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O Egito inicia a campanha eleitoral com vencedor certo e marcada por atentados

Atentados e distúrbios deixam oito mortos na largada para as eleições dos dias 26 e 27 O general Abdel Fattah al-Sisi evitará os comícios por motivos de segurança

Uma seguidora faz campanha por Al-Sisi neste sábado no Cairo.
Uma seguidora faz campanha por Al-Sisi neste sábado no Cairo.Amr Nabil (AP)

Na madrugada deste sábado começou a campanha para as eleições presidenciais egípcias, que serão realizadas nos dias 26 e 27 de maio. Os candidatos são apenas dois: Abdel Fattah al-Sisi, ex-ministro de Defesa e não só o grande favorito, como seguramente o vencedor, e Hamdin Sabbahi, de tendência progressista. O grande ausente destas eleições será o islamismo político, que venceu as últimas eleições com seu representante mais forte no Egito, a Irmandade Muçulmana, duramente reprimida depois de ter sido expulsa do poder por meio de um golpe de Estado no ano passado.

As horas anteriores ao início oficial da campanha foram marcadas por diversos episódios de violência, nos quais morreram pelo menos oito pessoas. Seis delas morreram em vários ataques terroristas. No bairro cairota de Heliópolis, uma bomba de fabricação caseira colocada em um posto de controle de trânsito da polícia matou um agente e feriu outros três. Outro posto de controle, situado na península do Sinai, foi alvo de um terrorista suicida que matou dois oficiais e feriu outros cinco.

Um terceiro atentado, este contra um ônibus que transportava trabalhadores da indústria turística, ocorreu nos subúrbios da cidade de Sharm el-Sheik e provocou a morte de um passageiro, além do próprio terrorista suicida que detonou seu cinto de explosivos. Por último, uma pessoa morreu na explosão de uma bomba dentro de um carro no centro do Cairo em condições estranhas – existe a suspeita de que a vítima tenha sido o próprio terrorista.

Por outra parte, duas pessoas morreram na cidade de Alexandria depois que uma manifestação organizada por seguidores da Irmandade Muçulmana terminou em distúrbios de rua.

Esses casos de violência deixam claro que as eleições presidenciais se celebrarão em um clima afastado da normalidade. Al-Sisi e Sabbahi (que já foi candidato nas presidenciais de 2012, mas caiu no primeiro turno) foram os dois únicos candidatos que cumpriram os requisitos estabelecidos pela lei eleitoral. O mais exigente era o de contar com pelo menos 25.000 assinaturas de apoio – e delas, pelo menos mil recolhidas em 15 províncias diferentes. Al-Sisi deu uma demonstração de força ao apresentar 200.000 à Junta Eleitoral, embora sua campanha assegure ter reunido quase meio milhão. Seu adversário apresentou 31.000.

No discurso de apresentação de sua candidatura, o ex-ministro de Defesa anunciou que sua campanha não será convencional. Fontes de sua equipe disseram à imprensa que Al-Sisi não participará de comícios por questões de segurança, preferindo dirigir-se à população através dos meios de comunicação. Ainda não se sabe quais serão os pontos centrais da campanha do marechal da reserva, mas espera-se que na segunda-feira ele os desvele na primeira entrevista que concederá à televisão.

Sabbahi, que foi o terceiro candidato mais votado nas últimas eleições presidenciais, é um político de ideologia nasserista e acentuou seu perfil progressista para estas eleições. Com 59 anos, ele conta com o apoio de diversos partidos laicos e esquerdistas. Seus colaboradores se queixaram em várias ocasiões da falta de neutralidade do aparelho estatal, o que projeta uma sombra de dúvida sobre a limpeza do processo eleitoral.

Seja como for, não será fácil para as autoridades transmitir uma aparência de normalidade democrática para estas eleições, que representam o ponto culminante do processo aprovado depois do golpe de Estado de 3 de julho. A violência ocorreu depois de grandes manifestações contra o islamista Mohamed Morsi, primeiro presidente eleito em eleições limpas.

Desde então, as autoridades têm reprimido duramente as expressões de oposição ao novo regime. A Irmandade Muçulmana, o movimento do Morsi, foi declarada organização terrorista em dezembro. Sua cúpula e milhares de seus simpatizantes foram encarcerados. Centenas deles foram condenados à morte, incluindo seu guia supremo, Mohamed Badie. A oposição laica tampouco se livrou da perseguição: na semana passada, um tribunal proscreveu o movimento juvenil 6 de Abril, que desempenhou um papel central na revolta que destronou o ex-ditador Hosni Mubarak.

Nas ruas de Assuan, no sul do Egito, mal há sinais da disputa eleitoral. Apesar de Assuan ser menos politizada que o Cairo, nela também se sente a polarização em que mergulhou a sociedade egípcia. “Em julho, eu estava otimista com a chegada do novo regime. Mas me decepcionou muito. Derramou-se muito sangue”, comenta Yasmin, uma jovem que fala um inglês perfeito. “Por causa dos problemas de segurança nós ficamos sem turistas, mas prefiro isso a ter a Irmandade Muçulmana no poder e o restaurante cheio”, replica a garçonete de um restaurante vazio situado à margem do Nilo.

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