_
_
_
_
_

As letras também são um negócio

A FIL é um espaço de encontro entre profissionais e leitores onde se fecham contratos por mais de 30 milhões de dólares

Mari Luz Peinado
Um dos expositores da FIL 2013.
Um dos expositores da FIL 2013.H. GUERRERO (AFP)

A Feira Internacional de Livros de Guadalajara (FIL) 2013 dura nove dias mas há três deles em que os que editores, agentes, bibliotecários e representantes abarrotam seus corredores e se movem de um lado a outro da feira, distribuindo cartões e tendo reuniões no ritmo que marcam suas agendas. Dos contatos e encontros dessa feira, especialmente dos três dias exclusivos para profissionais, saem muitos contratos que marcarão boa parte dos catálogos das editoras dos próximos anos.

A marca que a FIL é “a maior feira do livro em espanhol” não se concretiza apenas no número de visitantes - quase 751.000 esta edição, 50.000 mais que no ano passado - ou em seu programa cultural - que neste ano incluiu a presença de três premio Nobel - mas também em dinheiro vivo. Para começar, pelos valores que maneja: 73 milhões de pesos (5,5 milhões de dólares) de orçamento e uns rendimentos aproximados de 80 milhões. Em uma coletiva de imprensa em que foi divulgado o balanço desta edição, Raúl Padilla - presidente da Feira, anunciou que os expositores e profissionais estimam neste ano, a circulação de 41 milhões de dólares, diante aos 33 milhões da edição de 2012. “Há três partes fundamentais do negócio: por um lado, a venda de livros diretos ao público, que supõe 40% aproximadamente. Por outro, a venda por atacado a revendedoras, livrarias ou bibliotecas, que está entre 50% e 60% do total. E, por último, a venda direta de direitos, que é pouco mais de 10%”, explica Verónica Mendoza, coordenadora de Expositores e Profissionais da FIL.

Esta é uma feira híbrida do ponto de vista econômico. Se a de Frankfurt é o encontro mais importante para compra-e-venda de direitos e as feiras como as da Argentina, Chile e Madri estão principalmente dirigidas ao público, em Guadalajara os rendimentos vêm por ambas vias. “Em nosso caso, o mais importante é o contato com o público, para que possamos medir o que lhes interessa. Também a venda direta, porque em uma semana de FIL vendemos como em um mês em todas as livrarias do México”, explica Eduardo Rabasa. Junto a seu irmão Diego, está à frente da editora e distribuidora Sexto Andar, com a que se converteram em um dos principais expoentes da edição independente mexicana.

Neste ano, o tamanho de seu stand triplicou em relação a 2012: de 36 metros quadrados a 120. Nada a ver com a primeira vez que visitaram a feira, há 10 anos, quando compartilhavam espaço com “uma empresa que fazia vídeos religiosos protagonizados pelo anjo Querubim”, recorda Rabasa. “Já que fazemos muitas traduções, a maioria dos acordos de compra de direitos fazemos em Frankfurt”, explica.

O percentual de negócios de venda de direitos é ainda menor do que os organizadores quereriam. “Ao longo de dez anos temos crescido através de nosso Salão de direitos autorais, mas esse percentual ainda corresponde a 10% dos negócios”, reconhece Mendoza. Isso não significa que não tenha agentes em busca de joias por traduzir ou editoras tentando assinar novos talentos.

Havia cinco anos que Anne-Solange Nobre não viajava a Guadalajara mas esta editora do prestigioso selo francês Gallimard - casa editorial de autores como Albert Camus e Antoine de Saint-Exupéry - regressou neste ano à feira porque é a que mais atrai profissionais de países de língua hispânica. “A FIL não é uma feira de contratos, mas de contatos”, explica. “Nos reunimos com editores, fazemos o contato, falamos de nossos livros e, de volta a Paris, enviamos os textos àqueles interessados esperando que se decidam a publicar a tradução”.

Guadalajara se converte em um cruzamento de caminhos entre a Europa e América, entre o norte e o sul, entre os anglófonos e os que falam a língua hispânica. Muitos editores europeus só se encontram com outros americanos durante a FIL. “Nosso objetivo é desenvolver os relacionamentos da Gallimard com o mundo editorial hispânico, especialmente com o México e a Argentina - também com Brasil - e promover as traduções de nossos autores franceses. Também entender melhor o mercado latino-americano”, explica Nobre. Enquanto ela tentava vender direitos autorais de seus autores, outro de seus colegas trabalhava para comprar outros a editoras não francófonas.

Embora a língua espanhola seja a mais representada, não é a única que se falou nos corredores. Muito pelo contrário: os mais de 20.000 profissionais que visitaram a feira provinham de 43 países diferentes, que incluem locais como Índia, China e Coreia do Sul. Neste ano, além disso, escutou-se muito hebraico, já que Israel foi o país convidado.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_