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Análise
Exposição educativa de ideias, suposições ou hipóteses, baseada em fatos comprovados (que não precisam ser estritamente atualidades) referidos no texto. Se excluem os juízos de valor e o texto se aproxima a um artigo de opinião, sem julgar ou fazer previsões, simplesmente formulando hipóteses, dando explicações justificadas e reunindo vários dados

Obama fica sozinho na defesa do acordo com o Irã

A Casa Branca enfrenta a possível aprovação de sanções no Congresso e uma revolta de seus aliados no Oriente Médio

Antonio Caño
O presidente Obama a sua chegada a Seattle neste domingo.
O presidente Obama a sua chegada a Seattle neste domingo.JEWEL SAMAD (AFP)

Barack Obama enfrenta o desafio mais importante da política exterior de sua presidência, a reconciliação com o Irã, em absoluta solidão, sem apoios claros nem dentro nem fora dos Estados Unidos, obrigado a demonstrar em pouco tempo que existem garantias verificáveis de manter o programa nuclear iraniano sob controle e que não existe perigo imediato para os principais aliados norte-americanos no Oriente Médio.

A posição de Obama depois da assinatura do acordo interino é muito mais desconfortável que a de seus colegas europeus em Genebra. O presidente norte-americano, não só enfrenta uma dura oposição de ambos partidos, incluído o seu próprio, em casa, como também vê ameaçada a arquitetura tradicional de influência dos EUA na região. Israel e a Arábia Saudita, os dois pilares sobre os que se assentou a estratégia norte-americana, estão na contramão do pacto com o Irã e reconsiderando seus relacionamentos com Washington.

Na realidade, ambos focos de oposição estão vinculados. A rejeição ao acordo no Congresso estadunidense é, em parte, reflexo das queixas da Arábia Saudita e, sobretudo, de Israel. Ao mesmo tempo, ambos países estão decididos a encarar Obama porque sabem que contam com poderosos amigos no Capitólio.

Embora o compromisso assinado em Genebra abra um período de seis meses para consolidar os acordos ainda provisórios, Obama não tem um prazo tão longo para vencer a resistência detectada no Senado. Vários senadores, tanto democratas como republicanos, expressaram sua intenção de discutir um novo pacote de sanções ao Irã a partir do próximo mês, assim que acabar o atual recesso de Thanksgiving (Ação de Graças).

Foram as fortes sanções, não o bom coração dos líderes iranianos, o que levou a Irã à mesa de negociações”, recordou Schumer

Um dos que se manifestaram a favor de considerar essa opção é um dos habituais aliados de Obama em outras feições de sua agenda, o senador democrata Charles Schumer, que se queixou que acordo de Genebra “carece da necessária proporcionalidade” e, portanto, “aumenta as possibilidades de que democratas e republicanos atuemos juntos para aprovar novas sanções em dezembro”. “Foram as fortes sanções, não o bom coração dos líderes iranianos, o que levou o Irã à mesa de negociações”, recordou Schumer.

Por parte dos republicanos, a oposição ao pacto com o Irã já estava garantida desde antes de ser anunciada. O senador Mark Kirk, que lidera a política de seu partido neste assunto, declarou que o regime islâmico fez só “concessões cosméticas” e que não pode ser aceitado nada que não seja o “completo congelamento do programa nuclear”. O senador John McCain qualificou a política exterior deste Governo como a pior que conheceu em toda sua vida.

Se a oposição do Congresso concretiza-se na aprovação de novas sanções contra o Irã nos próximos dias, Obama poderia ser visto obrigado a vetá-las para impedir que descarrile todo o processo em marcha. Um dos instrumentos da Casa Branca para evitar que chegue a esse ponto é tratar de aplacar a ira de Israel, o que já começou a ser feito com um telefonema de Obama ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu.

O senador McCain qualificou a política exterior deste Governo como a pior que conheceu em toda sua vida

O argumento principal do Governo é que, a longo prazo, a segurança de Israel se verá melhor garantida por um acordo verificável que impeça a construção de armas atômicas no Irã do que por um ataque militar que poderia desencadear duras represálias contra Israel sem assegurar que fosse destruída por completo a capacidade nuclear iraniana.

Além dos benefícios para a segurança no Oriente Médio,os Estados Unidos têm pela frente, no caso de que este acordo prospere, uma opção para remodelar a região, como se pretendeu antes com a guerra do Iraque, mas desde uma posição bem mais realista e viável. À margem da aliança com Israel, que é irreversível e está fundamentada em princípios que transbordam os interesses nacionais, os EUA levam tempo detectando uma fragilidade de sua posição no Oriente Médio. A dependência da Arábia Saudita tem se agravado nos últimos anos, ao mesmo tempo em que outros aliados importantes, como o Egito, perdiam relevância por culpa de suas revoltas internas.

A necessidade de um reajuste da posição dos EUA parece evidente, com ou sem acordo com o Irã. O acordo obtido em Genebra poderia permitir abordar esse reajuste com a colaboração de Teerã. A possibilidade deveria ser atraente o suficiente para que Obama ainda pudesse encontrar aliados no caminho.

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