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“Cuidar do consumo será uma das chaves este ano”

O ex-campeão mundial analisa o início da temporada

Oriol Puigdemont
Jenson Button em Melbourne.
Jenson Button em Melbourne.DIEGO AZUBEL (EFE)

O café com Jenson Button (Frome, Reino Unido, 34 anos) foi programado para a tarde da última sexta-feira. A mesa estava posta no circuito Albert Park e faltava apenas que o primeiro piloto da McLaren saísse de uma reunião da comissão de pilotos. No entanto, quando mostrou a cabeça, Button pediu para adiar a conversa para o dia seguinte porque as coisas não estavam indo bem. Este primeiro Grande Prêmio está sendo um pesadelo para ele, e nem tanto pelas dificuldades que encontra para conduzir os novos carros deste ano, mas pela ausência de seu pai, John, uma das figuras mais simpáticas do paddock, que morreu em meados de janeiro por causa de um ataque do coração.

Pergunta: "Como está sua primeira corrida sem John?"

Resposta: É horrível, especialmente depois de um dia de merda como hoje (ficou fora do Q3). Tudo fica um pouco melhor com a ajuda da família e dos amigos. Uma de minhas irmãs, Samantha, veio conosco, e Jessi (Michibata, sua noiva) está aqui comigo. Para ela, era como um pai. Os dias em que as coisas vão bem são muito difíceis porque ele sempre estava aqui para me dar os parabéns. No pódio, eu sempre o buscava em meio a multidão. E nos momentos ruins, ele tentava me animar. Eu sinto muito a falta dele.

P. Você é o piloto do grid com mais corridas disputadas (251), e está na sua 15ª temporada do Mundial. Esta Fórmula 1 não tem nada a ver com aquela na qual você começou. Agora tem que se preocupar com a economia de gasolina, com a preservação dos pneus e outras coisas. A F-1 perdeu seu espírito?

R. Não tenho certeza. Nos meus dois primeiros anos na McLaren (2010 e 2011), eu me diverti muito porque o carro tinha muita aderência, embora não fosse como em 2004. Aquilo, sim, era especial, com motores V10 de 990 cavalos que chegavam a 20 mil giros por minuto, com tão pouco peso e tanta carga aerodinâmica, concorrência de marcas de pneus. Eu me alegro de poder ter corrido naquela época e de ter tido essa experiência, disputando com Michael, Fernando, Kimi, etc. No entanto, as coisas mudam e temos que nos adaptar porque somos os pilotos mais rápidos do mundo e das melhores equipes. Quando você cruza a linha final e ganha, significa o mesmo que antes porque quer dizer que você ganhou de todos.

P. Esses carros ainda exigem o máximo da sua capacidade?

R. Em volta cronometrada, sim. Eu me divirto conduzindo esses carros porque têm muito torque e um nível de aderência razoável em baixa velocidade, nem tanto em alta. Os tempos de volta não aumentaram tanto considerando o peso que ganhamos e a aerodinâmica que perdemos. Cuidar do consumo será uma das chaves. Tudo mudou, e não é apenas que o carro precisa gastar menos gasolina. Você tem que contribuir para isso com a pilotagem. Às vezes, será necessário tirar o pé do acelerador e esperar, esperar, esperar, frear para dar a curva. Será muito diferente.

P. Vettel argumenta que seu RB10 tem um problema de software e que não o entende. Diz que a F-1 ficou complicada demais. Você sabe como tudo funciona exatamente?

R. Eu creio que na McLaren somos muito bons na hora de entender como tudo funciona e tudo que acontece. Embora seja verdade que agora há muita informação. Por exemplo, na freada, há uma infinidade de elementos que precisam ser ajustados. Não é fácil, mas, nesse aspecto, não estamos mal preparados. Sei muito bem o que preciso fazer e temos alguns elementos no carro que facilitam a vida dos nossos engenheiros e que os outros não têm.

P. O que faz da freada algo tão delicado e crucial?

R. Frear não deveria ser sempre complicado quando o piloto faz o que deveria fazer. Há os freios hidráulicos, o KERS (sistema de recuperação de energia), o freio motor. Mas tudo isso está controlado pelo sistema de gestão do motor e o piloto tem uma influência muito pequena ao pisar no pedal. O trabalho tem que ser feito nos treinamentos, mapeando tudo e descobrindo que aqui se freia com o hidráulico, aqui com o freio motor, aqui o KERS entra em jogo. O ajuste tem que ser prévio para quando subir no carro, preocupar-se apenas em não estragar nada.

P. Ou seja, pisa no freio e cruza os dedos para que o carro pare.

R. Exato, mas isso não é muito diferente do que era antes, mas agora temos mais variáveis para encontrar o equilíbrio. Na verdade, conseguir isso é mais fácil que no passado porque contamos com muito mais ferramentas. Tenho plena confiança de que, quando piso no freio, meu carro vai fazer exatamente o que tem que fazer, embora saiba que há equipes que não têm isso tão claro. Os que usam a mesma unidade de potência que nós estão tranquilos.

P. Ninguém muda tanto as regras como a F-1. Acredita que isso é necessário ou que motiva o desinteresse dos torcedores?

R. O mais importante é que as corridas sejam boas. Ninguém tem ideia de quem vencerá, apesar de a Mercedes ter sido rápida, e isso a torcida adora. Uma coisa que ela não gosta é o som dos motores, mas prefiro ver corridas divertidas e motores silenciosos que o contrário. A F-1 está no caminho certo.

Divirto-me conduzindo estes carros porque têm  um nível de aderência razoável a baixa velocidade, não tanto em alta

R. Esta será a última temporada da McLaren com motor Mercedes. Ano que vem, volta a Honda. Confia que pode sair na frente?

P. Assim espero, mas não estou pensando no ano que vem porque primeiro quero competir neste, por mais que Woking tenha um grupo pensando no futuro. No que diz respeito a mim, penso apenas em 2014. Contamos com uma boa unidade de potência (Mercedes), creio que a melhor do grid, temos sorte. Chegará o momento de nos concentrarmos em sermos competitivos com a Honda, mas temos que considerar que esse é um aspecto em que há muita concorrência, muito diferente do que era há 30 anos.

P. Como o anúncio afetou a relação com a Mercedes?

R. Agora, há algumas coisas que não nos falam, o que é compreensível. Apesar disso, trabalhamos bem com os seus engenheiros e nos dão toda a informação que precisamos.

P. O que você acha da volta de Ron Dennis às corridas?

R. É muito bom tê-lo por perto porque ele que construiu essa equipe. É muito especial tê-lo de volta. É curioso também, porque ele está mais descontraído que nunca, e ao mesmo tempo, animado. Contratou várias pessoas que serão importantes no futuro. Outro dia, os mecânicos me disseram que eles sentiriam mais pressão, mas isso é bom porque estamos aqui para ganhar, para sermos os melhores, e Ron vai nos ajudar porque gosta de ganhar mais do que de qualquer outra coisa.

P. Todos os pilotos devem trabalhar com seus companheiros para desenvolver o carro, mas apenas um deles pode ganhar. No que se baseia essa relação?

R. Depende de cada um. Tem alguns com quem tive muita sintonia, como, por exemplo, Rubens (Barrichello). Tem os que não têm nenhum problema em compartilhar dados; os que não querem fazê-lo; os que não têm nenhuma ideia do que estão fazendo e apenas copiam a sua configuração e ainda assim são rápidos, o que é muito frustrante; e também aqueles que estão aprendendo. Tive nove companheiros em 15 anos, provavelmente mais que qualquer um. É muito interessante conhecer o seu vizinho, ver o que faz e como trabalha. Como disse, adorava Rubens. Era tecnicamente muito bom e não nos escondia nada. Se o seu companheiro só o copia, a equipe não evolui porque só vai em uma direção.

P. Como é Kevin Magnussen?

R. Acaba de chegar e está aprendendo, mas seu feedback é bom. Já mostrou que pode ser rápido. Tem muito talento.

P. Depois de um ano tão complicado como o passado, no qual a McLaren conseguiu apenas um pódio, como está a cobrança da equipe?

R. Eu mesmo me pressiono. Sempre tento ir o mais rápido que posso.

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