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Maduro rejeita a mediação da OEA na crise política da Venezuela

Castro e Morales assistem aos atos em homenagem a Chávez, um ano após a morte do líder O presidente venezuelano aproveitou a ocasião para anunciar o fim das relações com o Panamá

Nicolás Maduro acompanhado por Raúl Castro e Evo Morales.
Nicolás Maduro acompanhado por Raúl Castro e Evo Morales.MIGUEL GUTIÉRREZ (EFE)

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, descartou nesta quarta-feira qualquer mediação da Organização dos Estados Americanos (OEA) na crise política provocada pela onda de protestos nas ruas que já entra em sua quarta semana. “Que a OEA fique onde está”, advertiu ao organismo regional, que na quinta-feira realizará uma reunião informativa em seu conselho permanente sobre a Venezuela e seu Conselho Permanente.

Maduro fez a declaração durante um desfile militar em Caracas para homenagear Hugo Chávez, um ano após a sua morte. Anunciou que estava estudando adotar represálias contra "um governo lacaio" da região. Horas depois, confirmou que romperia relações diplomáticas com o Panamá, cujo governo solicitou uma reunião para examinar a crise da Venezuela, desatada pelos protestos estudantis e sua repressão, através de seu representante diplomático na OEA. "Depois que não venham reclamar e se fazer de vítima porque pelas vias diplomáticas comunicamos a opinião do governo revolucionário da Venezuela", disse.

Ele estava acompanhado no ato dos presidentes de Cuba, Raúl Castro; da Bolívia, Evo Morales; e do Suriname, Dési Bouterse. Grupos de oposição — ignorando a instrução oficial da coalizão opositora Mesa de Unidade Democrática de não se realizar atividades durante a jornada, “para respeitar os sentimentos de uma parte do país”— anunciaram que bloqueariam ruas e avenidas da capital para impedir ou entorpecer os deslocamentos dos mandatários, designadamente, de Castro, a quem assinalam como mentor do regime bolivariano. Efetivamente, muitas vias de Caracas, sobretudo em seus bairros de classe média, amanheceram fechadas com barricadas rudimentares.

A exibição de cunho nacionalista de Maduro ocorreu diante dos convidados internacionais como os presidentes de Cuba, Bolívia e Nicarágua, aliados da revolução bolivariana. "Somos um povo pacifista, mas também somos um povo sedento por defender os nossos direitos", ele gritou. O tom do discurso do sucessor de Hugo Chávez tinha pouco a ver com os seus convites conciliatórios feitos nos últimos dias, para conversar com a oposição. Os protestos ameaçaram estragar os preparativos para a comemoração dos eventos do aniversário.

Grupos da oposição - desobedecendo a determinação da Mesa da Unidade Democrática (MUD) de não haver atividades durante o dia para "respeitar os sentimentos de uma parte do país" - anunciaram que iriam bloquear as ruas e avenidas da capital venezuelana para impedir ou dificultar o movimento dos presidentes, em particular, Raúl Castro, conhecido como o mentor do regime bolivariano.

Muitas avenidas de Caracas, especialmente as áreas da classe média, amanheceram fechadas por barricadas. Apesar disso, os poucos convidados internacionais, incluindo o vice-presidente argentino Amado Boudou, e o representante especial do governo brasileiro, Marco Aurélio Garcia, chegaram ao desfile sem problemas, Maduro denunciou a tentativa de sabotagem por "parte de um grupinho de fascistas" em quatro cidades, incluindo "Gran Caracas". Ele disse que a conspiração havia sido derrotada e saudou a prisão de "vários chefes desses grupos violentos (...) Os prisioneiros, bem, esses estão presos."

Na parte da tarde, existiam vários bloqueios e focos de manifestações em diferentes partes de Caracas, bem como outras cidades do interior, como Valência, Maracaibo e Barquisimeto. Maduro pediu à Unidades de Batalha Bolívar Chávez (UBCh) e a outros grupos de base para colaborar com o que rege o trabalho de restaurar a ordem.

Os ataques verbais do presidente venezuelano ocorreram antes iniciar o desfile militar no Paseo de Los Próceres, a sudoeste de Caracas. Na parada, ele destacou o novo armamento adquirido pela Venezuela, vindo da Rússia, incluindo mísseis terra-ar, Sukhoi T72 blindado e versões mais atualizadas de outras armas. Também desfilaram os beneficiados das missões de assistência social do governo e funcionários da milícia Bolivariana. As intervenções belicosas foram intercaladas com shows de cantores de música pop e apresentações folclóricas.

Mais tarde, às 16h25 , na exata hora em que Chávez morreu, de acordo com a versão oficial, os atos comemorativos seguiram para o Quartel da Montanha, antigo Museu Histórico Militar, convertido, desde o ano passado, no mausoléu do comandante. As tradicionais salvas de artilharia precederam a intervenção do presidente da Bolívia, Evo Morales, orador de honra e amigo do falecido presidente. Também chegaram para o evento o presidente da Nicarágua, Daniel Ortega (que não se veia em público há vários dias), e o primeiro-ministro da Jamaica, Portia Simpson-Miller, que também falou no túmulo que guarda os restos mortais do ex-tenente coronel.

A programação do dia será concluída à noite, com a estreia do documentário Meu amigo Hugo. Uma produção do canal Telesur, financiado pela Venezuela, dirigido pelo cineasta norte-americano Oliver Stone, conhecido simpatizante do processo bolivariano.

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