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Coluna
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De Tiananmen à Normandia

Em um mundo fluido, é também fluida a política externa de Washington

Francisco G. Basterra

Lições de história em dois aniversários: o quarto de século transcorrido desde o esmagamento da primavera chinesa na praça Tiananmen e os 70 anos do desembarque aliado nas praias francesas da Normandia, que selaria 11 meses depois a derrocada do nazismo. Com a diferença de que a China não enfrenta sua história, apaga-a com uma onda de repressão, enquanto a Europa se volta para ela com espírito público, como o fará em agosto ao se completar o centenário da Primeira Guerra Mundial.

Apesar de darmos como certo que o centro de gravidade do poder mundial se trasladou da Europa para a Ásia, o primeiro presidente norte-americano do Pacífico regressa ao velho continente, a uma Europa que dificilmente entende –“às vezes me confundo com a Comissão Europeia, o Conselho Europeu e o Parlamento”–, afirmando que os EUA não se ausentam do mundo e defenderão seus aliados. Pela primeira vez desde a queda do Muro de Berlim, quando o poderoso, mas já não hegemônico duvida, Rússia e China desafiam à ainda única superpotência.

A China, blindada por um sistema repressivo de partido único que não deve explicações a seus cidadãos, se legitima com o crescimento econômico, busca firmar sua hegemonia em seu mar meridional impedindo ao mesmo tempo que Washington incremente sua presença no Pacífico, isolando-a em uma rede de alianças regionais pró-ocidentais. Xi Jinping, que não vai ser o Gorbachov da China, decretou a amnésia sobre o massacre perpetrado em Pequim pelo Exército, na noite de 3 para 4 de junho de 1989. Se o protesto de Tiananmen tivesse vencido, teríamos tido uma guerra civil, reconheceu Deng Xiao Ping, que três anos depois lançou sua revolução econômica convencido de que o colapso da URSS tinha ocorrido pela incapacidade de seus dirigentes de enriquecer a população.

Sem o apoio dos EUA – 2.400 soldados norte-americanos morreram ou ficaram feridos no Dia D– Hitler teria ganhado a guerra. O que ocorreu nas praias francesas definiu o mapa da Europa no pós-guerra, de outro modo o Exército Vermelho teria chegado ao Reno ou até mesmo mais para oeste, na opinião do historiador britânico Anthony Beevor na BBC. Hoje, Obama promete conter o expansionismo nacionalista russo na fronteira leste da Europa. Dá um duplo salto mortal: garantir a segurança da Polônia e dos países bálticos, tentando manter a difícil unidade da Europa perante Putin, ao mesmo tempo que traça uma nova linha vermelha. Mas somente retórica: não teremos outra opção como resposta se Putin continuar a minar o Governo da Ucrânia. Obama, que se encontrou com Putin na Normandia, lhe dá uma oportunidade para que reconstrua os vínculos com o Ocidente que derrotou o nazismo, que regresse à aliança de 1944. Em um mundo fluido, é também fluida a política externa de Washington. Temos o martelo mais potente, mas não significa que bateremos em todos os pregos.

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