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Rio 2016 não cumprirá a promessa de limpar a Guanabara

O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, reconheceu que as águas continuarão sujas

Foto da Baía de Guanabara em novembro de 2013.
Foto da Baía de Guanabara em novembro de 2013.Felipe Dana (AP)

As evidências assustadoras de que a Baía de Guanabara não será limpa antes das Olimpíadas de 2016 (estima-se que a tarefa demoraria cinco anos) levaram o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, a reconhecer publicamente que as águas continuarão sujas durante a competição de vela, programada para a segunda maior baía do país, mas a primeira em importância econômica, que abriga o porto da "cidade maravilhosa".

"Lamento que não tenhamos conseguido usar os Jogos para limpar completamente a baía", afirmou Paes em seu primeiro reconhecimento público do estado das águas, recentemente chamadas de "esgoto" por vários velejadores olímpicos. Fotografias aéreas e depoimentos de marinheiros indicam uma poluição massiva e a presença de resíduos orgânicos e inorgânicos flutuando. Por volta de 60% do lixo desta cidade com 6,5 milhões de habitantes vão para o mar sem tratamento prévio; calcula-se que a baía recebe entre 80 e 100 toneladas de lixo diariamente.

A posição oficial sobre a regeneração da Guanabara recebeu muitas críticas no mês passado, depois que a agência Associated Press publicou uma carta do secretário do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro, Carlos Francisco Portinho, enviada ao ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, na qual afirmou que o melhor cenário possível seria uma redução da contaminação em cerca de 50%. A promessa da candidatura olímpica do Rio no momento da eleição foi limpar as águas em, no mínimo, 80%.

O prefeito Paes assegurou ontem que a saúde dos atletas não corre risco, embora tenha sido obrigado a assumir que a responsabilidade legal ou moral de qualquer doença por causa dessa contaminação será das autoridades. A Federação Internacional de Vela afirmou que realizará diversas análises nas águas nos próximos dois anos, o que também acontecerá nas águas que vão receber as competições de remo e natação em águas abertas. Segundo as últimas medições do Instituto Estatal de Meio Ambiente (INEA), 12 praias da "zona sul" (a mais rica e visitada pelos turistas), inclusive a do Leblon, não são seguras para o banho por causa da baixa qualidade de suas águas.

A confissão sobre a Guanabara acontece apenas algumas semanas depois que o vice-presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), John Coates, declarou que a situação dos preparativos do Rio 2016 era "crítica", "a pior que eu já vi", e "que as obras estão mais atrasadas que em Atenas 2004", o caso mais alarmante das últimas décadas. Os especialistas do COI estimam que as obras planejadas estão em 10-15% de desenvolvimento, contra 60% dos Jogos anteriores (Londres 2012) a 27 meses da abertura. Os rumores na imprensa internacional sobre um 'plano B' do COI para transferir os jogos a Londres, se o Rio não conseguisse se preparar, não foram confirmados pela organização.

O prefeito carioca afirmou ontem que os atrasos e custos elevados da organização do Mundial de futebol elevaram a desconfiança com o Brasil e que o Rio de Janeiro espera corrigir essa percepção: "Acreditamos de verdade que vamos fazer tudo a tempo e ter Jogos maravilhosos, com um legado maravilhoso para a cidade". Também voltou a dizer que o orçamento olímpico, atualmente de 37,5 bilhões de reais (12,5 bilhões de euros), pode aumentar em mais 20%. "Sei que não temos um bom exemplo com a Copa do Mundo", afirmou Paes. "Não vão acreditar no que estamos dizendo. Acredito que temos um problema com a desconfiança. É um problema da nossa história que devemos encarar. Há muita desconfiança sobre nossa capacidade de entregar as coisas".

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