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relação EUA - Colômbia

EUA investem economicamente para acelerar o processo de paz

Obama e Santos concordam sobre a necessidade de que a relação bilateral deve incluir a cooperação econômica

Eva Saiz
O presidente de Colômbia e o dos EUA na Casa Branca.
O presidente de Colômbia e o dos EUA na Casa Branca.Andrew Harrer (Bloomberg)

Quando o Plano Colômbia começou, em 1999, esse país estava mergulhado em uma espiral de violência provocada pelas guerrilhas, os paramilitares e o narcotráfico. A colaboração entre Estados Unidos e Colômbia era eminentemente militar, desenhada para extirpar à força esses grupos sociais e políticos. Com um processo de diálogo com as Farc em marcha e uma progressiva redução da extensão dos cultivos de coca, 12 anos depois a situação mudou substancialmente, e ambos os países estão dispostos a transformar o caráter da sua cooperação, para reforçar a paz e o desenvolvimento socioeconômico que se instalaram na última década nesse país sul-americano. Assim constataram nesta terça-feira os presidentes dos EUA, Barack Obama, e da Colômbia, Juan Manuel Santos, durante seu encontro na Casa Branca.

“Os dois países estão dispostos a avançar além da segurança e do narcotráfico, para falar também de oportunidades econômicas e energéticas”, afirmou Santos após a reunião. Um exemplo dessas transformações é o anúncio de um investimento pelos EUA de 160,9 milhões de reais, por meio da Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid), para auxiliar a Colômbia no seu processo de restituição de terras às vítimas do conflito armado que assola o país há meio século, além de gerar oportunidades nas zonas rurais e garantir a titularidade fundiária.

A injeção econômica nessa área será essencial para o cumprimento do “pacto agrário” e de desenvolvimento rural, um dos pontos essenciais das negociações com as Farc e o primeiro no qual houve um acordo. Após elogiar os “esforços de Santos” para levar o processo de paz adiante, Obama advertiu que “ainda existem muitos desafios no futuro” desse diálogo, e prometeu respaldo dos EUA aos esforços da Colômbia no sentido de superá-los. A origem da guerrilha Farc é camponesa, e o apoio financeiro de Washington para amparar a reforma agrária é um exemplo do interesse manifestado pelo presidente norte-americano em acompanhar o processo de paz e a estabilidade colombiana.

“Queremos acelerar os esforços do Governo colombiano no seu processo de consolidação da devolução das terras e do desenvolvimento rural”, confirmou um alto funcionário da Casa Branca. Não ficou tão claro como os EUA acompanharão futuros acordos do processo de paz, como uma diminuição das extradições ou uma flexibilização da luta contra as drogas, como exigem as Farc. “Em razão da nossa profunda amizade, confiamos que qualquer pacto que puder afetar a relação bilateral será consultado previamente”, afirmou o mesmo funcionário. Os EUA consideram as Farc como um grupo terrorista, mas o Governo prefere ser cauteloso ao tratar de futuros pedidos de extradição envolvendo ex-guerrilheiros que venham a se incorporar à vida pública caso o acordo de paz seja alcançado. “São assuntos que dizem respeito a pessoas em particular, e se elas violaram a legislação norte-americana serão tratadas no âmbito judicial, e também de forma particular.”

Na base do novo rumo da relação bilateral entre ambos os países se encontra o tratado de livre comércio que em maio completou um ano. Obama observou que o intercâmbio comercial entre ambos os países aumentou 20% desde então. Esse tratado, no entanto, está no centro de muitas das manifestações que ocorreram na Colômbia nos últimos meses, já que muitos o consideram como uma ameaça à competitividade dos seus próprios produtos, incapazes de rivalizar com a enxurrada de bens norte-americanos mais baratos.

Apesar da mudança das prioridades em sua relação bilateral, a colaboração em matéria de defesa continua sendo a mais importante entre ambos os países. Seus dois mandatários discutiram “triplicar” o número de intervenções conjuntas, e Santos salientou que 17.000 agentes já foram treinados no seu país. A Colômbia é o principal destinatário de investimento militar dos EUA na América Latina. Só no Plano Colômbia, entre 2000 e 2012, os EUA destinaram o equivalente a cerca de 18,9 bilhões de reais, segundo o relatório do Serviço de Investigação do Congresso norte-americano. Nos últimos anos, o orçamento desse acordo foi sendo reduzido, à medida que a Colômbia ia assumindo mais responsabilidades em matéria de segurança e repressão a narcóticos.

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