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O topless não interessa ao Rio de Janeiro

O 'toplessaço' não é mais que uma chamada de atenção e o ponto de partida de uma batalha que promete dar o que falar durante este verão

Mulher posa para foto em "toplessaço", no Rio de Janeiro. / Leonardo Wen
Mulher posa para foto em "toplessaço", no Rio de Janeiro. / Leonardo Wen

O Rio de Janeiro, a mesma cidade que lançou a moda do fio dental e cujo Sambódromo apresenta mulheres de beleza deslumbrante desfilando integralmente nuas (apenas com pintura corporal) diante das televisões de meio planeta, deixou claro que ainda não está preparado para assumir com naturalidade a prática do topless (não usar a parte superior do biquíni) em suas praias. O “toplessaço”, convocado através das redes sociais por um coletivo de mulheres para reivindicar seu direito de mostrar os seios na praia, em que confirmaram presença cerca de 4.000 pessoas, acabou se convertendo em um circo grotesco no qual mais de uma dezena de manifestantes tiveram que suportar o assédio das câmeras e os curiosos.

Enquanto os meios de comunicação presentes passavam de cem pessoas, as mulheres que apoiaram o nu coletivo não chegaram a vinte. Em nenhum momento mantiveram-se agrupadas na reivindicação nem tiraram a parte superior do biquíni simultaneamente para dar mais visibilidade ao ato de protesto. A convocação esteve marcada, sobretudo, pela desordem e a falta de unidade. O que sim se viveu no denominado Posto 9 da praia de Ipanema foram momentos de tensão pela presença de curiosos que proliferaram insultos e provocações às manifestantes.

A falta de assistência, segundo a participante Ana Paula Nogueira, correu devido ao mau tempo e à “reação negativa, inclusive agressiva, de muitas pessoas no Facebook. Isto intimidou muita gente que pretendia assistir”. “O topless não é uma provocação nem uma forma de criar polêmica. É simplesmente uma forma de viver teu corpo com absoluta liberdade, de mandar em teu corpo. As mulheres precisamos mandar mais em nossos corpos”, reivindica Natalia, de 31 anos, diante de um enxame de câmeras. Visivelmente contrariada, Julia explica que o coletivo está “propondo uma mudança de visão e de pensamento, e, ao invés de abraçar a causa, as pessoas estão cegas pela mesma ideia dos peitos. Não é respeitoso e nem solidário”. Por sua vez, a banhista Luiza Wellmann opina que “o seio é algo muito puro, muito maternal. Expor na praia dessa maneira me parece mau. Não gosto”.

A polícia do Rio de Janeiro não permite a prática do topless na praia amparada pelo artigo 233 do Código Penal, que castiga o “ato obsceno em local público, ou aberto ou exposto ao público”. A pena prevista para este delito vai de três meses até um ano de cadeia ou multa. Nas mundialmente conhecidas praias do Rio ocorreram numerosos casos nos últimos anos em que mulheres que se atreveram a mostrar os peitos publicamente acabaram na delegacia.

“Não tem nada a ver com a lei. É uma questão do gerenciamento moral de um espaço considerado muito democrático pelo discurso que se construiu sobre a praia. Se aprofundamos um pouco veremos que não é assim, e se recorremos à história concluiremos que a praia nesta cidade é desde o início do século passado um local elitista, discriminatório e onde se controla moralmente o espaço”, opina a antropóloga Julia O´Donnell, autora do livro A invenção de Copacabana.

Este “toplessaço”, segundo vários participantes do ato, não é mais que uma chamada de atenção e o ponto de partida de uma batalha que prometer dar o que falar no Rio durante neste verão. Por este motivo, celebrou-se no primeiro dia da nova estação carioca.

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