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Djokovic vence Wimbledon e arrebata o primeiro lugar do mundo de Nadal

O sérvio derrotou Roger Federer na final do torneio por três sets a dois e encerrou um jejum de conquistas de Grand Slam que já durava um ano e meio

Juan José Mateo
Djokovic levanta o troféu de campeão de Wimbledon.
Djokovic levanta o troféu de campeão de Wimbledon.GLYN KIRK (AFP)

Novak Djokovic não permitiu que Roger Federer completasse sua viagem no tempo. Ao marcar 6-7, 6-4, 7-6, 5-7 e 6-4 na final de Wimbledon, o sérvio não apenas arrebatou o primeiro lugar do mundo de Rafael Nadal, como venceu seu sétimo Grand Slam e evitou que o suíço convertesse em realidade o que anunciou grande parte do jogo: que no século XXI ainda é possível ganhar títulos do Grand Slam competindo como quando se inventou o jogo, de sutileza em sutileza, com a rede sempre como objetivo e usando a ligeira caneta do poeta em uma época na qual quem manda é o pesado teclado do romancista. Apesar da derrota, o campeão de 17 Grand Slams fez uma partida à altura do rei do Olimpo do tênis. Conseguiu quebrar o saque de seu rival no quarto set, salvando o ‘match point’ quando Djokovic sacou para o título. Teve a primeira bola de ‘break’ na quinta parcial e descontou três em 4-3, com um saque-voleio no segundo serviço. Só caiu após quase quatro horas de partida. O sérvio , então, comemorou seu épico e magnífico triunfo.

Djokovic, no final ante Federer
Djokovic, no final ante FedererCARL COURT (AFP)

Perto de completar 33 anos, o campeão de 17 Grand Slams enfrentou o desafio de aumentar sua lenda. Já na primeira jogada do encontro encaixou uma bola junto à rede, combinação pouco usada no tênis por seu elevado risco. Animado por Stefan Edberg, seu treinador, o suíço se atreveu a subir para a rede com assombrosa frequência. O gênio, que jogava indo para a frente 50% dos pontos em 2003, abandonou o jogo de fundo de quadra que adotou desde 2006 (5%) e voltou a apostar na subida (quase 30% dos pontos disputados desta forma nesta quinzena). É Federer comandando o Sétimo da cavaleira, Federer atacando como se fosse sua vida em disputa, Federer querendo tirar o tempo de Djokovic para evitar que o sérvio comece a correr e o esgote. Djokovic, um passador excepcional, ficou engasgado com esta tática. Nunca ficou mais evidente sua incapacidade para subir à rede do que neste jogo, quando por vezes Federer devolvia seus golpes com uma bola fraca e curta, e o sérvio ficava no fundo sem aproveitar este convite para tentar um voleio.

O perigo, entretanto, sempre ronda o suíço. Quando chega o tie-break, Federer teve de tomar uma decisão: seguir arriscando quando sabia que cada bola valia seu peso em ouro, ou voltar aos velhos hábitos. Elegeu a segunda. Em todo o tie-break, o heptacampeão subiu apenas uma vez para a rede. Ocorre que Djokovic, derrotado em cinco das últimas seis finais de Grand Slam que disputou, sentiu a pressão crescer da mesma forma que se estivesse preso em areia movediça e não tivesse ninguém que o ajudasse a sair. A primeira bola do set foi sua. Com ela começou a precisar seguidas vezes de seu segundo serviço, sinal da tensão que apertava seu pulso. Federer levou a parcial, e comemorou acompanhado do público da arquibancada, que torcia em seu apoio e o aplaudiu para empurrá-lo para o recorde de oito títulos de Wimbledon.

A vitória do sérvio acaba com mais de um ano de seca e fecha a ferida de cinco finais grandes perdidas de seis últimas que disputava

Djokovic, de qualquer forma, sabia que para todo caso existe uma exceção. Que a beleza da subida para a rede implica no sucesso das passadas do adversário. Que se continuasse sólido, insistisse, a lei de probabilidades ditaria que Federer acabaria tendo seu saque quebrado pois é impossível competir sem falhas quando sempre se joga utilizando a roleta russa. As primeiras bolas de quebra chegaram no primeiro game de saque do suíço na segunda parcial. A primeira quebra, no segundo. E então, com cada rival somando uma parcial apesar da bola de break conquistada pelo suíço com 5-4, o duelo mudou.

Federer, na final com Djokovic
Federer, na final com DjokovicAl Bello (Getty Images)

Apesar de todos os esforços de Federer, os dois primeiros sets duraram mais de 1h e 30 m. Sob os olhares dos duques de Cambridge, acompanhados no Camarote Real por lendas como Rod Laver e Manuel Santana, e atrizes como Elsa Pataky, o heptacampeão sofreu. O saque (mais de 25 aces, incluindo um para salvar um match-point) o manteve na partida contra o melhor recepcionista do mundo. É Djokovic, entretanto, quem foi tomando as rédeas da partida, porque Federer foi perdendo consistência e confiança. É preciso ter muito fôlego para passar cinco sets sacando a mais de 190 quilômetros por hora e indo para frente o tempo todo. É preciso ter uma capacidade mental colossal para saber escolher com acerto em qual bola subir e em qual bola esperar quando o relógio conta já com várias e várias horas de jogo. É preciso ser, finalmente, um gênio como Federer para que seu plano demore tanto para fracassar, porque o que o suíço faz é mágico, é colorir o velho tênis em branco e preto.

O seguro jogo de fundo de quadra de Djokovic acabou impondo-se ao jogo de ataque de Federer. Após o primeiro set, o sérvio foi conquistando uma por uma todas as áreas da partida. Primeiro começou a sacar excepcionalmente. Digeriu logo a perda do primeiro set e uma torcida de tornozelo com fortaleza de espírito. Conquistou a linha de fundo. Equilibrou com suas passadas os ataques de Federer. Conseguiu fazer com que o jogo deixasse de ser um sprint para ser um duelo em ritmo alto. E, quando o suíço apenas defendia o saque, aplicou seu famoso golpe para ganhar o duelo. Pouco a pouco, desarmou Federer.

Sua vitória acabou com mais de um ano de seca e cicatriza a ferida de cinco finais de Grand Slam perdidas das últimas seis que disputou. Custou-lhe sangue, suor e lágrimas levantar os braços, com dúvidas após tantos tropeços em finais decisivas em sua carreira, o que lhe custou um quarto set praticamente ganho (Federer salvou o break de desvantagem e voltou a quebrá-lo quando sacava para o título; “Roger!”, “Roger!”, gritavam as arquibancadas). Coroado e de novo no trono que o coloca como o melhor tenista do mundo, Djokovic jogará agora o circuito de cimento norte-americano, um de seus territórios preferidos, com ventos favoráveis: que trema o circuito.

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