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Telefónica adverte do risco de desvalorização na Argentina e Venezuela

O grupo também alerta sobre os limites de rentabilidade impostos por Caracas

Miguel Jiménez
O presidente de Telefónica, Cesar Alierta
O presidente de Telefónica, Cesar AliertaANDREA COMAS (REUTERS)

O risco cambial na Argentina e na Venezuela preocupa os responsáveis financeiros da Telefónica. Esse risco é o "desafio mais importante" para a companhia na América Latina, segundo explica a empresa no relatório anual registrado na Comissão do Mercado de Valores dos Estados Unidos, a SEC, por suas siglas em inglês. A companhia adverte no documento sobre "o impacto negativo que uma depreciação de suas moedas maior que a esperada poderia ter sobre os fluxos de caixa procedentes de ambos países".

A advertência da Telefónica figura no apartado de riscos do relatório anual. Nesse ponto, as companhias costumam se pôr no pior e advertir de qualquer risco potencial, o qual é a sua vez uma forma de se cobrir ante possíveis demandas por não ter facilitado toda a informação adequada. Mas neste caso, o risco é mais que potencial. A Telefónica sofreu já um impacto de uns 4,6 bilhões de euros (14,7 bilhões de reais) em suas contas nos últimos quatro anos pelas sucessivas desvalorizações do bolívar venezuelano e a acelerada depreciação do peso argentino diminui também os rendimentos do grupo ao os converter a euros.

De modo geral, a Telefónica sublinha a solidez das economias da região e aponta alguns riscos, como a elevação das taxas de juro em longo prazo nos Estados Unidos e a desaceleração do crescimento na Ásia, uma região fundamental para a América Latina. Mas volta à carga contra os dois países citados: "Os fatores de risco macroeconômico internos mais significativos na região seriam as altíssimas taxas de inflação na Venezuela e na Argentina que poderiam conduzir a um estancamento econômico nestes países, a delicada situação das finanças públicas da Venezuela , e a deterioração das contas externas de países como a Argentina, o Brasil, o Chile e o Peru, embora com diferentes perspectivas de financiamento para os três últimos (favorável) que o para o primeiro", indica a Telefónica.

Controles cambiais e de preços

A Telefónica faz uma revisão dos fatores que definem o risco-país. E de novo se refere à Argentina e à Venezuela ao falar dos regimes cambiais. A Telefónica assinala o risco de bruscas flutuações nos tipos de mudança devidas principalmente às situações de altos níveis de inflação e déficit gêmeos (nas finanças públicas e o setor exterior) com a supervalorização do tipo de mudança decorrente. "Este movimento poderia conduzir a uma forte depreciação do tipo de mudança no contexto de um regime de tipo de mudança flutuante, a uma desvalorização significativa ao abandonar os regimes de tipos de mudança fixos, ou à introdução de diversos graus de restrições ao movimento de capitais", afirma, antes de citar como exemplo o regime cambial venezuelano. E acrescenta: "A aquisição de divisas por empresas venezuelanas ou argentinas (em alguns casos) para pagar a dívida externa ou dividendos está sujeita à autorização prévia das autoridades competentes".

Entre os riscos, está também a introdução de limites máximos de margens de benefício para limitar os preços de bens e serviços através da análise das estruturas de custos. E de novo, esse risco já é mais bem real. "Assim, na Venezuela, introduziu-se uma margem de benefício máximo que será afixado anualmente pela Superintendência para a defesa dos direitos socioeconômicos", indica a Telefónica.

A companhia assinala que a lei Habilitante da Venezuela confere plenos poderes ao presidente, Nicolás Maduro, para aplicar medidas de controle de preços, "e portanto é de esperar que não será possível elevar as tarifas varejistas de Movistar online com a alta inflação da Venezuela". A companhia acrescenta que, em relação às tarifas de interligação com o operador nacional de referência, reduziram-se em 6% em comparação com as taxas anteriores.

Na Venezuela, além disso, a hiperinflação está fazendo com que a companhia tenha que ajustar também suas contas operativas. Nos lucros, esse impacto foi de 231 milhões de euros em 2012 e de 556 milhões em 2013. No resultado de exploração foi de 78 milhões e de 206 milhões. Essas distorções levaram a companhia a excluir a filial da Venezuela para fixar os objetivos para este ano ainda que, sobre o papel, seja a terceira filial da América Latina que gera mais lucros para o grupo.

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