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Os protestos sociais põem o Brasil em alerta às vésperas do Mundial

Uma greve de metrô ensombrece a iminente abertura do Mundial do Brasil

Antonio Jiménez Barca
Confronto entre trabalhadores do metro e policiais na estação Ana Rosa.
Confronto entre trabalhadores do metro e policiais na estação Ana Rosa.mario angelo (ap)

Há uma pichação no muro branco que rodeia um cemitério de São Paulo. Diz assim: “Queremos transportes modelo-Fifa”. Faltam dois dias para a bola começar a rolar no país onde o futebol é algo além do que um esporte. Mas a euforia esportivo-nacionalista de outros anos de um país que adora o futebol e seus jogadores não existe. Ou pelo menos está contida e aguarda o início das partidas. Enquanto isso, os protestos se sucedem, ramificando-se em manifestações e greves setoriais que continuam ensombrecendo a iminente abertura do Campeonato do Mundo do novo Brasil do século XXI. A última é uma greve de metrô que começou na quinta-feira, capaz de paralisar diariamente uma megalópole como São Paulo, condenando seus habitantes a congestionamentos quilométricos em uma urbe propensa já por si só a engarrafamentos quase bíblicos. O motivo da greve é salarial, e não conta com o apoio majoritário da população, que se vê refém de um conflito que a leva a perder três horas para chegar ao trabalho e três horas para voltar. Isabel, de 30 anos, balconista de uma perfumaria de São Paulo, contava isso, indignada, em uma interminável fila para pegar um ônibus perto da estação de metrô Ana Rosa. Quando lhe perguntam sobre a Copa do Mundo, responde o mesmo que a vizinha de fila e o mesmo que a imensa maioria dos brasileiros: “Eu não sou contra a Copa, senhor. Mas sim contra o dinheiro que foi empregado na Copa e que poderia ter sido gasto em outras coisas, como saúde, educação e transportes.”

Nos arredores dessa estação de metrô, se enfrentaram hoje, quase ao amanhecer, funcionários do metrô que incendiavam latas de lixo e policiais que lançavam gás lacrimogêneo. Houve 42 detidos.

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Depois do protesto perto da estação Ana Rosa hoje, logo dispersos pela polícia, os manifestantes mudaram para a Praça da Sé, no coração de São Paulo, onde bloquearam ruas. Não eram muitos: não mais de 400. E não só sindicalistas. Também apareceram para reivindicar e apoiar os trabalhadores do metrô integrantes do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto. Uma delas, Talita de Jesus, de 28 anos, vive em Nova Palestina, um imenso acampamento de barracas de lona erguido na periferia de São Paulo para exigir moradias. Ao lado de Talita se encontra Israel, de 30 anos, professor de uma escola, que garante que esses protestos setoriais (que muitos qualificam de oportunistas) retomam o espírito de luta de junho de 2013.

O que é um fato, e qualquer brasileiro comenta, é que há menos ruas adornadas com bandeiras brasileiras e menos carros com bandeirinhas nas janelas do que em outros campeonatos mundiais. Menos espírito festivo, em poucas palavras. Mesmo a presidenta brasileira, Dilma Rousseff, está há dias recordando aos brasileiros que o Mundial é uma ocasião para a celebração e a festa.

Agora ainda está para ser visto se as manifestações se prolongarão para além da abertura na quinta-feira. Vários movimentos sociais anunciaram protestos, mas ninguém sabe qual grau de adesão eles conseguirão. Muitos preveem que quando o árbitro apitar o início da primeira partida se declarará uma trégua para dar lugar à alegria das outras vezes. Mas uma vez terminada a Copa, acrescentam, voltará a vida de todos os dias, à qual cada vez menos se resignam.

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