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FUTEBOL | COPA 2014

A Copa em risco para Cristiano Ronaldo

O treinador de Portugal diz que “não há prazo” para a volta do artilheiro

Diego Torres
Cristiano sente o joelho na final da Liga dos Campeões.
Cristiano sente o joelho na final da Liga dos Campeões.ULY MARTÍN

O treinador da seleção portuguesa, Paulo Bento, alertou nesta sexta-feira que Cristiano Ronaldo pode não estar preparado para a estreia na Copa, contra a Alemanha, no dia 16 de junho, em Salvador. O artilheiro sofre uma forte inflamação no tendão rotuliano da perna esquerda, por fadiga. Alguém menos importante não teria nem sido convocado. Como porta-estandarte da equipe lusa, Cristiano receberá todos os cuidados à espera de que se recupere da temporada mais extenuante da sua carreira. Mas seu estado físico é uma incógnita.

Ha circunstâncias que “levam a que alguns jogadores não possam ser utilizados”, segundo Bento. “Não temos prazo para o Cristiano começar a trabalhar no relvado [gramado]. Em primeiro lugar está o bem-estar físico e a saúde do jogador. Não iremos estipular um prazo para que possa voltar a competir. Há que deixá-los tranquilos. Até dia 15 há uma possibilidade de haver alterações na convocatória [devido a lesão]. A partir de dia 15 já não a teremos. Por isso, o nosso trabalho é gerir da melhor maneira os 23 que temos aqui, para que no dia 16 possam estar todos prontos para competir.”

O treinador de Portugal, Paulo Bento.
O treinador de Portugal, Paulo Bento.HUGO CORREIA (REUTERS)

Bento deixou entrever que Cristiano pode ficar de fora da Copa se não melhorar nas próximas duas semanas. O técnico se mostrou taxativo. Fontes próximas à Federação Portuguesa de Futebol dizem que Bento tenta, pela via alarmista, dissuadir os dirigentes e patrocinadores de exercerem pressões para que o astro jogue os amistosos contra o México (em 6 de junho em Boston) e a Irlanda (no dia 11 em Nova Jersey). Essas mesmas fontes afirmam que Cristiano jogará contra a Alemanha e que certamente chegará em boas condições, graças ao tratamento que receberá durante 20 dias do seu fisioterapeuta de confiança, o português Antonio Gaspar. Nesse sentido, Bento confirmou que a federação portuguesa contratou Javier Santamaría, o veterano fisioterapeuta do Real Madrid, que é uma das pessoas que mais bem conhecem os males do goleador. Santamaría acompanhará Cristiano ao Brasil para ajudar Gaspar no tratamento.

Os problemas persistentes de Cristiano confirmam a avaliação dos médicos do Real. Os especialistas do Sanitas que o examinaram na primeira semana de abril alertaram ao jogador: se não descansasse, a tendinite rotuliana que sofria no joelho esquerdo voltaria de forma incontrolável, pondo em risco inclusive sua participação na Copa do Mundo. Cristiano deu ouvidos, mas não totalmente. Descansou em três partidas da Liga (Real Sociedad, Almería e Celta) e na final de Copa do Rei no Mestalla, aonde chegou mancando discretamente. Forçou para jogar contra o Dortmund, embora afinal tenha ficado no banco, e mais tarde contra o Espanyol, retirando-se no aquecimento. Jogou com dor contra o Valencia e o Osasuna na Liga, e disputou as semifinais da Champions contra o Bayern, e a final contra o Atlético, sem estar completamente curado de uma inflamação. Nessas condições de precariedade marcou dois gols no Osasuna, um no Valencia, dois no Bayern em Munique, quando a eliminatória estava resolvida, e, de pênalti, o 4 x 1 sobre o Atlético, no minuto 120 da final da Champions. Comemorou como se tivesse sido o gol mais relevante da sua carreira, descobrindo o tronco diante de uma câmara e posando como fisiculturista. Depois veio à tona que ele estava interpretando a si mesmo, porque participa da rodagem de um filme: Cristiano, The Movie.

Bento deixou entrever que Cristiano pode ficar de fora do torneio se não melhorar da tendinite em 15 dias

Os médicos lhe advertiram de que seu corpo estava roçando o limite e que os prazos do tratamento se prolongariam cada vez que ele interrompesse a terapia antes do tempo. Mas Cristiano desconfiou do diagnóstico. Depois do jogo de ida das semifinais contra o Bayern, em 23 de abril, apresentou-se aos meios de comunicação e tachou os traumatologistas de alarmistas. “Algumas pessoas”, disse o jogador, numa mensagem velada, “não queriam que eu jogasse. Mas joguei, e não aconteceu nada. Estava com um pouquinho de medo, porque era a primeira partida depois de três semanas de descanso, mas não senti nenhum incômodo. Nas próximas partidas estarei perfeito”.

Célebre entre seus conhecidos pela atenção hipocondríaca que dedica à própria saúde, medindo calorias, gorduras e proteínas a cada refeição e praticando exercícios em sua casa todas as tardes, Cristiano se comportou de um modo estranho com seu joelho. Em vez de ele se assustar com a dor, os médicos trabalham para o Real alertaram o clube de que o jogador havia ocultado as lesões até que a inflamação se tornasse insustentável. Frente às advertências, Cristiano respondeu indo se tratar com médicos particulares que, aparentemente, menosprezaram a tendinite e o estimularam a ser ousado. Esses médicos provêm do entorno profissional de Jorge Mendes, o poderoso agente de Cristiano, que, além disso, passa por ser seu melhor amigo e o mais parecido com uma figura paterna. Fontes próximas ao Gestifute, a empresa que Mendes dirige, asseguram que o empresário se mostra entusiasmado com a ideia de que Cristiano se torne o melhor jogador de futebol de todos os tempos. Para que consiga isso, estimula-o a jogar todas as partidas possíveis e a quebrar recordes individuais, principalmente de artilharia.

Aos 29 anos, Cristiano ganhou a ‘chuteira de ouro’ depois de se tornar o maior artilheiro da Europa nesta temporada, graças ao fato de ter disputado todos os minutos de partidas mais ou menos irrelevantes. Mendes acredita que seu jogador só poderá validar seus méritos ganhando mais ‘chuteiras de ouro’ e mais ‘bolas de ouro’ do que ninguém. Messi tem quatro ‘bolas de ouro’. O objetivo é que Cristiano acumule cinco.

A Bola de Ouro, concedida pela FIFA, é o prêmio individual mais importante que existe. Desde que Cristiano ganhou o segundo da sua carreira, em janeiro passado, seus companheiros acham que ele mudou de caráter. Observam que se obstinou de tal maneira a obter o terceiro troféu que passou a agir com um individualismo extremo, descuidando inclusive da sua saúde e dos interesses da equipe para satisfazer sua ambição. Na diretoria do Real, a opinião é semelhante.

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