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O despejo de um acampamento opositor em Caracas ressuscita os protestos

A repressão da Polícia e da Guarda Nacional ao desmantelar quatro acampamentos de estudantes reacende a luta nas ruas da Venezuela, que havia diminuído nas últimas semanas

Distúrbios nas ruas de Caracas.
Distúrbios nas ruas de Caracas.Carlos Garcia Rawlins (REUTERS)

A consequência mais imediata do despejo do acampamento opositor na madrugada da quinta-feira em Caracas foi a reativação dos protestos na rua contra o Governo do presidente Nicolás Maduro. Até esse cerco, levado a cabo por membros da polícia e da Guarda Nacional Bolivariana, as manifestações pareciam ter diminuído, consumidas pelo cansaço e o temor à repressão.

Na quinta-feira ao final da tarde, o bairro de Los Palos Grandes foi palco de novos combates entre manifestantes e a polícia, que culminaram com um servidor público da Polícia Nacional Bolivariana assassinado, outros dois feridos por bala e o incêndio da sede do Fundo de Desenvolvimento Microfinanceiro (Fondemi). Maduro condenou a violência em um discurso retransmitido por ordens oficiais pouco depois, através da rede de emissoras de rádio e televisão do país.

Em uma tentativa de desmentir o chamado caráter pacífico dos acampamentos da oposição, o Ministério Público, próximo ao chavismo, revelou nesta sexta-feira os resultados dos exames toxicológicos aplicados em alguns estudantes presos na quinta-feira. A promotora Luisa Ortega Díaz disse que 49 pessoas de 190 avaliadas deram positivo nas provas antidroga. No dia anterior, o ministro do Interior e Justiça, Miguel Rodríguez Torres, mostrava em uma coletiva de imprensa maços de dólares norte-americanos e restos de droga como supostas provas do caráter do protesto opositor. “Dá pena comprovar como muitos jovens estavam submetidos à degradação humana”, agregou o ministro durante o funeral do policial assassinado.

Nas principais cidades do país centenas de pessoas voltaram às ruas nesta sexta-feira sem desordem como na véspera. Os estudantes, por exemplo, protestaram em uma das portas da Universidade Central da Venezuela porque negaram aos 243 estudantes presos o direito de contratar advogados. “Isto constitui uma ilegalidade e uma amostra da política repressiva contra quem protestamos pacificamente por nossa liberdade e a democracia. A defesa de nossos parceiros estudantes, que foram presos arbitrariamente, humilhados e feridos por policiais e militares, será assumida pelos defensores públicos, isto é, por um advogado pago pelo regime”, expressaram em um comunicado.

O fim de semana terá novas manifestações. Os universitários anunciaram a convocação de uma marcha neste sábado com motivo do Dia das Mães até a sede da Nunciatura Apostólica. E na segunda-feira, os opositores relembrarão os três mortos nas manifestações. Desde 12 de fevereiro milhares de venezuelanos saíram às ruas para exigir o fim do Governo de Maduro, considerado pela oposição como o culpado pela inflação, próxima a 60% ao ano, pela escassez de bens básicos e pela delinquência.

A ONU condenou a violência na Venezuela e criticou a falta de informação sobre o paradeiro de manifestantes presos. “Estamos preocupados pelos relatórios a respeito do uso excessivo da força pelas autoridades em resposta aos protestos”, manifestou um porta-voz da Oficina do Alto Comissário para os Direitos Humanos em Genebra. Apesar de ter admitido alguns excessos policiais na repressão aos violentos protestos, o Governo negou veementemente que na Venezuela se violem os direitos humanos.

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