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A Feira do Livro de Guadalajara aposta em uma mudança gradual

A FIL contará neste ano com um espaço dedicado ao livro eletrônico. A presença de Vargas Llosa e Yves Bonnefoy e o pavilhão de Israel, país convidado, serão alguns dos destaques desta edição

Bernardo Marín
Marisol Schulz, diretora da Feira Internacional do Livro de Guadalajara.
Marisol Schulz, diretora da Feira Internacional do Livro de Guadalajara.

A nova diretora da Feira Internacional do Livro de Guadalajara (FIL), Marisol Schulz, tem um desafio complicado: gerenciar um sucesso. Nas dez edições gestadas por sua predecessora, Nubia Macías, a FIL se consolidou como o acontecimento cultural mais importante da América Latina. Talvez por isso, em março, quando se anunciou sua nomeação, Schulz se declarou “assustada no melhor dos sentidos”. Veterana de todas suas edições, assumia o desafio de dirigir “a feira das feiras, a meca do livro”. Agora, na véspera do evento, ela está confiante com o andamento e aposta em uma mudança tranquila, embora com algumas relevantes novidades, como a instalação de um pavilhão dedicado exclusivamente ao livro eletrônico.

Aumenta a atenção para os formatos digitais mas não se avista uma revolução imediata na feira. “Eu acho justamente que o desafio é que o público não note a mudança de direção. Minha missão neste caso é fazer que toda a equipe ande do mesmo compasso, para que as transformações cheguem paulatinamente”, diz Schulz. Sobre as próximas edições ainda é cedo para falar. Mas ela se mostra partidária de manter a designação de um país convidado, por exemplo. “É algo que o público agradece e uma herança muito acertada. Dá caráter a muitas atividades da feira, marca tendência e com frequência as edições são lembradas como ‘aquela da Itália, ou da Colômbia’”.

Brasil, um país cuja produção literária é relativamente desconhecida no resto da América Latina, terá um programa específico na feira, pelo segundo ano consecutivo. Sob o lema "Ler um país é conhecê-lo", Destinação Brasil traz 14 autores a Guadalajara. Eles foram escolhidos a partir de recomendações de outros escritores, editoras ou jornalistas. São eles: Bernardo Ajzenberg, Ivana Arruda Leite, Carol Bensimon, Sérgio Capparelli, Deonísio da Silva, Andréa del Fuego, Emilio Fraia, Marcelino Freire, Julián Fuks, Juliano Garcia Pessanha, Ricardo Lísias, Lourenço Mutarelli, Santiago Nazarian y Lucrecia Zappi.

A priori, essa edição não tem grandes controvérsias, como a do prêmio concedido ao escritor peruano Alfredo Bryce Echenique em 2012, que sofreu acusações de plagio. Os prêmios Nobel voltam à feira, e serão três: Mario Vargas Llosa, de Literatura, com sua nova novela, O herói discreto; o presidente de Israel Simon Peres, da Paz; e seu compatriota Ada Yonath, de Química. Israel será o país convidado e seu pavilhão, onde se exibirão os facsimiles dos manuscritos do Mar Morto, uma das grandes atrações. Tudo parece pronto para superar as boas cifras do ano passado, quando se ultrapassaram os 700.000 visitantes e as vendas cresceram entre 10% e 15%, segundo as editoriais.

Schulz dirigirá a feira, mas a figura mais importante - e nem sempre a mais visível- é seu presidente, Raúl Padilla. Padilla foi submetido há alguns dias a uma operação intestinal mas, segundo seu braço direito, isso não lhe impedirá de participar em todos os atos que havia programado. “Para mim ele é um visionário e tudo o que faz se converte em triunfo. Um empreendedor de êxito, um pássaro raro no México”. Quem ainda não confirmou sua presença no ato de inauguração foi o presidente do México, Enrique Peña Nieto. No ano passado a feira coincidiu com sua posse e, há dois anos, passou por um momento embaraçoso quando teve dificuldade para citar três livros importantes em sua vida.

Outro dos protagonistas da feira será Yves Bonnefoy, o premio FIL deste ano, tão bom poeta quanto colecionador de arte, um homem herdeiro da renascença e dos surrealistas. Para Schulz, o prêmio é a melhor maneira de ressarcir uma injustiça. “Eu sinto que o premio foi muito bem recebido. E não digo agora que estou à frente da feira: achei muito injusto que o prêmio ficasse desprestigiado pela polêmica de um ano”.

Schulz recomenda ao visitante percorrer a feira e eleger, de acordo com seus gostos, entre as 3.000 atividades programadas. “Passear por todos os espaços para conhecer a magnitude da oferta editorial e da enorme concentração de talento”. Mas sugere algumas paradas indispensáveis: o diálogo entre o israelense David Grossman e o peruano Mario Vargas Llosa na abertura do Salão Literário; a área infantil inundada de seres fantásticos com espetáculos e oficinas para as 150.000 crianças que visitam a feira; o encontro do irreverente Fernando Vallejo com mil jovens; os atos com Yves Bonnefoy; e o pavilhão de Israel.

O livro eletrônico terá uma presença singular na feira. No mundo editorial, seu surgimento é visto  como uma oportunidade e também como uma ameaça. “Parte da nossa missão é estar pendentes do que ocorre com as novas tecnologias e incorporá-las como novas formas de leitura. Temos que atender as demandas do público jovem e dessas gerações digitalizadas que estão acostumadas a ter sempre algum aparelho eletrônico nas mãos”. Se supõe que os dois suportes conviverão durante muito tempo, ou talvez para sempre, mas a diretora da FIL não concebe uma feira só com livros digitais. “Não imagino, embora já conheci uma biblioteca sem livros impressos nos EUA. E não é algo que eu celebraria: eu sinto falta do toque do papel”.

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