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Inflação de dezembro tem a maior alta para um mês em dez anos

Aumento da gasolina e preço dos alimentos contribuíram para um aumento de 0,92%, o maior índice mensal desde abril de 2003. No acumulado do ano, a alta chegou a 5,91%

Marina Rossi
Alta da gasolina contribuiu para a inflação. Renato Araújo/ABr
Alta da gasolina contribuiu para a inflação. Renato Araújo/ABr

Foi uma surpresa para os economistas. Mas não para o Governo. O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), e que calcula a inflação no país, registrou uma alta de 0,92% em dezembro a maior alta para um mês desde abril de 2003. No ano de 2013, a inflação ficou em 5,91%, acima dos 5,84% projetados pelo Governo, índice igual ao registrado em 2012.

"Esse resultado é uma surpresa", diz o economista e diretor do MBA Executivo da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), Tharcisio Souza Santos. "Esperava-se um número mais baixo, especialmente para o acumulado de 2013", diz. Os dois setores com maior impacto nesse índice foram o dos transportes - que representa 40% do aumento do IPCA - e dos alimentos, representando um quarto de toda a alta de preços.

No caso dos transportes, um dos fatores de maior relevância para essa alta foi o aumento da gasolina, em novembro do ano passado, deixando o transporte público também mais caro. Outra conta que ficou mais pesada para o consumidor nessa área foram as passagens aéreas, que chegaram a subir até 31% em Salvador.

Segundo Santos, esse aumento da gasolina deveria ter sido feito antes. "O aumento foi pouco e o fizeram muito tarde. Se tivessem feito antes, talvez essa alta se diluísse ao longo do ano, impactando menos no acumulado de 2013". Para ele, outro aumento deve acontecer. E logo. "Prepare-se que vem um outro aí, antes do final do trimestre", prevê.

Já de acordo com o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, o transporte não é o maior vilão dessa história, e sim, a alimentação. "É bem verdade que a alimentação tem um peso relevante na formação do IPCA, mas, mesmo assim, choques adversos e pressões continuadas fizeram os preços avançarem em novembro e dezembro".

A meteorologia representa um fator crucial na hora de calcular o preço dos alimentos. A quantidade de chuva reflete no tamanho da produção, regulando, por sua vez, os preços.

"É bem verdade que muito pouco pode se fazer em relação à alta dos alimentos, a não ser criar estoques reguladores adequados", diz Perfeito, que explica que, por outro lado, essa persistência nas altas no setor respondem também a outra questão: "Alimentos são sensíveis à variação da renda do trabalhador. Enquanto a renda continuar avançando em termos reais, a inflação deste grupo pode continuar crescendo também".

Segundo Perfeito, para que os preços parem de subir dessa maneira, seria necessário que o Governo intervisse nos salários. "A persistência deste incômodo em alimentos nos faz pensar se não seria o caso de tentar de fato apertar ainda mais a renda do trabalhador". Em tempo: Entra em vigor neste mês de janeiro o reajuste do salário mínimo de 678 reais para 724 reais, o que deve colaborar para a continuidade no consumo.

Se, por um lado, o clima não ajuda na baixa dos preços dos alimentos - janeiro é um mês de muita chuva no Brasil - o calendário também não favorece às mudanças. "Acreditamos que a presidente Dilma pode ainda reverter este pessimismo, mas estando em ano eleitoral isto exigirá da presidenta muita habilidade de negociação", pondera Perfeito. "Esse IPCA confirma a minha preocupação de que o primeiro trimestre seja muito ruim. Esperamos que o Governo tome atitudes mais duras. Embora eu saiba que ele não vai tomar", emenda Souza.

No acumulado do ano, as altas em cada um dos setores calculados pelo IBGE foram as seguintes: Alimentação e bebidas: 8,48%; Habitação: 3,40%; Artigos de residência: 7,12%; Vestuário: 5,38%; Transporte: 3,29%; Saúde e cuidados pessoais: 6,95%; Despesas pessoais: 8,39%; Educação: 7,94%; Comunicação: 1,50%.

Já no mês de novembro, a alta do segmento de Transportes foi de 1,85%, enquanto o segundo setor de maior alta, o de Alimentação e bebidas, foi de 0,89%.

Governo

Embora as ponderações dos economistas não sejam das mais otimistas, o Governo se pronunciou na manhã desta sexta-feira demonstrando pouca surpresa com o IPCA. De acordo com o ministro interino da Fazenda Dyogo Henrique - o ministro Guido Mantega está de férias - disse hoje que o índicenão surpreende o governo, embora alta tem ficado acima dos 5,8% previstos.

“Já esperávamos que dezembro tivesse um índice um pouco mais alto por conta do aumento do preço da gasolina e também é um período de férias, quando as passagens aéreas tiveram uma contribuição para que o índice viessem um pouco mais alto em dezembro”, disse Henrique.

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