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O Paseo de la Reforma, o elegante ‘manifestódromo’ mexicano

A mais bela avenida da capital do México é ao mesmo tempo uma plataforma para onde convergem os mais espalhafatosos protestos sociais do país

Bernardo Marín
O paseo de la Reforma e Anjo da Independência
O paseo de la Reforma e Anjo da IndependênciaPRADIP J. PHANSE

A parte central do Paseo de la Reforma é a via mais elegante da capital mexicana. O visitante europeu recordará os Champs-Élysées, de Paris, da qual copia a estrutura: ampla, arborizada e salpicada de bulevares e monumentos emblemáticos. No entanto, além de ser um lugar agradável para perambular, seu percurso serve ao viajante como lição de história: um coreto homenageia Cristóvão Colombo; outro, a Cuauhtémoc, o último rei asteca; em outro, onde se festejam os triunfos da seleção mexicana, está o Anjo da Independência e são lembrados os heróis da luta pela emancipação perante a Espanha.

O passeio foi construído em 1865 pelo último monarca que reinou no México, o imperador Maximiliano, para unir sua residência, o Castelo de Chapultepec, com o Palácio Nacional. E continua sendo desde então uma avenida esplendorosa, ladeada de mansões porfirianas do final do século XIX e, hoje, de arranha-céus onde estão localizadas algumas das principais empresas mexicanas e multinacionais. Mas também se transformou na principal plataforma para os protestos sociais de um país onde, como em quase todos, passeatas e manifestações são convocadas para o lugar onde mais podem ter repercussão: o centro da capital.

Segundo determina a lei apresentada este mês para regulamentar os protestos no Distrito Federal, entre 5 de dezembro de 2012 e 30 de setembro de 2013 se registraram na capital 482 bloqueios, 446 passeatas e 3.164 manifestações. E as mais concorridas afetaram, inevitavelmente, o Paseo de la Reforma. Uma das mais comentadas este ano foi a dos filiados a um poderoso sindicato de professores que em meados de agosto acamparam perto do Monumento da Revolução, de onde organizavam marchas multitudinárias que forçavam o fechamento do passeio dia sim dia não. Os comerciantes do bairro da Colônia Tabacalera, adjacente à avenida, lançaram em outubro um grito de socorro pela perda de 70% de seus negócios, dos quais dependem 25.000 famílias. Nesses dias, a Câmara de Comércio, Serviços e Turismo de Pequeno Porte da Cidade do México (Canacope) calculou que os atrasos por causa dos protestos na região provocavam a perda de mais de 2 milhões de horas/homem de trabalho por dia.

O protesto dos professores foi esmorecendo. Mas a tranqüilidade nunca dura muito tempo no Paseo de la Reforma. No princípio do mês, simpatizantes do Movimento pela Reconstrução Nacional (Morena) iniciaram um cerco humano ao edifício do Senado, localizado no número 135 da avenida, para tratar de impedir a reforma energética que abrirá o setor do petróleo ao investimento privado. Depois de 13 dias de cerco, a lei seguiu em frente e os comerciantes dos 300 estabelecimentos que ficaram dentro da área murada se queixam de perdas de mais de 100 milhões de pesos (7,6 milhões de dólares) e uma queda do negócio de 90%.

Mas o bloqueio mais lembrado ocorreu em 2006. Em 30 de julho desse ano, depois de perder por meio ponto de diferença as eleições presidenciais, o candidato da esquerda, Andrés Manuel López Obrador, propôs a seus seguidores bloquear algumas da principais vias da capital para exigir nova apuração dos votos. Quase 50 acampamentos de “resistência” foram instalados entre o Zócalo ­-- a praça central do DF ­–e a La Reforma. A Confederação de Câmaras de Comércio calculou que 32 mil comércios foram prejudicados e que se perderam mais de 200 milhões de pesos diariamente (15 milhões de dólares, ao câmbio atual) durante as seis semanas em que durou a mobilização. Esse não foi o único custo: as possibilidades de López Obrador em futuras eleições foram afetadas pelo enorme transtorno que o protesto causou na vida de milhões de moradores da capital.

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