_
_
_
_
_

Manifestantes pressionam Kiev para a guerra

As negociações entre a Rússia e a Ucrânia para prolongar a trégua continuarão nesta segunda. Cinco militares morreram um dia antes do fim do cessar-fogo

Pilar Bonet

O presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, sofreu neste domingo pressões em sentidos opostos. Enquanto os líderes da Rússia, Alemanha e França lhe pediam por telefone que prolongasse o cessar-fogo no leste do país, os cidadãos impacientes, entre eles combatentes dos separatistas, voltaram a se manifestar no Maidan de Kiev (a praça da Independência) para exigir que o Governo continuasse com a “operação antiterrorista” e pedisse novas sanções internacionais contra a Rússia.

Na região de Donbas (onde se localizam as províncias de Lugansk e Donetsk), a morte de mais de uma dezena de pessoas entre sábado e domingo, segundo fontes pró-governamentais ucranianas, mostrou que a trégua não está sendo respeitada. Cinco soldados do Exército morreram (três em um ataque a um posto de controle perto de Slaviansk e dois em uma emboscada em Lugansk) e pelo menos 17 ficaram feridos, conforme informou o Canal 5, emissora de Poroshenko, citando o representante do Estado-Maior Aleksei Dmitrashkivski. Além disso, tiroteios em um bairro de Slaviansk teriam deixado mais oito mortos, segundo a página da Inforesist (resistência informativa) na internet. Se não for estendido, o cessar-fogo expira às 22 horas desta segunda-feira.

Mais informações
Bruxelas dá um ultimato para que a Rússia se comprometa com a paz
Cinco militares mortos na Ucrânia um dia antes do término do cessar-fogo
Cessar-fogo até 27 de junho entre Kiev e os separatistas do leste da Ucrânia

Poroshenko conversou por telefone com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, com a chanceler alemã, Angela Merkel, e com o presidente da França, François Hollande. Os três o exortaram a interromper os combates no leste do país, informou a agência Interfax, citando o serviço de imprensa do Kremlin. A conversa durou mais de duas horas, segundo o Palácio do Eliseu.

Poroshenko pediu que Putin reforce a vigilância da fronteira russa para impedir que combatentes e mercenários entrem em território ucraniano, e também que recebam armas e equipamento blindado, informou o serviço de imprensa do presidente ucraniano. Os líderes mantiveram sua primeira conversa telefônica coletiva em 25 de junho e haverá outra nesta segunda-feira.

Como desejavam os europeus, Poroshenko determinou que o chefe do serviço de proteção fronteiriça da Ucrânia mantenha consultas com seus colegas russos “para garantir um mecanismo de controle efetivo na fronteira entre Ucrânia e Rússia”, segundo um comunicado da presidência.

“A Ucrânia cumpre plenamente os compromissos que assumiu para pôr em prática o plano de paz de acordo com a decisão do Conselho da Europa e mantém de forma unilateral o regime de cessar-fogo”, declarou Poroshenko, que acusou os insurgentes de violar a trégua. Os interlocutores acolheram positivamente a libertação de quatro observadores da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) e concordaram com uma próxima reunião do grupo trilateral de contato (com representantes russos, ucranianos e da OSCE).

Milhares de pessoas se manifestaram neste domingo na praça da Independência em Kiev, onde leram uma declaração reivindicando que o presidente suspenda a trégua, ordene uma mobilização militar, entregue às tropas as armas e os meios necessários para acabar com os insurgentes, e exija que a União Europeia e os EUA iniciem a terceira fase das sanções contra Rússia. As reivindicações foram lidas por um representante do batalhão Donbas, que luta contra os separatistas nas regiões orientais. Antes da manifestação no Maidan, cerca de cem pessoas entregaram suas reivindicações por escrito na sede da administração presidencial. Ativistas das “centúrias do Maidan” fizeram uma advertência a Poroshenko, afirmando que essa pode ser a última ação pacífica por parte deles e assinalando que “o poder pertence ao povo” da Ucrânia. “Ainda é cedo para dizer, mas pode ser que estejamos diante de uma nova escalada de protestos, um novo Maidan”, afirmou uma jornalista ucraniana por telefone de Kiev, referindo-se à revolta que derrubou no início deste ano o então presidente Viktor Yanukovitch. “Tudo dependerá da reação de Poroshenko.”

Nesta semana, a Rada Suprema (o Legislativo) analisará o projeto de Constituição apresentado por Poroshenko, que prevê uma descentralização do poder, mas não um regime federativo – e também não inclui a reivindicação dos separatistas de adotar o russo como língua oficial. Meios jornalísticos em Kiev coincidem que a bancada legislativa está muito preocupada com seu futuro e resiste a dissolver-se, como quer Poroshenko, para permitir a realização de novas eleições. “Até neste momento eles pensam mais em conservar suas cadeiras do que no futuro do país”, disse uma fonte, segundo a qual os deputados podem talvez exigir algo para eles próprios em troca de ratificar o acordo de associação com a UE. “É muito deprimente”, assinalou a jornalista ucraniana.

Em outros incidentes, representantes da autoproclamada República Popular de Donetsk se apoderaram de uma fábrica de produtos químicos nessa cidade com o objetivo de restabelecer a produção de granadas que se fabricavam ali no passado, afirmou um representante dos insurgentes à agência Ria-Novosti. Segundo a Inforesist, um avião não pilotado, sem sinais de identificação e procedente da Rússia penetrou no espaço aéreo ucraniano e foi derrubado por uma brigada antiaérea do Exército. Esse teria sido o segundo avião não pilotado a invadir o espaço aéreo da Ucrânia.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_