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Uma mulher apaixonada

A Infanta Cristina rompeu com seu marido Por enquanto, não planeja nem se separar nem renunciar aos seus direitos monárquicos

Natalia Junquera
Cristina chega ao seu trabalho, em abril do ano passado.
Cristina chega ao seu trabalho, em abril do ano passado.Andreu Dalmau (EFE)

A infanta Cristina (Madri, 1965) telefonou a seu pai e lhe comunicou que no dia seguinte iria visitá-lo no hospital com seu marido, Iñaki Urdangarin. Era novembro de 2012, Dom Juan Carlos estava internado na clínica Quirón para ser submetido pela terceira vez a uma cirurgia no quadril e o palácio La Zarzuela tentava há mais de um ano evitar o que dona Cristina estava a ponto de provocar: a aparição em público de toda a família real, incluindo o acusado duque de Palma. Finalmente, a rainha, a infanta, Urdangarin e o filho mais velho deles chegaram em um carro e quinze minutos depois, em outro, os príncipes. Encontraram-se no quarto do rei, mas não diante das câmeras porque os mais interessados, a equipe do La Zarzuela e os próprios príncipes, evitaram. A história, em qualquer caso, revela até que ponto dona Cristina rompe com seu marido.

Não passa pela cabeça da filha mais nova dos reis, segundo fontes próximas, a ideia do divórcio. Tampouco pensa de momento renunciar aos seus direitos, apesar de que seria um gesto meramente simbólico, já que dona Cristina é a sétima na linha de sucessão ao trono, depois do príncipe Felipe, as duas filhas dele, sua irmã Elena e seus dois sobrinhos.

O palácio La Zarzuela não pergunta por ela nas pesquisas que recebe a cada quinzena para medir o grau de popularidade da instituição e do principal núcleo da família real – reis e príncipes – mas decidiu afastá-la da vida oficial da casa quase que no mesmo momento que Urdangarin.

Durante muito tempo, Cristina foi a imagem da modernidade numa instituição como a Coroa. Ela foi a primeira mulher na monarquia espanhola com grau universitário – se formou em 1989 em Ciência Política pela Universidade Complutense. Naquele ano, dona Cristina manifestava valorizar “a simplicidade, o senso de humor e a naturalidade”. Dois anos depois, num café da manhã com jornalistas espanhóis na sede da Unesco, em Paris, ela explicava com nervosismo, por causa do contato com a imprensa, seu desejo de ter um emprego e sua intenção de se casar por amor.

Em 1992 mudou-se para Barcelona, onde dividia um apartamento com um amigo do mundo da vela, Vicki Fumado, e em 1993 começou a trabalhar no banco La Caixa, com um salário inicial de 1.200 euros (3.886 reais) por mês.

Conheceu Urdangarin no verão de 1996 num evento organizado pelo Comitê Olímpico Espanhol e o casal anunciou o noivado em 30 de abril do ano seguinte, depois de nove meses de relacionamento. Como presente de casamento, o rei concedeu-lhe o título de duquesa de Palma.

Quando se casaram, dona Cristina ganhava 200.000 pesetas (3.886 reais) por mês no banco La Caixa e Urdangarin tinha um salário recorde de 10 milhões de pesetas (193.500 reais) por ano como jogador de handebol no Barcelona.

Mas o seu estilo de vida subiu, como o de Urdangarin. As declarações de renda em poder do juiz no caso Nóos mostram que o casal dobrou sua renda em apenas dois anos: de 162.360 euros em 2007 para 311.169 euros em 2009. Os salários aumentaram, assim como a casa deles, até o descomunal palacete de Pedralbes que compraram por seis milhões de euros e cuja reforma garantem terem investido outros três milhões de euros.

Enquanto esteve na folha de pagamento do La Zarzuela, ou seja, enquanto realizou eventos oficiais e recebeu por isso, sob o conceito de despesas de representação que Dom Juan Carlos distribui a seu critério entre os membros da família, recebeu transferências da Casa do Rei de 79.366,32 euros em 2007 e de 75.877 euros em 2008. O La Zarzuela não detalha o valor que o monarca distribui, mas os dados se tornaram públicos quando as contas da infanta foram auditadas como parte da investigação do caso Nóos.

Ela mora em Genebra desde o fim do verão. O casal tinha decidido meses atrás que seus filhos não iriam começar um ano escolar em Barcelona para mantê-los longe do escândalo e da zombaria pela condenação de seu pai. Urdangarin passa longas temporadas com eles na cobertura de luxo em que dona Cristina vive atualmente, mas ele continua morando em Barcelona. O banco La Caixa encontrou um posto para remover a infanta para a Suíça, da mesma forma que a Telefónica havia feito para levar o duque de Palma para longe da Espanha, em Washington.

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