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Três ministros turcos se demitem após uma grande operação contra a corrupção

Titulares das pastas de Economia, Interior e Urbanismo deixam os cargos após a detenção de seus filhos em escândalo de suborno

Os ministros de Economia (direita), Urbanismo (segundo à direita) e Interior (segundo à esquerda), ontem em Ankara.
Os ministros de Economia (direita), Urbanismo (segundo à direita) e Interior (segundo à esquerda), ontem em Ankara.AFP

O Governo da Turquia, dirigido pelo político islâmico Recep Tayyip Erdogan, se viu sacudido hoje pela demissão de três ministros cujos filhos foram detidos na semana passada em uma operação contra a corrupção. A saída desses ministros, um dos quais chegou a pedir também a demissão do primeiro-ministro, mergulha o Governo turco em uma grave crise.

O ministro de Planejamento Urbanístico, Erdogan Bayraktar, foi o último a abandonar seu cargo, depois das demissões dos titulares da Economia, Zafer Çaglayan, e de Interior, Muammer Güler, cujos filhos estão sob prisão preventiva, acusados de terem participado de uma rede de subornos. Bayraktar defendeu sua inocência e, diferentemente de seus dois colegas, acusou o primeiro-ministro Tayyip Erdogan de compartilhar responsabilidades e defendeu sua demissão. “Pelo bem do país, acredito que o primeiro-ministro deveria se demitir”, declarou. Trata-se de um desafio sem precedentes contra o primeiro-ministro, segundo quem a grande operação anticorrupção da semana passada é uma “operação suja” orquestrada no exterior para prejudicar o desenvolvimento do país.

Bayraktar, Çaglayan e Güler têm um filho cada um entre os detidos ou interrogados na operação da semana passada. A polícia investigava uma trama que recebia subornos para manipular licitações para a construção de casas pelo Órgão de Desenvolvimento da Moradia Social. Entre os detidos estavam o prefeito do distrito mais islâmico de Istambul e vários empresários e banqueiros vinculados ao Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), o partido do primeiro-ministro. Os três demitidos defenderam sua inocência e a de seus filhos.

“Renuncio ao meu cargo de ministro da Economia para contribuir para que a verdade venha à luz e para desbaratar essa conspiração que afeta meu filho e meus colegas de trabalho”, escreveu Çaglayan em nota. Já Güler reiterou a teoria da conspiração do primeiro-ministro, sustentando que a operação foi uma "armação suja contra o nosso Governo, o nosso partido e o nosso país”.

As demissões implicam no agravamento da crise que a operação anticorrupção representou para o Governo do Erdogan. O terceiro mandato do primeiro-ministro, iniciado em 2011, está sendo sacudido por protestos e pelo mal estar com os rumos autoritários de Erdogan e a tendência a controlar cada vez mais aspectos da vida privada dos turcos. Além disso, o Governo pouco a pouco aprovou medidas de marcado viés islâmico, como a permissão para ostentar o véu no Parlamento ou o anúncio de que rapazes e moças serão proibidos de coabitarem em alojamentos estudantis.

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