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A corrupção espreita a FIFA

A imprensa revela subornos para Qatar 2022 e armações no caminho para a África do Sul 2010

Bin Hammam e Blatter, em Doha.
Bin Hammam e Blatter, em Doha.Mohamed Dabbous (Reuters)

A dez dias do começo da Copa do Brasil, os casos de corrupção na FIFA voltam a manchar a polêmica eleição do Mundial do Qatar de 2022. Um ex-dirigente da FIFA chamado Mohammed Bin Hammam, de origem catariana, fez supostos pagamentos no valor de 11,37 milhões de reais a 30 presidentes de associações de futebol africanas para, supostamente, comprar o Mundial de 2022 para o Catar, de acordo com os documentos publicados pelo jornal britânico The Sunday Times.

Ao mesmo tempo, o diário norte-americano The New York Times publica uma extensa reportagem na qual detalha um informe feito pela FIFA no qual se investigam supostas armações de partidas amistosas antes do Mundial da África do Sul de 2010.

O vice-presidente da FIFA, Jim Boyce, afirmou ontem que apoiaria a realização de nova votação para eleger o país anfitrião do Mundial de 2022 se ficar demonstrado que houve corrupção na candidatura do Qatar.

Um ex-dirigente pagou para que o Mundial se realizasse no país asiático

Michael García, o investigador da FIFA, reúne-se esta semana com o comitê organizador do Qatar para tentar encontrar indícios de ilegalidade. “Deve ser analisado muito seriamente”, declarou Boyce. O próprio presidente da FIFA, Joseph Blatter, admitiu que foi um “erro” conceder o Mundial ao Qatar por conta das altas temperaturas do país.

O diário britânico The Sunday Times revela a existência de milhares de mensagens eletrônicas, faxes e faturas que comprovam a conexão entre Bin Hammam e dirigentes africanos que, se é certo que não tinham direito ao voto, poderiam sim ter certa influência no resultado da eleição do Mundial do Qatar em 2022.

O ex-dirigente desembolsou por volta de 11,37 milhões de reais) com o objetivo de conseguir apoio para a candidatura do Qatar, assim como influenciar os membros chave do comitê. Bin Hammam, presidente da comissão asiática de futebol entre 2002 e 2011, organizou “uma campanha coberta de subornos e agrados” para obter apoio para a candidatura de seu país, de acordo com o diário inglês.

Na investigação realizada pelo The Sunday Times é detalhada a existência de dez fundos controlados pela Kemco, empresa de construção do próprio Bin Hammam, de onde foram feitos vários pagamentos e transações em dinheiro no valor de até 147 mil dólares (331 mil reais) para contas de dirigentes africanos

Além disso, fez pagamentos de 1,2 milhões de euros (3,70 milhões de reais) meses antes da votação para contas bancárias controladas por Jack Warner, ex-dirigente da FIFA, membro do comitê de Trinidad e Tobago.

Pelo menos cinco partidas amistosas foram armadas quatro anos atrás

A sombra da fraude paira sobre Mundiais futuros e passados. A preparação da África do Sul 2010 está sob suspeita. A FIFA elaborou um informe no qual desfia as supostas armações de várias partidas amistosas antes do torneio por parte de árbitros, de acordo com informações do jornal norte-americano The New York Times. Tais árbitros eram pagos por máfias que buscavam lucros através de apostas.

O jornal norte-americano destaca o amistoso disputado entre as seleções da África do Sul e da Guatemala. A equipe anfitrião do Mundial passado venceu por 5 x 0, com decisões discutíveis por parte da arbitragem. O árbitro nigeriano Ibrahim Cahibou marcou dois pênaltis inexistentes a favor da equipe local por supostos toques de mão. O jornal acusa a arbitragem de receber 73 mil euros (224,32 mil reais) em uma sucursal bancária sul-africana horas antes da partida.

De acordo com o documento da FIFA, a máfia conseguiu com que os árbitros subornados fossem designados pela federação sul-africana para apitar “pelo menos cinco partidas e provavelmente mais”, segundo as conclusões da investigação. Até 15 partidas internacionais podem ter sido armadas por máfias supostamente veiculadas às apostas na Ásia. A FIFA detectou movimentos suspeitos em casa de apostas sobre o número de gols que seriam marcados na partida entre África do Sul e Guatemala, muito acima do normal.

O órgão, apesar de concluir que provavelmente funcionários de futebol da África do Sul estariam envolvidos, não acusa ninguém oficialmente.

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