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Caracas admite excessos na repressão aos protestos

A procuradora-geral venezuelana, Luisa Ortega Díaz, investiga 60 casos de supostos abusos policiais na repressão aos distúrbios

Um agente antimotim dispara bombas de gás lacrimogêneo.
Um agente antimotim dispara bombas de gás lacrimogêneo.L. R. (AFP)

A pressão exercida a partir das redes sociais e, sobretudo, o registro de imagens obtidas por testemunhas in loco com seus telefones celulares, têm surtido efeito. Ontem diversas autoridades oficiais do Estado venezuelano admitiram que os corpos de segurança cometeram excessos ao enfrentar os protestos pacíficos e bloqueios de ruas que, desde 12 de fevereiro, têm ocorrido em diversas cidades do país e que até esta data deixaram 34 mortos e quase 2.000 detidos.

A primeira a reconhecer os excessos foi a procuradora-geral venezuelana, Luisa Ortega Díaz, uma renomada seguidora do oficialismo. Em uma entrevista concedida ao programa de televisão de José Vicente Rangel —ex-vice-presidente e ex-chanceler dos governos de Hugo Chávez, e ainda eminência parda do regime—, Ortega revelou que o ministério público investiga 60 casos de supostos abusos na repressão às desordens. Enfatizou a informação, no entanto, assegurando que os excessos não são parte de uma política de Estado e que isso contrasta, segundo o seu ponto de vista, com a perseguição contra a dissidência que houve durante a chamada —pelo chavismo— Quarta República, o período de democracia representativa que de 1958 a 1998 antecedeu a autodenominada Revolução Bolivariana.

De acordo com a procuradora, existe uma campanha que tenta “fazer ver que o Estado é tão violador, ou talvez mais que na Quarta República”, e que essa campanha tem como alvo a Guarda Nacional (GN), força pública que tem ocupado a primeira linha de combate aos protestos e à qual Ortega delimita dos excessos que podem ter sido cometidos por alguns de seus integrantes.

O generalato admitiu que foram cometidos excessos com o uso de armas de chumbo

Pouco depois, o Alto Comando da Guarda Nacional fez um gesto incomum. Esse componente abriu as portas de seu quartel-general para um grupo de jornalistas que protestava em frente a essa sede militar pela detenção de Mildred Manrique, repórter do diário 2001 de Caracas.

A inesperada reunião foi presidida pelo comandante-geral da GN, general Justo Noguera Pietri, e os dois coordenadores das operações de segurança e de ordem pública em Caracas e no restante do país. Embora Noguera não tenha tido problemas em declarar que sua missão a cargo da força seja lutar “pela pátria e pelo legado do Comandante Supremo”, Hugo Chávez, admitiu que alguns efetivos incorreram em excessos e foram postos à disposição dos organismos da Justiça. Seria o caso da sargento que, em um vídeo divulgado nas redes sociais, atinge com seu capacete uma manifestante que está no chão na cidade de Valencia (capital do Estado de Carabobo, no norte do país).

O generalato admitiu que foram cometidos excessos com o uso de armas de chumbo, e se comprometeu a investigar 56 casos de agressões contra jornalistas ocorridos durante a crise, registrados em uma lista pelo Sindicato Nacional de Trabalhadores da Imprensa. Além disso, anunciou que se proibirá a detenção de pessoas que gravem os acontecimentos na rua —algo que até agora é feito quase que de maneira automática—, e que poderia emitir um pronunciamento em condenação aos ataques contra os repórteres.

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