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Europa e EUA tentam pressionar a Rússia para evitar uma guerra

Obama examina medidas “para isolar” a Rússia se não se retirar da Crimeia

O chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo (e), e seu par de Luxemburgo, Jean Asselborn, no Conselho nesta segunda-feira.
O chanceler espanhol, José Manuel García-Margallo (e), e seu par de Luxemburgo, Jean Asselborn, no Conselho nesta segunda-feira.EFE

O Ocidente observa com medo como a crise ucraniana se encaminha para um conflito mundial. Europa e Estados Unidos movem os fios para evitar uma guerra às portas da UE, embora no momento as medidas para amedrontar a Rússia sejam escassas. Bruxelas renunciou nesta segunda-feira a sancionar Moscou pela invasão da península da Crimeia, enquanto Washington pediu a retirada das tropas russas. Em duras declarações, o presidente Obama garantiu que iria estudar medidas para “isolar a Rússia”. Além de elevar o tom, a UE sabe que não é fácil assustar o presidente russo, Vladimir Putin, e por isso decidiu empenhar-se a fundo no diálogo. Se não houver avanços, os chefes de Estado e de Governo procurarão dar um novo passo em uma cúpula extraordinária convocada para quinta-feira.

O diagnóstico sobre o que ocorre às portas da UE não pode ser mais dramático. “Trata-se da situação mais grave vivida no mundo desde a queda do Muro de Berlim”, sentenciou o ministro espanhol de Relações Exteriores, José Manuel García Margallo, ao término da reunião realizada em Bruxelas pelos 28 chanceleres dos países do bloco. A frase havia sido expressa de maneira idêntica pelo ministro alemão, Frank-Walter Steinmeier. E, no entanto, as medidas adotadas foram mais tíbias até que as aprovadas há alguns dias contra o regime ucraniano, com Viktor Yanukovich ainda no poder.

O que iria ser uma suspensão do diálogo que a UE e a Rússia mantêm para eliminar a exigência de visto entre ambas as partes se transformou em uma ameaça de bloqueá-lo “se não forem dados passos para diminuir a tensão”. E entre definir o avanço russo na Crimeia como invasão ou considerá-lo uma violação da soberania ucraniana e de sua integridade territorial, os ministros escolheram a segunda opção. Os chefes da diplomacia optaram por um viés diplomático mais moderado à espera de que a alta representante para a Política Exterior, Catherine Ashton, se reúna nesta terça-feira em Madri com o ministro russo da área, Serguei Lavrov.

A única coisa que os ministros afirmaram foi a anunciada suspensão dos preparativos do G-8 (grupo que reúne as grandes potências mundiais mais a Rússia) e o apoio a uma possível missão de observadores internacionais e intermediários a cargo da OSCE, o órgão que vela pela segurança na Europa. Eles também debateram o acordo de destinar já uma primeira parcela de 1,5 bilhão de euros (3,21 bilhões de reais) à Ucrânia para aliviar sua precária situação econômica.

A única coisa que os ministros afirmaram foi a anunciada suspensão dos preparativos do G-8 e o apoio a uma possível missão de observadores internacionais.

A Europa tem motivos poderosos para ir com muita cautela em qualquer assunto que a Rússia possa enfrentá-la. Cerca de um terço da energia que a UE necessita para sobrevivência provém da Rússia, um porcentual que caiu nos últimos anos precisamente porque Bruxelas quer reduzir a dependência do parceiro russo. Mas a Rússia também não pode prescindir desse vínculo, pois 24% de suas exportações vão parar no bloco comunitário. A Europa poderia tentar jogar melhor essa cartada, mas no momento acredita ter mais opções de êxito dialogando do que sancionando.

Bruxelas define como primeiro passo a cúpula que os líderes europeus realizarão na quinta-feira. Até então a UE espera que as tropas russas tenham saído dos territórios que ocuparam na Crimeia. Se não for assim, “decidiremos quais são as consequências para a relação bilateral”, observou Ashton.

Da parte dos Estados Unidos, a estratégia da Casa Branca para frear Putin subiu nesta segunda-feira um degrau. Obama garantiu que se a Rússia continuar no caminho iniciado na Ucrânia, os EUA adotarão uma série de medidas –econômicas, diplomáticas...–que “isolarão a Rússia”. O presidente dos EUA assegurou que “o mundo em sua maioria está de acordo em que os passos dados pela Rússia implicam uma violação da lei internacional” e de acordos prévios “pactuados pela Rússia”.

Da parte dos Estados Unidos, a estratégia da Casa Branca para frear Putin subiu nesta segunda-feira um degrau.

Obama fez essas declarações depois que um jornalista lhe perguntou sobre a crise, ao encerrar sua declaração depois de reunir-se com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu. “O que não se pode aceitar é que a Rússia desloque com impunidade soldados para a área e viole princípios básicos que são reconhecidos em todo o mundo.”

Na opinião do presidente norte-americano, que se vê com as mãos atadas diante do que realmente pode fazer frente a Putin, além da imposição de sanções, deveria ser possível reverter essa situação.

Algumas horas antes, o vice-presidente Joe Biden telefonou ao primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, para pedir à Rússia que retire “suas forças” da Crimeia e inicie o diálogo. Biden solicitou também a Medvedev que endosse o envio “imediato” de observadores internacionais à Ucrânia.

A conversa telefônica precedia a visita que o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, realizará nesta terça-feira a Kiev para enfatizar o apoio de Washington ao novo Governo da Ucrânia. Antes disso, o último passo dado pela Casa Branca para condenar a incursão russa foi o anúncio de que os EUA não enviarão uma delegação presidencial aos jogos paralímpicos de inverno de Sochi. Em troca, os atletas norte-americanos participarão nos jogos que se iniciam na próxima sexta-feira às margens do Mar Negro.

De sua parte, o republicano John Boehner, presidente da Câmara dos Deputados, qualificou o presidente russo de “valentão”. “É hora de nos alçarmos contra Putin”, ressaltou.

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