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A escassez de água gera disputa bairrista entre Rio e São Paulo

Alckmin propõe a criação de um túnel entre o sistema Cantareira e a Bacia do Paraíba do Sul. O Governo do Rio reage com força

População aproveita para pescar à margem da Represa do Jaguari.
População aproveita para pescar à margem da Represa do Jaguari. Carlos Villalba Racines (EFE)

A preocupação com a falta de água na região mais industrializada do país criou uma tensão política entre os governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral Filho. Na quarta-feira passada, 19, Alckmin propôs a criação de um túnel de 15 quilômetros entre o sistema Cantareira, que abastece a Grande São Paulo, e a Bacia do Paraíba do Sul, de modo que o excesso de água de um local pudesse compensar a escassez de outro. O Rio Paraíba do Sul é uma importante fonte de abastecimento no Rio de Janeiro e tem como afluente o sistema Cantareira, o que levou Cabral a se posicionar em termos duros contra a ideia de São Paulo.

No Palácio dos Bandeirantes, sede do Governo paulista, a colocação do governador fluminense foi vista como exagerada, pois a ligação proposta não afetaria a população do Rio de Janeiro, mas administraria melhor excessos de água em algumas regiões paulistas. Segundo uma fonte do Governo paulista, o projeto de interligar a Represa do Jaguari e a Cantareira não coloca em risco o abastecimento de outros estados, esta bacia também passa por Minas Gerais, nem requer autorização fluminense, uma vez que esses rios nascem e morrem em São Paulo. Além disso, diz ele, essa já é uma ideia antiga, cogitada em 2011, quando também ocorreu um problema de abastecimento nos rios da região. Nessa ocasião, entretanto, com excesso na Cantareira.

Esta mesma fonte afirma que as conversas privadas entre os Governos de São Paulo e do Rio de Janeiro estão ocorrendo em tom amistoso. “O que achamos que é o governador do Rio de Janeiro  está aproveitando essa oportunidade para voltar à mídia, propagando um bairrismo boboca e criando desinformação”, diz. “São Paulo não precisa da autorização do Rio de Janeiro para construção dessa ligação e as agências nacionais não autorizarão um projeto que possa ter um efeito danoso a qualquer Estado brasileiro”, diz ele.

O enfrentamento continuou nesta segunda-feira, 24, com Alckmin insistindo na ideia da ligação entre os rios. "O que nós queremos não é transposição. Transposição ocorre no Rio de Janeiro. Você retira água do Paraíba e não devolve ao rio", disse ele. "Aqui não tem nenhuma transposição. Nós estamos fazendo a interligação de dois grandes reservatórios." Além disso, Alckmin teve uma reunião com cerca de 40 prefeitos paulistas da Região do Vale do Paraíba. A pauta original previa a discussão de melhorias na Rodovia Tamoios, mas acabou tratando da proposta de ligação entre as bacias. No encontro, o governador paulista continuou a defender a proposta e reafirmou que existe uma campanha de ‘desinformação’.

O início da disputa

A ofensiva do governador do Rio de Janeiro começou com quatro mensagens postadas em seu perfil no Twitter na quinta-feira, 20, dia seguinte ao anúncio de Alckmin. Na primeira, ele disse: “jamais permitirei que se retire a água que abastece o povo do Rio de Janeiro”. Em seguida, Cabral conta que “o governador Geraldo Alckmin, com quem tenho excelente relação, me ligou para expor essa ideia”. “Disse a ele que formalizasse a proposta e que eu enviaria aos órgãos técnicos”, detalhou Cabral na mensagem seguinte. Por fim, o governador do Rio de Janeiro escreveu o último tuíte: “Mas já adianto: nada que prejudique o abastecimento das residências e das indústrias do Estado do RJ será autorizado.” Desde a quinta-feira passada, Cabral não postou nenhuma nova mensagem.

Na sexta-feira, 21, em Brasília, porém, Cabral voltou à carga diante da imprensa da capital federal. “Nada que afete o abastecimento de água do Rio de Janeiro, nada, nada, uma gota sequer, nós vamos tolerar”.

Procurada, a Sabesp se limitou a enviar um notícia veiculada pela Agência Estadual de Notícias do Governo de São Paulo, que descreve a proposta apresentada pelo governador de São Paulo. Já a Agência Nacional de Águas disse que não recebeu nenhuma proposta de projeto até o momento do Governo Paulista.

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