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O silencioso voo do Boeing 777

Surgem novas perguntas sobre a possibilidade de que o avião desaparecido tenha viajado durante horas sem ter sido detectado

Militares vietnamitas rastreiam nesta segunda-feira desde um helicóptero uma zona próxima à ilha Tho Chu.
Militares vietnamitas rastreiam nesta segunda-feira desde um helicóptero uma zona próxima à ilha Tho Chu.A. P. (REUTERS)

O rumo e paradeiro do avião Boeing 777-220 da companhia Malaysia Airlines gerou várias hipóteses, que vão desde problemas técnicos até um sequestro. Não há dados confirmados que endossem nenhuma teoria até agora, apesar de as autoridades terem estendido a busca para as ilhas Andaman, ao oeste de Mianmar caso seja verdadeiro que o avião tenha sido pilotado para essa região.

O voo MH370

Quando desapareceu o avião?

O voo MH370 decolou da capital malasiana 00h41, hora local do sábado e tinha previsão de aterrissar em Pequim às 6h30

Quem viajava?

Eram 227 passageiros (incluídos dois bebês) e 12 tripulantes. As nacionalidades dos passageiros são: China (153); Malásia (38); Indonésia (7); Austrália (6); Índia (5); França (4); EUA (3); Nova Zelândia, Ucrânia e Canadá (2); Rússia, Taiwan, Itália, Holanda e Áustria (1). Sabe-se já que os supostos passageiros italiano e austríaco abordaram a aeronave com passaportes que foram roubados na Tailândia. Os pilotos e auxiliares de voo eram todos da Malásia.

É possível que um avião voe sem ser detectado?

Luis Lacasa, decano do Colégio Oficial de Pilotos da Aviación Comercial (COPAC) da Espanha, explica que o caso do B777 demonstrou que sim, mas que geralmente é pouco provável, já que os aviões estão dotados de sistemas de comunicação, e em terra são seguidos por radares.

Como se comunicam os pilotos com os controladores?

Os aviões comerciais, como o B777, estão dotados de vários sistemas de comunicação. O mais básico é a rádio de altas frequências (HF, em suas siglas em inglês) para comunicar-se por voz com terra e outras aeronaves.

Além disso, os aviões são seguidos por radar, através de dois sistemas: o primário ou convencional, que detecta objetos no ar ou a água, mas sem identificar no momento do que se trata. Com o radar secundário, que se usa no controle do tráfico aéreo, pode se interagir com o objeto detectado mediante um transponder, que é um aparelho que recebe sinais de rádio e responde a eles. O piloto introduz um código (de quatro dígitos) que identifica o voo e proporciona informação sobre a posição, altura, velocidade e direção.

Quando foi o último contato com o avião?

O último contato com os controladores aéreos civis foi à 1h30 do sábado (horário local) quando a aeronave voava a 35.000 pés (10.670 metros). No entanto, um radar militar (primário) detectou um objeto 45 minutos mais tarde a 29.500 pés (9.000 metros), a centenas de quilômetros da última posição conhecida, embora se não tenha se confirmado que era o B777.

O piloto pode apagar os sistemas de comunicação?

O capitão Lacasa assegurou que os pilotos podem apagar os sistemas de comunicação ou simplesmente deixar de comunicar com os controladores, mas o que não podem fazer é “camuflar” o avião, isto é, não aparecer nos radares.

É comum que os aviões não sejam detectados pelos radares?

Lacasa explicou que em zonas muito afastadas onde não há radares perto é possível, mas que no caso da área por onde voava o B777 existem muitos radares militares, já que é uma região com conflitos militares.

Como se comunica um avião

Com que outros sistemas pode ser localizado um avião?

As chamadas caixas pretas levam um dispositivo que emite sinais para facilitar sua localização durante 30 dias. A Malásia não informou se recebeu algum desses sinais.

Os sistemas do avião também enviam informação para a terra mediante o ACARS que transmite via rádio ou por satélite mensagens curtas que incluem dados sobre os sistemas do avião. As autoridades malasianas informaram que a última comunicação do B777 através deste sistema foi à 1h07 do sábado (23 minutos antes de desaparecer).

Quão seguro é esse modelo de avião?

O B777-200 tem "um excelente histórico de segurança" devido a sua moderna tecnologia. Além disso, a linha aérea Malaysia Airlines possui uma sólida reputação, segundo Lacasa. No entanto, soube-se que a Boeing alertou há nove meses que detectou um problema de corrosão e fissuras na  fuselagem desse modelo, na junção da antena da comunicação por satélite (SATCOM), e, por isso, recomendou aos donos e operadores que os submetessem a uma revisão. A aeronave da Malaysia Airlines não estava afetada por essa possível falha, já que, segundo a Boeing, não tem essa antena.

Este modelo de avião já teve acidentes?

O único acidente que envolveu um B777 ocorreu em 7 de julho de 2013, quando um avião da linha aérea Asiana se despedaçou ao aterrissar no aeroporto internacional de San Francisco (EUA). Até então, este modelo não registrava nenhum incidente fatal desde que entrou em serviço em 1995. No acidente morreram três jovens chinesas, que foram atropeladas por um caminhão de bombeiros.

O avião tinha algum problema prévio?

A aeronave desaparecida tinha 11 anos de idade. Em 2012 teve um problema em um dos extremos de uma asa enquanto rodava pela pista, mas foi consertado e certificado como segura.

É a primeira vez que desaparece um avião?

O único caso recente foi o voo de Air France que em 1 de junho de 2009 caiu no Atlántico quando fazia a rota Rio de Janeiro - Paris. O piloto Lacasa explica que o caso mais famoso de desaparecimento de um avião é o que transportava a uma equipe de rugby e que serviu de argumento ao filme e o livro Vivos! Aquele acidente ocorreu em outubro de 1972 na Cordilheira dos Andes.

Como foi o caso de Air France?

O Airbus 330 decolou às sete da tarde do Rio de Janeiro, com 228 pessoas a bordo. Três horas e meia mais tarde se comunicou pela última vez com o Brasil. O comandante avisou que entravam em uma zona de turbulências. Não disse nada mais. Depois, o avião começou a emitir sinais automáticos que informavam diversas avarias, entre os que contava uma falha elétrica geral. Mais tarde desapareceu em plena tormenta.

Os primeiros restos do avião foram avistados dois dias depois a uns 650 quilômetros do arquipélago de Fernando de Noronha, ao nordeste de Brasil. No entanto, uma das caixas pretas não foi recuperada até maio de 2011.

O relatório final da Oficina de Investigação e Análise - organismo estatal francês encarregado da segurança aérea- veio à tona em julho de 2012. A conclusão é que a catástrofe foi causada por uma combinação de falhas técnicas e humanas.

Que pode ter acontecido com o B777?

Lacasa assegura que este caso é “extraordinário”, já que não é comum que após tantas horas não se tenha um sinal ou rastros do avião. “Por muito fulminante que seja o incidente, os aviões têm sensores e alarmes que seguem funcionando”, acrescenta. O especialista comenta que dado o extraordinário do caso “todas as hipóteses que a imaginação possa dar estão abertas”.

A busca

Onde estão buscando o avião?

No início, a busca se concentrou no mar entre Malásia e o Vietnã. Depois, avançou para a costa oeste da Malásia, ao estreito de Malaca. Agora, a busca foca no mar de Andaman e no oceano Índico.

Por que mudaram as regiões de busca?

As mudanças obedecem ao aparecimento de informações de que o avião pode ter voado por mais quatro horas desde o momento em que se perdeu contato com a aeronave.

Que países buscam o avião?

Equipes de vários países, incluindo Austrália, China, Estados Unidos, Filipinas, Indonésia, Malásia, Nova Zelândia, Singapura, Japão, Tailândia, Taiwan, Índia e Vietnã. Completam uma frota de 43 aeronaves e 45 barcos, que rastreiam uma área a mais de 93.000 quilômetros quadrados, superfície equivalente a de Portugal.

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