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A inflação baixa desafia outra vez o BCE

O índice de preços ao consumidor da zona do euro recua para 0,5% O Banco Central Europeu avaliará nesta semana se adotará novas medidas

Alejandro Bolaños
Fonte: Eurostat.
Fonte: Eurostat.EL PAÍS

A inflação, que já mal existe na zona do euro, baixou outro degrau em março. Uma queda que promete, em paralelo, mais tensão na reunião do Banco Central Europeu (BCE), na próxima quinta-feira. Nos seis anos de crise, a Eurotower, sede do BCE, já foi palco de intensos debates. Mas a inflação baixa, o desafio ante o qual deve se posicionar agora o órgão supervisor, afia as garras para a controvérsia, alimentada pelos díspares interesses dos 18 países que compõem o bloco monetário.

Na última reunião do conselho do BCE, o presidente do órgão, Mario Draghi, complicou ainda mais a situação. Admitiu que as previsões de inflação para o triênio 2014-2016 ficam longe da meta de 2%, nível que orienta o banco central para a estabilidade dos preços. E, ao mesmo tempo, renunciou à adoção de novas medidas, porque considerou sólidas as expectativas de uma alta gradual para esses mesmos 2% no médio prazo. No entanto, o arrefecimento dos preços ao consumidor não fez outra coisa que ganhar força desde então, em uma rajada de vento gelado que ameaça desestabilizar o precário equilíbrio sustentado nas decisões do conselho do BCE.

O Eurostat, departamento de estatísticas do bloco, antecipou nesta segunda-feira que o aumento anual dos preços ao consumidor na zona do euro passaria de 0,7% em fevereiro a 0,5% em março. É uma nova mínima desde o fim de 2009, quando o impacto da recessão e a comparação com a alta das matérias-primas no ano anterior levaram às primeiras taxas anuais negativas desde a criação da região monetária.

Mas agora a evolução dos bens industriais e de serviços tem um maior protagonismo, um novo indício da fragilidade da demanda interna em vários países. Porque o núcleo mais estável do índice de preços (que exclui energia, alimentos, álcool e fumo) também retrocedeu (de 1% para 0,8%, segundo o indicador antecipado de março), até atingir um nível similar ao dos meses de 2009 nos quais o índice geral chegava a -1%.

Os dados refletiriam uma inflação ainda mais baixa se não fosse pelo fato de que na França, a única das quatro grandes economias do euro nas quais os preços sobem até agora no ano, são notados os efeitos de uma recente alta do imposto agregado IVA. O índice espanhol voltou a taxas negativas (-0,2%), enquanto na Alemanha a inflação ficou moderada, de 1% a 0,8%, e na Itália, de 0,4% para 0,3%.

Os analistas do Barclays e do Bank of America antecipavam uma taxa anual entre 0,7% e 0,6%. O instituto espanhol Flores de Lemus, que previu 0,5%, aponta para um rebote: “A mudança de calendário da Páscoa pressiona para baixo em março no grupo de serviços e para uma alta em abril”, explica. Outro fator de influência é que a queda dos preços da energia (-2,1% anual em março), ao qual o BCE atribui dois terços da desaceleração da inflação, começa a ser corrigida.

Embora a possibilidade de deflação seja baixa, o BCE deveria adotar medidas para se antecipar, com um maior afrouxamento monetário". Luis Linde, governador do Banco central da Espanha

“Embora a possibilidade de deflação seja baixa, o BCE deveria tomar medidas para se antecipar, com um maior afrouxamento monetário. Agora os juros são baixos, mas poderiam ser ainda mais”, disse o governador do Banco da Espanha (central), Luis Linde. “O que foi feito até agora não é suficiente, o BCE deve avançar e evitar a deflação”, acrescentou o comissário europeu para a Concorrência, o também espanhol Joaquín Almunia.

Com os juros já em 0,25%, o BCE avalia medidas para reativar o crédito e o consumo há meses. Os especialistas coincidem em afirmar que só um ambicioso programa de compra de títulos públicos ou de dívida privada, como o desenvolvido pelo Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos) ou o Banco do Japão, teriam um efeito contundente. Mas é também a medida que atrai mais riscos, e sobretudo, mais oposição no Bundesbank (banco central da Alemanha).

Em declarações pouco habituais, o presidente do Bundesbank, Jens Weidmann, pareceu disposto a abrir o debate. Mas no sábado passado voltou ao velho discurso. “A zona do euro não está em um ciclo deflacionário”, disse, antes de advertir que “taxas de juros extremamente baixas são um risco para a estabilidade financeira”. O vaivém de Weidmann é um passo a mais na estratégia escolhida nos últimos meses pelo BCE: preencher o tempo com palavras enquanto a recuperação dá frutos. A próxima reunião do conselho do banco da zona do euro avaliará se isso é suficiente, ante a baixíssima inflação.

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