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Mais de um milhão de refugiados sírios colapsam o Líbano

O país acolhe 40% de todos os desabrigados da região O Executivo libanês eleva a cifra a quase dois milhões de pessoas A metade deles são crianças e as escolas libanesas só atendem cerca de 100.000

Uma mulher síria almoça com seus filhos em campo de refugiados de Saadnayel.
Uma mulher síria almoça com seus filhos em campo de refugiados de Saadnayel.AFP

O Líbano enfrenta uma crise humanitária sem precedentes depois de três anos de guerra na síria. O país acolhe já mais de um milhão de refugiados registrados pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). "A afluência de um milhão de refugiados seria em massa para qualquer país", assegurou o responsável pela agência, António Guterres, através de um comunicado, "para o Líbano, um pequeno país encurralado por dificuldades internas, o impacto é assombroso".

A cifra assinalada pelo ACNUR arroja um saldo insustentável, equivalente a quase uma quarta parte dos 4,2 milhões de habitantes e mais de 40% dos 2,5 milhões de refugiados contabilizados em países da região como Jordânia, Turquia, Iraque ou Egito. Só em Arsal, localidade de maioria sunita às saias do maciço fronteiriço de Qalamoun, o número de deslocados duplica a uma população local de 35.000 habitantes, segundo reconhece o prefeito, Ali Hujjeiri. A vila, único enclave no que o Executivo libanês deu luz verde ao levantamento de um campo de refugiados ("assentamento temporário", em gíria oficial), está tomada por centenas de tendas de campanha instaladas em cada pedaço de terreno sem edificar.

Tanto o Executivo libanês como as organizações internacionais que trabalham sobre o terreno elevam o número de refugiados no país até a quase os dois milhões de pessoas, a maioria sem trabalho e sem recursos de sobrevivência. A metade são crianças. Segundo o ACNUR, umas 80.000 pessoas precisam de assistência médica urgente que o Governo não pode fornecer e outras 650.000 dependem da ajuda internacional para se alimentar. O Banco Mundial calcula que a escassez de recursos e a pressão à baixa dos salários pode arrastar até 170.000 libaneses a uma situação de pobreza.

À pressão demográfica soma-se o incremento da tensão a conta do conflito vizinho que tem dilapidado a situação de segurança. "As comunidades libanesas estão se vendo muito pressionadas e a tensão está aumentando", admite Ninette Kelley, representante do ACNUR no Líbano. Nesta quarta-feira, um novo ataque com foguetes supostamente lançados desde solo sírio matou um operário de nacionalidade síria na localidade de Labwe, próxima a Arsal e a cerca de 30 quilômetros das montanhas de Qalamoun, onde os rebeldes tentam recuperar as posições ganhadas pelo Exército de Bashar al-Assad e a milícia xiita Hezbollah em sua última ofensiva em torno da estrada que une Damasco e Tartus.

"O apoio internacional às instituições governamentais e às comunidades locais é de tal nível que, pese a se ter incrementado lentamente, é totalmente desproporcionado com respeito às necessidades", assegura Guterres, "o apoio ao Líbano não é só um imperativo moral, se não que é desesperadamente necessário para parar a erosão da paz e a segurança nesta frágil sociedade e em toda a região". A própria agência da ONU reconhece que, dos 1,3 bilhão de euros (4 bilhões de reais) necessários para enfrentar a crise humanitária (só no Líbano), receberam apenas 175 milhões de euros (546 milhões de reais) da comunidade internacional.

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