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22ª RODADA DO ESPANHOL | BARCELONA - VALENCIA

Pizzo dá o golpe no Camp Nou

O time de Pizzi venceu (2x3) o azul-grená, sempre atrás do marcador e derrotado pela primeira vez em casa

Ramon Besa
Messi, depois de falhar em uma jogada.
Messi, depois de falhar em uma jogada.ALBERT GEA (REUTERS)

Pizzi era lembrado no Camp Nou como um homem agradável desde que fez o gol da virada sobre o Atlético em uma partida típica de copas pelo Barça. O atacante deixou a sua marca na épica recuperação da época de Bobby Robson: 5-4. Pizzi foi protagonista naquele 12 de março de 1997, uma partida tão histórica quanto a que disputou nesta tarde como técnico do Valencia, que ganhou do Barcelona, líder de La Liga há 59 rodadas, vencedor de 25 partidas seguidas no seu estádio e agora nas mãos do Atlético e do Madrid. Os mistérios do futebol são incompreensíveis para o Barça, capaz de transformar uma vitória esperada por 1-0 em um fiasco monumental: 2-3. Nenhum jogador expressou tanto a sua desorientação quanto Messi. Martino também não ajudou. No final das contas, Pizzi foi o herói inesperado de um duelo argentino no Camp Nou.

Agora foi a equipe que ficou sem resposta depois da crise do clube. Não será fácil encontrar um ponto de virada depois de tanta paralisia e discórdia. Estão desorientados os que mandam, os que jogam e também os que assistem, vítimas de um barcelonismo da imobilidade no gramado e da confusão dentro da área. Tempos convidativos para relembrar a figura aglutinadora de Luis Aragonés ou o feito de Pizzi. As coisas estão tão preocupantes para o Barcelona que ele pode precisar tanto de um ataque de loucura quanto de um de racionalidade. Não houve a alegria de um gol da virada, nem a sanidade, nem domínio das áreas do campo, desaparecido desde que Busquets se perdeu em campo. Muito vulnerável e com um banco incapaz de corrigir os erros, entregou-se ao martírio aos olhos de 67 mil espectadores e agora está sem margem de erro em La Liga.

BARCELONA, 2 – VALENCIA, 3

Barcelona: Valdés; Alves, Piqué, Mascherano, Alba; Xavi (Iniesta, marcou um gol aos 65'), Busquets, Cesc (Tello, marcou um gol aos 76'); Alexis, Messi e Pedro. Não jogaram: Pinto; Bartra, Adriano, Song e Sergi Roberto.

Valencia: Diego Alves; Barragán, Ricardo Costa, Mathieu, Bernat; Oriol Romeu, Javi Fuego; Feghouli, Parejo (Míchel, marcou um gol aos 48') Piatti (Fede, marcou um gol aos 86'); e Alcácer (Vargas, marcou um gol aos 73'). Não jogaram: Guaita; Vezo, Portu e Jonas.

Gols: 1X0, aos 7'. Alexis. 1X1 aos 44'. Parejo. 1X2 aos 48'. Piatti. 2X2 aos 54' Messi, de pênalti. 2X3 aos 59' Alcácer.

Árbitro: Pérez Montero. Deu cartão amarelo a Parejo, Ricardo Costa, Mascherano, Diego Alves e Busquets. Expulsou Alba aos 77'.

Camp Nou. 66.969 espectadores. Fez-se um minuto de silêncio em homenagem a Luis Aragonés.

O resultado foi tão inexplicável quanto o gol de Alexis. O chute do chileno é um mistério indecifrável para qualquer zagueiro, também para os melhores goleiros, inclusive Diego Alves, vencido pelo arremate estranho do atacante de Tocopilla. O artilheiro do Barça, que no início do segundo turno de La Liga já tem o mesmo tanto de gols que na sua primeira temporada no Camp Nou (15), completou um cruzamento de Messi, após um escanteio, como se inflasse um balão na frente do goleiro do Valencia. Mordido e mascado, como se o atacante barcelonista tivesse chutado ao chão, o couro se levantou a caminho da rede. Alexis participa bastante do jogo, passa a impressão de que seus arremates sempre encontram o alvo quando chuta sem parar, de primeira, como se fosse um atacante que vive dos gols e não de seu trabalho.

O gol do chileno no começo da partida parecia o melhor anúncio de uma vitória esperada pelo bom momento do Barça e os problemas do Valencia. Falso. A equipe azul-grená jogava bem e rapidamente, muito dinâmica, sempre disposta a finalizar as jogadas, conquistadas em um ataque estático, pela profundidade das chegadas, ou nos espaços propiciados pelo ir e vir do time de Pizzi. A confiança e o bom ritmo azul-grená constratavam com a dificuldade do rival, confuso depois de tantas trocas de jogadores, treinadores e diretores, há muitos dias sem comando e sem um plano, entregado à capacidade de surpreender das equipes que confiam em um último desejo antes de serem executadas. E o Barça atendeu ao desespero do Valencia.

Os azulgrenás acharam que a partida estava tão fácil que a abandonaram a partir da primeira meia hora, quando Parejo empatou. Apesar de seu jogo ter sido muito centralizado, ignorando os lados do campo, o Barça havia criado oportunidades o bastante para encerrar o confronto antes do 1-1. Tocava fácil, fazia tabelas e pressionava a saída de bola do Valencia. Naqueles minutos, os azulgrenás não acertaram os chutes a gol: faltou pontaria, o capricho dos seus atacantes, pouco finos, excessivamente confiantes, nada seletivos. Com a falta de definição do Barça, o Valencia empatou depois que Parejo ganhou uma dividida, fez uma tabela com Feghouli para marcar, pouco depois de Costa errar um cabeceio com o gol vazio e Valdés já vencido.

O desconforto azulgrená se agravou pouco antes do intervalo quando Piatti ganhou no alto de Alves e cabeceou às redes uma bola cruzada por Barragán e mal defendida por Valdés, que hesitou na saída do gol e não foi nem goleiro e nem zagueiro, abrindo a sua meta para o rival. Nem uma jogada fortuita e aparentemente mal avaliada resgatou o Barça: uma bola tocada por Pedro bateu no ombro de Costa, e o árbitro apitou surpreendentemente um pênalti, que Messi converteu: 2-2.

Descontrolado, sem intensidade e organização coletiva, precisando tanto de lucidez quanto de raiva, o Barcelona aceitou a derrota como algo irremediável de o início do desespero

O empate também não despertou o Barcelona. Messi não encontrou o seu lugar no gramado, nem como falso 9, nem pelos lados, nem como camisa 10, e a defesa, chefiada por Valdés, foi vencida de maneira escandalosa. O Valencia usou uma jogada pela lateral para garantir a vitória, depois que Alcácer completou um cruzamento de Feghouli. O gol aturdiu tanto os jogadores quanto o treinador, que se complicou nas substituições e na leitura do jogo, e por extensão na partida, finalmente nas mãos de Pizzi. A substituição de Xavi já se transformou em um clássico dos momentos de desespero do Barça. Não chegou a ameaçar o Valencia. Nem sem Xavi, sem Cesc e com Tello, e muito menos sem Alba, expulso depois de uma partida que irritou até o azulgrená mais apaixonado. Nada funcionou para o Barça desde o 2-3. Descontrolado, sem intensidade e organização coletiva, precisando tanto de lucidez quanto de raiva, o Barcelona aceitou a derrota como algo irremediável de o início do desespero. Apenas houve uma ocasião em um tiro de Messi que passou perto da trave, quem sabe como uma metáfora da partida e do campeonato, e também da fragilidade do Barça, nada preciso no ataque, sem solidez tensão defensiva, abandonado à própria sorte, vítima da fé de Pizzi.

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