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Irã abre as portas de seu setor petrolífero ao investimento ocidental

Em Davos, Rohaní convida empresas a apostarem no principal recurso do país

O presidente do Irã, Hasan Rohaní, em Davos.
O presidente do Irã, Hasan Rohaní, em Davos.DENIS BALIBOUSE (REUTERS)

O Irã quer convencer o mundo de sua vontade de mudança e abertura, e nada melhor do que fazê-lo comparecendo à reunião que representa o espírito capitalista por excelência, o Fórum Econômico Mundial que acontece em Davos. O presidente Hasan Rouhaní foi o convidado estrela do dia e reuniu uma multidão na sala principal do centro de convenções da estação alpina. Rohaní utilizou a melhor de suas armas para avançar na tentativa de seduzir o Ocidente e superar o isolamento internacional de seu país. O homem que devolveu a esperança aos iranianos foi acompanhado do ministro do Petróleo, Bijan Zanganeh, e ofereceu acesso às reservas iranianas de hidrocarbonetos para contribuir com a estabilidade dos mercados. Também para atrair as grandes empresas internacionais que são as únicas que podem modernizar a indústria obsoleta do país.

Pouco antes de sua participação pública, Rohaní reuniu-se em particular com executivos de várias petroleiras, a quem assegurou que até setembro seu país terá pronto um novo modelo de contrato de exploração. Tanto Rohaní como Zanganeh insistiram no desejo de abrir a indústria aos investimentos e à tecnologia ocidentais.

"A República Islâmica do Irã está disposta a se engajar na cooperação construtiva para promover a segurança energética mundial, com base em seus amplos recursos de petróleo e gás”, disse o presidente iraniano.

A oferta dele aconteceu após ter reiterado a mensagem de “amizade e coexistência pacífica” com todos os países que se tornaram o eixo de todas as suas intervenções desde que chegou ao governo no ano passado. Além disso, assegurou que o Irã “nunca buscou a arma atômica” e não vai aceitar nenhuma discriminação em seu desenvolvimento da tecnologia nuclear para fins pacíficos. Rohaní disse que deseja colocar seu país entre as dez primeiras economias do mundo.

Alguns presentes disseram que empresas petrolíferas multinacionais se amontoaram para tentar obter a todo custo uma conversa com o ministro Zanganeh. “Foi uma jogada muito inteligente por parte do Irã. Ao estar acompanhado do ministro do Petróleo, Rohaní assegurava a atenção do Fórum e despertava o interesse dos executivos de Davos. E assim foi, Irã, China e Japão estão conseguindo atrair todo o interesse desta edição”, disse Ian Bremmer, presidente do Eurasia Group.

Desde sua tomada de posse, em agosto, Rohaní tratou de emendar as relações com o Ocidente

As sanções internacionais ao Irã por causa do programa atômico têm impedido desde 2012 a modernização de sua indústria petrolífera, afetada desde a revolução de 1979 pelo boicote dos Estados Unidos, com quem desde então a República Islâmica não têm laços diplomáticos. Em consequência, seus recursos são subexplorados e, nos dois últimos anos, suas exportações de petróleo caíram pela metade, privando o país de sua principal fonte de renda.

Desde sua posse, em agosto passado, Rohaní tenta melhorar as relações com o Ocidente, com os olhos em Washington e na suspensão das sanções, uma porta aberta com as atuais negociações nucleares.

Em Davos, Rohaní buscava sem dúvida investimentos para o setor energético de seu país, um passo-chave para reativar uma economia em coma uma vez que as sanções sejam retiradas. O fato é que sua produção de petróleo é anêmica, diante da capacidade, e ronda os 2,7 milhões de barris por dia, 8% abaixo dos níveis de 2012. A falta de infraestrutura obriga o país a importar boa parte da gasolina que consume.

“O fato de o presidente do Irã ter vindo à reunião de hoje... é claramente um sinal de que o Irã quer se abrir às companhias internacionais de petróleo”, disse na saída o diretor-geral da italiana Eni, Paolo Scaroni, segundo a agência Reuters.

Também estiveram presentes representantes da francesa Total, da britânica BP e das russas LUKoil e GazpromNeft, entre outras. Não se sabe se houve também representantes de alguma empresa norte-americana. Zanganeh já deixou claro em dezembro passado em Viena que seu país não tem problema com as companhias desta nacionalidade. Inclusive mencionou duas delas, Exxon Mobil e ConocoPhillips, entre as sete cujo regresso ao Irã é desejado pelo governo, ao lado de Total, Shell, ENI, BP e a norueguesa Statoil. A espanhola Repsol, que trabalhou no país até 2012, e a Petrobras, não estavam entre elas.

Mas além do fim das sanções, que ainda está a pelo menos 18 meses de distância, as companhias esperam uma mudanças nas condições oferecidas pelo Irã até então. As autoridades iranianas sabem disso e anunciaram para abril uma grande conferência internacional para avançar com o novo modelo de contrato, por um período mais longo do que antes e em que se espera que as companhias obtenham a propriedade do petróleo extraído, já que a Constituição iraniana impede que possuam as reservas.

Sinais de abertura

El País

14 de junho de 2013: O clérigo moderado Hasan Rohaní é eleito presidente da República com 50,71% dos votos e uma participação eleitoral de 72%. Ficam para trás oito anos de governo ultraconservador liderado por Mahmud Ahmadinejad.

16 de junho: Rohaní anuncia uma reestruturação econômica e mais transparência em seu programa nuclear.

18 de setembro: O regime iraniano, uma semana antes de Rohaní discursar na Assembleia-General da ONU, liberta uma dezena de presos políticos que foram detidos pelo Governo anterior.

24 de setembro: 68a Assembleia da ONU em Nova York. Apesar das expectativas, os presidentes Barack Obama e Hasan Rohaní não se reúnem frente a frente e nem se cumprimentam, mas cresce a esperança de pôr fim a mais de 30 anos de enfrentamentos.

26 de setembro: O presidente Hasan Rohaní menciona explicitamente o Holocausto e condena os crimes contra a humanidade perpetrados pelo regime nazista durante uma entrevista concedida à emissora norte-americana CNN.

27 de setembro: Histórica conversa por telefone entre Obama e Rohaní, em que tratam do programa nuclear iraniano e da possibilidade de reiniciar negociações entre as duas potências.

15 de outubro: Reunião entre o Irã e o grupo 5 +1 em Genebra. Se acerta um pacto para suavizar as sanções contra Teerã em troca da suspensão do enriquecimento de urânio.

20 de janeiro de 2014: A UE anuncia a suspensão de parte das sanções econômicas contra o Irã. País poderá comercializar petróleo e metais.

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