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Cresce a pressão sobre Obama em torno da política de deportações

Aos protestos de imigrantes deste sábado para que o presidente suspenda as expulsões se soma um editorial do 'Times' que condena a insuficiência de sua estratégia migratória

Eva Saiz
Protesto contra as deportações neste sábado em Atlanta.
Protesto contra as deportações neste sábado em Atlanta.M. CORTÉS (EFE)

“Preciso do meu marido. Minha filha não o viu desde que nasceu”. A queixa é de Naira Zapata, cujo marido, Ardany Rosales, foi deportado dos Estados Unidos há vários anos. Zapata, uma entre os milhares de imigrantes que no sábado se manifestou nas principais cidades dos Estados Unidos para exigir do presidente Barack Obama que suspenda as expulsões dos cidadãos sem papéis até a aprovação da esperada reforma migratória. A paralisia que envolve essas legislação, desde que chegou à Câmara dos Representantes (Baixa) em meados do ano passado, incrementou a pressão política e social sobre o presidente, que é assinalado como o principal responsável pelo aumento das deportações e a quem se pede que apele para o seu poder executivo para interrompê-las temporariamente. Uma crítica à qual se uniu neste domingo o New York Times em um duro editorial.

“Foi frustrante contemplar como suas promessas em matéria de reforma migratória se desvaneceram entre alegações de impotência e culpas sobre outros”, assinala o Times. “A Administração Obama está deportando pessoas em um ritmo maior que o de qualquer outro presidente”. O jornal ecoou a cifra de dois milhões de deportados que deve ser alcançada nesta primavera local (até meados de junho), depois de cinco anos no poder, pelo atual Governo norte-americano. O número é superior ao registrado ao longo das administrações anteriores, com George W. Bush -dois milhões em oito anos- e Bill Clinton -não chegou a um milhão.

O diário nova-iorquino se junta aos pedidos das associações de imigrantes e de direitos civis para que o presidente utilize as prerrogativas concedidas pelo Executivo para suspender temporariamente as expulsões daqueles que estariam dentro dos parâmetros para obter a cidadania com a lei. “Há um poder do Governo, o Executivo, que tem autoridade para fazer bem mais ante a falta de uma reforma migratória”, especifica a United We Dream, uma das organizações que promoveram as manifestações deste sábado.

Em 2012, muito próximo da campanha eleitoral, Obama suspendeu durante dois anos as deportações dos chamados dreamers, os jovens que chegaram aos EUA com seus pais sem documentos mas que cresceram e estudaram no país, uma medida que contemplava 1,8 milhão de pessoas, de acordo com o Governo. Agora, exige-se do presidente que, se não puder fazer algo similar com os outros que não têm papéis, prorrogue a vigência da ordem executiva que ditou há dois anos.

A Casa Branca, no entanto, mostrou-se relutante a recorrer de novo às ordens executivas alegando que essa estratégia poderia expor o presidente a mais críticas por parte do Partido Republicano sobre o abuso de seu poder, prejudicando, além disso, um potencial acordo para a aprovação da reforma. Muitos analistas viram no implacável processo de deportações da Administração Obama outra concessão para os conservadores a fim de arrancar deles um compromisso para avançar na legislação migratória, uma estratégia que o New York Times desaprova em seu editorial: “Obama poderá argumentar que não pode ser muito enérgico na hora de paralisar as deportações porque isso enfureceria os republicanos, e que sempre há espaço para uma solução legislativa. Ele apareceu com frequência como um simples espectador do bloqueio da reforma, se limitando a ver a roda girar, fazer discursos e esperar o melhor”.

Como as associações de imigrantes, o diário exige uma política mais ativa e uma reforma das deportações para que destaquem as expulsões dos membros de grupos criminosos e máfias –“os que constituem verdadeiras ameaças”, diz o Times- em vez de se “aumentar o medo e a ruptura de famílias”. Para os imigrantes hispânicos nos EUA, o temor à deportação é o seu principal problema, muito acima da obtenção da cidadania (55% frente a 35%), de acordo com o último relatório do Centro Pew, divulgado em dezembro do ano passado.

Há algumas semanas, o presidente Obama deu uma ordem ao Departamento de Segurança Nacional para que revisasse a política de deportações para buscar formas de aplicá-la de maneira mais humana. A promessa do mandatário, no entanto, não tem aplacado a comunidade hispânica, como demonstraram as manifestações deste sábado. Essa frustração pode colocar em xeque o apoio desse setor da população aos candidatos democratas. “O presidente é diretamente responsável pelas deportações. Estamos dizendo que ele pode estar conosco ou não, mas que não dê nosso apoio como algo certo”, advertiu há meses Gaby Pacheco, diretor do Bridge Project, uma organização de assessoria sobre direitos civis.

A família de Zapata é uma das milhares desmembradas pelos efeitos da política migratória norte-americana. Ela, junto com outras vítimas, prevê se manter em frente à Casa Branca para lembrar o seu inquilino do drama que cerca as deportações.

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