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O Kremlin denuncia um “potente ciberataque” em sua página na internet

O governo russo ainda não responsabilizou nenhum grupo pelo ataque As autoridades russas bloquearam pelo menos três páginas web da oposição

Manifestantes da Single Ukraine entram em confronto com um grupo de simpatizantes da Rússia durante um protesto no centro de Donetsk (Ucrânia).
Manifestantes da Single Ukraine entram em confronto com um grupo de simpatizantes da Rússia durante um protesto no centro de Donetsk (Ucrânia).PHOTOMIG (EFE)

A guerra de informação começou a partir desta sexta-feira na Rússia. Assim, a Agência de Controle de Meios de Comunicação e Tecnologias da Informação, conhecida por sua sigla russa Roskomnadzor, bloqueou o acesso a uma série de páginas da web da oposição russa, nas quais estavam sendo publicados artigos e entrevistas contrários à política do Kremlin na Ucrânia, e também exigiu o bloqueio de acesso ao blog de Alexei Navalny, reproduzido por algumas rádios e revistas.

A medida foi tomada por ordem do procurador-geral, que por sua vez denunciou que os portais afetados “contêm chamamentos a atividades ilegais e a participações em ações públicas com violação da ordem” – embora não tenha especificado qual é o conteúdo concreto ao qual se refere – o que violaria a chamada lei Lugovoi.

De acordo com esta lei, baseada no nome de Andrei Lugovoi, um deputado do nacionalista Partido Liberal Democrático e suspeito na Inglaterra de ter assassinado com polônio em 2006 o ex-agente dos serviços secretos russos Alexandr Litivinenko – já que não é necessária uma decisão judicial prévia para bloquear o acesso às páginas que publiquem artigos ou entrevistas com chamados ao extremismo.

Os portais bloqueados são www.kasparov.ru , www.ej.ru e www.grani.ru , embora a página deste último esteja acessível ao retirar o www do endereço (o bloqueio pode ser facilmente burlado utilizando um dispositivo anônimo ou o turbo no navegador Opera ou Yandex). Além disso, o blog de Navalny também foi bloqueado pelo menos nos portais Live Journal e da rádio Eco de Moscou. O fato de a Roskomnadzor nem a procuradoria terem detalhado os materiais que estariam violando a lei fez com que a rádio Eco se dirigisse oficialmente a este último pedindo para especificar os itens ilegais, para poder bloqueá-los e permitir o acesso ao resto.

O próprio Kremlin foi atacado nesta guerra de informação e teve que fechar temporariamente seu site devido ao que chamou de “forte ataque” de hackers. Além disso, o Banco Central foi atacado, mas as autoridades não culparam oficialmente qualquer grupo, nem disseram que tinha alguma ligação com os acontecimentos na Ucrânia.

O país vizinho, por sua vez, fechou há poucos dias o acesso às emissoras russas. Na terça-feira, Nikolai Tomenko, presidente da comissão parlamentar da Rada Suprema (Parlamento), declarou que “existem todos os fundamentos legais para suspender temporariamente as transmissões dos cinco canais russos” na Ucrânia, os quais, garantiu ele, “se tornaram canais de guerra e mentiras”.

Além disso, o jornal russo “Kommersant-Ukraina” anunciou o encerramento de suas atividades em Kiev, porque desde o início da crise as perdas se multiplicaram e, nas palavras do presidente-executivo, Pavel Filenkov, é um meio “sem esperança e sem solução possível”.

A censura nos meios de comunicação inimigos parece ir acompanhada em Kiev por um boicote aos personagens da cultura russa que apoiam o Kremlin. O cancelamento do concerto que o grande pianista russo Denis Matsúyev (Irkustsk, 1975) deveria apresentar em 27 de março na capital ucraniana foi interpretado assim em Moscou.

O bloqueio na Rússia de alguns meios de comunicação da oposição coincidiu com o escândalo causado pela demissão da editora-chefe do Lenta.ru, Galina Timchenko. Este portal de notícias pertence a Alexander Mamut, que ordenou a demissão de Timchenko depois que ela publicou uma entrevista com um ativista do ultranacionalista Setor de Direita ucraniano. Dmitri Yarosh, líder da organização qualificada de fascistas pelas autoridades russas, foi julgado à revelia em Moscou por seus supostos chamados para usar o terror contra a Rússia e condenado à prisão. Foi expedida uma ordem de busca e captura contra ele. A demissão da editora-chefe motivou a saída de cerca de quarenta jornalistas e Mamut, que apoia a política do Kremlin, também ordenou o encerramento do contrato da diretora-geral do Lenta.ru, Yulia Minder.

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