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Snowden faz campanha para pedir asilo ao Brasil

Ex-analista de agência americana divulga carta propondo colaborar com Governo, caso tenha autorização para viver no país

María Martín
O ex-analista Edward Snowden, em foto de junho.
O ex-analista Edward Snowden, em foto de junho.The Guardian (AFP)

O ex-analista da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden escreveu uma carta aberta ao "povo brasileiro” na que sugere que Brasil lhe conceda asilo em troca de colaboração com as investigações que o país iniciou depois de publicar que o Governo de Barack Obama controlou as comunicações da presidenta Dilma Rousseff e da petroleira estatal Petrobras. O Governo brasileiro, porém, "não tem interesse em investigar a NSA" e não pensa em aceitar o pedido de Snowden, informou o jornal Folha de S.Paulo, que atribui a informação a uma fonte do Ministério das Relações Exteriores.

Na carta, também publicada pela Folha, Snowden, que vive em Moscou temporariamente à espera de que algum país lhe conceda o asilo permanente, afirma que a reação de certos países, como o Brasil, às revelações de espionagem em massa norte-americano foram muito inspiradoras para ele --a presidenta Rousseff chegou a cancelar sua viagem oficial aos EUA ante a falta de explicações sobre o que o governo brasileiro considerou um caso de espionagem econômico-.

Snowden alega que muitos senadores brasileiros já lhe pediram ajuda para pesquisar os possíveis delitos cometidos contra os cidadãos, mas afirma na carta que até que um país não lhe conceda o asilo político permanente, o Governo dos EUA continuará interferindo em sua capacidade de falar.

"Expressei minha disposição a auxiliar, quando seja apropriado e legal, mas desgraçadamente o Governo dos EUA trabalha arduamente para limitar minha capacidade de fazer, chegando ao ponto de obrigar a aterrissar o avião presidencial de Evo Morales para me impedir viajar a América Latina!"  recorda Snowden na carta. O Brasil foi coautor junto com a Alemanha da resolução aprovada em uma Comissão Geral da ONU na que se associava o impacto da espionagem às violações de direitos humanos.

O Governo de Dilma Rousseff, junto de outra longa lista de países, já havia recebido um pedido de asilo de Snowden feito desde a Rússia, mas não a respondeu.

O novo pedido do ex-espião, que ainda não foi enviada oficialmente às autoridades, é sutil –não submete sua colaboração ao que parece uma petição de asilo explicitamente- mas conta com o apoio do jornalista norte-americano Glenn Greenwald que, do Rio de Janeiro, colaborou com Snowden para publicar em diferentes meios de comunicação o conteúdo encriptado de seus documentos. "Se o Governo brasileiro é grato pelas revelações, é lógico protegê-lo", disse Greenwald à Folha.

A organização civil Avaaz também iniciará uma campanha em seu site para apoiar a causa, segundo o diário brasileiro.

As revelações de Snowden causaram no Brasil uma confusão maior que em outros países europeus nos que a NSA também interveio comunicações de seus líderes e cidadãos comuns. Rousseff além de cancelar sua viagem, exigiu explicações e desculpas a Washington do que considerou uma violação da soberania brasileira. Na última entrevista a EL PAÍS, a presidenta afirmou que o Governo de Obama se sentia muito envergonhado pelo episódio, mas que não era capaz de resolver o problema só com o Brasil, já que afetava a mais países amigos.

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