiterrorista vigente, cuja reformulação é estudada por um grupo de especialistas convocados por Bachelet e o infrutífero trabalho de informação.

Das 26 bombas que foram colocadas este ano, quatro chegaram a explodir. O último caso aconteceu na madrugada de 22 de julho na frente do igreja de Santa Ana, localizada no centro de Santiago. O explosivo, de fabricação caseira, encontrava-se dentro de uma mochila. A polícia encontrou panfletos de grupos anarquistas que solicitavam a liberação de dois chilenos processados por terrorismo na Espanha por terem explodido um artefato na Basílica de Pilar de Zaragoza em outubro passado.

A metade dos atentados foi reconhecida por cerca de 30 grupos anarquistas

A pedido do governo de Bachelet, desde a semana passada foi designado um promotor com dedicação exclusiva para investigar a sucessão de ataques. A situação preocupa pois, como não havia acontecido até a data, os ataques em 2014 têm características diferentes: foram produzidas em horários comercial e em lugares onde normalmente transitam pessoas.

De acordo com estatísticas policiais, dadas a conhecer pelo jornal El Mercurio, dos 198 artefatos instalados desde 2005, um total de 133 chegou a explodir.

Este ano foi registrada a taxa mais alta de incidentes. A metade dos atentados foi reconhecida por 31 grupos anarquistas que, até agora, quase sempre explodem as bombas perto da meia-noite. Mostram preferência por determinado tipo de objetivos: bancos, quartéis policiais, do Exército, igrejas e supermercados. Em 81 dos casos, os grupos utilizaram extintores e a pólvora negra é o elemento mais comum. De acordo com o mesmo relatório, das 11 pessoas levadas a julgamento, só uma está presa.

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