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Lagarde: “Estamos preocupados pela baixa inflação”

A diretora gerente do FMI pressiona o BCE a ligar a máquina de imprimir dinheiro Ela adverte que "o quanto antes" se decida a atuar, "melhor"

AMANDA MARS (ENVIADA ESPECIAL)
Christine Lagarde, em coletiva de imprensa em Washington.
Christine Lagarde, em coletiva de imprensa em Washington.Andrew Harrer (Bloomberg)

Onde qualquer um usaria a palavra problema, Christine Lagarde costuma optar por desafio. Os discursos públicos da diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI) repetem constantemente esse eufemismo, quando assuntos como a baixa produtividade, o desemprego ou a pobreza não são desafios, são problemas, e o desafio é resolvê-los. Mas hoje, quinta-feira, Lagarde não colocou panos quentes e deu início à coletiva de imprensa das reuniões de primavera do organismo alertando sobre a baixa inflação na Europa: “Estamos preocupados por este risco potencial nas economias avançadas e na zona do euro, em particular”, disse em sua introdução sem pronunciar seu recorrente “desafio”.

O FMI não deixou de alertar para o perigo da deflação ao longo da semana. Seria necessário retroceder muitas décadas para lembrar uma inquietação do gênero, pelo tímido avanço dos preços. Historicamente, é a inflação em alta a fonte de inquietação, um temor permanente na Europa e um verdadeiro pesadelo em Berlim. Mas a virulência e duração desta crise atual inverteu o eixo das preocupações e levou a número um do FMI a advertir que “uma baixa inflação prolongada feriria tanto o crescimento, como o emprego”.

Uma advertência similar por parte de Lagarde caiu como um raio no Banco Central Europeo (BCE) na semana passada, já que ela pressionou o organismo europeu na véspera de sua reunião mensal sobre política monetária. Agora o FMI não evitou colocar o assunto em pauta, como um dos perigos principais para a reativação europeia. A francesa indicou que a instituição com sede em Frankfurt vai atuar: “É animador o fato de o BCE reiterar seu compromisso de usar as medidas não convencionais necessárias”, disse. “Acho que agora vai ser uma questão de calendário”, acrescentou.

Medidas não convencionais

Estas “medidas não convencionais” incluem desde a redução da taxa de juros (já está em 0,25%), a injeções de crédito barato ou compra de ativos que estimulem a demanda, o crédito e ajudem a subir os preços. É o que, usando a gíria da política monetária, significa ligar a máquina de imprimir dinheiro. O IPC subiu 0,5% em março na zona do euro, o nível mais baixo desde 2009, e a Espanha é, segundo os cálculos do FMI, o país com maior risco de deflação, entendida esta como uma queda generalizada e persistente dos preços que deprime ainda mais a economia.

Com o país imerso num duro processo de desvalorização interna (queda de salário e de custos), os baixos preços são um problema doméstico porque tornam mais difícil o pagamento da dívida (o peso real sobe) e também uma preocupação externa, pois a baixa inflação dos sócios do euro tomam boa parte desse esforço de recuperação da competitividade.

Lagarde, que tinha uma reunião previsto com o BCE, esmerou-se em destacar que sua visão do problema se encontrava alinhada com a do banco europeu, mas não é assim: enquanto a autoridade europeia declara-se preparada mas considera que o perigo não é iminente, o FMI sim considera que essas atuações devem ser levadas a cabo o quanto antes. “Respeitamos o critério do BCE”, insistiu, não obstante. “Tudo resulta bastante óbvio, o BCE leva muito tempo sem querer atuar e agora está com  o problema da deflação”, comentou o analista de um banco central nestes dias em Washington, durante a reunião do FMI.

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