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22% das europeias sofreram alguma violência de seu parceiro

Nos países mais igualitários são maiores as agressões contra as mulheres

Uma em cada cinco mulheres na Espanha sofre violência de gênero.Foto: atlas
Elena G. Sevillano

As organizações feministas europeias comemoraram ontem porque, enfim, existem dados comparáveis sobre violência contra a mulher em todos os países da UE, o que vai facilitar que se iniciem melhores e mais específicas campanhas de prevenção e de atuação. No entanto, os resultados de uma pesquisa feita com 42.000 mulheres (1.500 em cada país da UE) deram fim a qualquer outra interpretação positiva.

Uma em cada três mulheres europeias sofreu alguma violência física e/ou sexual, segundo revelou ontem a Agência dos Direitos Fundamentais da UE (FRA, em inglês) durante a apresentação do levantamento. Trata-se de 62 milhões de mulheres. E algo mais de uma da cada cinco (22%) respondeu aos entrevistadores que sofria essa violência física e/ou sexual por parte do parceiro ou ex-parceiro.

Pela primeira vez falamos de dados para toda a UE que procedem de entrevistas Sami Nevala, da FRA

Os resultados do trabalho, apresentado ontem no Parlamento Europeu, demonstram, segundo a porta-voz da FRA, Blanca Tapia, que “as mulheres não estão seguras nem em casa nem no trabalho”. O inquérito pergunta sobre experiências de violência física, sexual e psicológica, além de perseguição ou assédio sexual. Entre outras coisas, conclui que 5% das interrogadas disseram ter sido violadas. Cerca de 43% relataram algum tipo de violência psicológica por parte de seu parceiro atual ou anterior (humilhações em público, proibição de sair de casa, ameaças físicas…). 55%, isto é, mais da metade, disseram ter sofrido algum tipo de assédio sexual. Um terço das vítimas assinalaram que o autor era um chefe, um colega ou um cliente.

“Pela primeira vez falamos de dados para toda a UE e que não procedem de ONG nem de fontes governamentais, mas sim de entrevistas. Foi um processo longo. Faz dois anos que estamos desenvolvendo o inquérito com o trabalho de campo”, explicou ontem Sami Nevala, da FRA. As entrevistas, feitas com mulheres de 18 a 74 anos escolhidas segundo uma amostragem aleatória, foram feitas ao vivo, também por mulheres, nas casas das interrogadas, ou em locais eleitos por elas onde se sentiam confortáveis. Só uma mulher por unidade familiar. As perguntas não eram genéricas. Por exemplo, não deviam responder se sofriam violência física. “Fizemos perguntas específicas sobre os tipos de violência”, explicou Nevala. “Você já apanhou?” é uma delas.

Em muitos resultados, os mapas com os percentuais mostram chamativas diferenças por países. Parece ter um padrão. Os países escandinavos têm mais mulheres que, por exemplo, relatam ter sofrido violência pelas mãos de seus colegas. Por outro lado, em países do sul e do leste, como Espanha, Portugal, Grécia ou Polônia,os percentuais são mais baixos. “No relatório, tratamos de explicá-lo ou, melhor ainda, de assinalar coisas que devem ser levadas em conta. Uma é a igualdade de gênero. Há uma correlação. Quanto mais igualitário é um país, mais fala-se dos incidentes violentos contra as mulheres. É mais fácil para essas mulheres falar sobre isso”, assinalou Nevala. “Não se trata de que tenha menos violência em um país que em outro. De fato, é provável que nos locais onde as mulheres não estão familiarizadas com este tipo de pesquisas, onde não falem desta questão, se reportem menos casos", coincide Karima Zahi, coordenadora do Lobby Europeu de Mulheres.

Uma em cada três mulheres europeias sofreu violência física e/ou sexual

A pesquisa, feita a pedido do Parlamento Europeu e da presidência espanhola do Conselho, que solicitaram dados sobre violência contra as mulheres em 2010, também perguntou pela comunicação, ou a ausência dela à polícia, ou a outros serviços. 67% das mulheres não comunicaram a ninguém sobre o caso mais grave de violência por parte de seu parceiro, segundo o levantamento. “Os resultados são surpreendentes, sobretudo em alguns Estados que se supõem mais avançados”, assegurou a parlamentar búlgara Antonyia Parvanova, palestrante de um relatório sobre violência machista que foi votado pelo Parlamento Europeu há uma semana e que exige normas de alcance europeu para se combater.

“Pode ser feito bem mais. Devem ser dados passos efetivos, por em prática as medidas. As campanhas devem ser dirigidas a todo mundo, desde a infância. Após os primeiros sete anos é  tarde demais para falar de igualdade de gênero e educar os jovens sobre isso”, insistiu. A nova legislação, que pode sair desse relatório, introduziria normas a nível europeu sobre a formação dos servidores públicos e profissionais que entrem em contato com as vítimas, campanhas de sensibilização, linhas telefônicas gratuitas e centros de acolhimento especializados (onde não existam), além de criar a figura nos Estados membros dos “relatores nacionais” sobre violência contra as mulheres.

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