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Os desafios de Pia Sundhage, a primeira estrangeira no comando da seleção brasileira

Técnica sueca assume equipe feminina no lugar de Vadão, demitido depois da queda no Mundial

Pia Sundhage foi anunciada como técnica da seleção nesta quinta-feira.
Pia Sundhage foi anunciada como técnica da seleção nesta quinta-feira.Lucas Figueiredo (Divulgação)

Competência comprovada, histórico vencedor, experiência na modalidade e uma vida dedicada ao desenvolvimento de mulheres no esporte. O perfil de Pia Sundhage, nova treinadora da seleção brasileira, era justamente o que buscava a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) após a chuva de críticas por manter no comando, por tanto tempo, um técnico sem vivência prévia no futebol feminino. Oswaldo Alvarez, o Vadão, não resistiu à sequência de maus resultados somada à eliminação nas oitavas de final da Copa do Mundo. Foi demitido na segunda-feira, um mês após a queda no Mundial. Agora, em seu lugar, assume uma sueca acostumada a conduzir equipes ao protagonismo perdido pelo Brasil nos últimos anos.

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O primeiro desafio é preparar o time para a disputa dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020. Especialista no torneio, Sundhage ganhou duas medalhas de ouro comandando a seleção norte-americana nas edições de 2008 e 2012, ano em que foi eleita a melhor treinadora do mundo. Já na Olimpíada do Rio, em 2016, levou a Suécia ao segundo lugar do pódio depois de eliminar Brasil e Estados Unidos. Como jogadora, a ex-atacante disputou os Jogos de Atlanta, em 1996. Marcou 71 gols em 144 partidas pela seleção sueca.

Paralelamente à formação do grupo que vai tentar um inédito ouro olímpico no ano que vem, Pia Sundhage precisa iniciar os trabalhos de renovação da seleção feminina. Marta, 33, e Cristiane, 34, seguem como principais referências de ataque. Formiga, a atleta brasileira que mais competiu em Olimpíadas e recordista de participações em Mundiais, terá 42 anos nos Jogos de Tóquio. A urgência de rejuvenescer o time, que disputou a última Copa com média de idade de 28 anos, casa com a filosofia da treinadora de desenvolver projetos interligados entre seleção principal e categorias de base, em um ciclo semelhante ao que capitaneou com a Suécia.

Diante dessa necessidade, o maior obstáculo a ser enfrentado pela técnica de 59 anos tem a ver com a própria estrutura do futebol feminino no Brasil, onde torneios e times de base ainda são incipientes. A primeira competição oficial voltada para a formação de atletas surgiu somente em 2017, com criação do Paulista sub-17. O Campeonato Brasileiro sub-18, que começou em julho, se tornou o primeiro organizado e mantido pela CBF. Já a situação das seleções sub-17 e sub-20 é dramática. Ambas estão inativas e sem técnicos, que devem ser definidos com o aval de Sundhage nas próximas semanas.

Outra barreira é o comando masculino no alto escalão da CBF. Coordenador de seleções femininas, Marco Aurélio Cunha está mantido no cargo, embora a equipe principal tenha amargado uma sequência de nove derrotas seguidas em jogos preparatórios antes da Copa. Ele foi o responsável por reconduzir Vadão ao posto de técnico após demitir Emily Lima, primeira mulher a ocupar a função, com apenas 10 meses de trabalho. A treinadora alega que não se sentia respaldada pelo coordenador. Por outro lado, Pia Sundhage conta com a admiração do presidente Rogério Caboclo, que se impressionou com sua trajetória há três meses, quando ela palestrou em um evento na sede da CBF.

No jogo interno por autonomia, a sueca carrega sua bagagem de dedicação exclusiva ao futebol feminino, ao contrário de Vadão – que acumulou quase quatro anos de comando, divididos em suas passagens – e Marco Aurélio Cunha. Eles só tiveram contato com a modalidade ao chegar à seleção. Pia Sundhage prega que os homens devem ser aliados das mulheres na busca por espaço e igualdade no esporte. “Estou muito empolgada em treinar o país do futebol, para alcançarmos juntos o melhor desempenho”, afirmou em um vídeo divulgado pela CBF.

Com contrato de dois anos, a bicampeã olímpica é a primeira treinadora estrangeira efetivada na seleção brasileira, entre equipes masculina e feminina. Foi assim, com olhar de fora e destemido diante de novos desafios, que ela conquistou os maiores títulos de sua carreira à frente das atuais campeãs mundiais.

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