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Fabricante de agrotóxicos Monsanto é condenada nos EUA a pagar dois bilhões de dólares a casal com câncer

Autores da ação dizem ter adoecido devido ao uso do herbicida Roundup, que continua sendo vendido sem uma etiqueta que advirta para o risco da doença

Antonia Laborde
Um empregado coloca frasco do herbicida Roundup na prateleira de uma loja em San Rafael, na Califórnia
Um empregado coloca frasco do herbicida Roundup na prateleira de uma loja em San Rafael, na CalifórniaAFP

A Bayer sofre uma bilionária derrota judicial. Um júri condenou nesta segunda-feira, 13, a Monsanto, adquirida em 2018 pela empresa alemã, a pagar 2,055 bilhões de dólares (8,2 bilhões de reais) a um casal que teria contraído câncer por utilizar o herbicida Roundup. O veredicto do júri do norte da Califórnia considera que o conglomerado agroquímico não alertou adequadamente sobre os perigos de seu produto, que acumula mais de 13.000 ações judiciais pelo mesmo motivo. Esta é a terceira batalha legal perdida pela empresa, e de longe a mais cara. A condenação ocorre num momento em que os acionistas do gigante farmacêutico se negaram a apoiar a gestão da Bayer no último ano, e isso causa uma queda das ações no mercado.

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Alva e Alberta Pilliod, de 70 anos, foram diagnosticados com linfoma não-Hodgkins com quatro anos de intervalo: um em 2011, e outro em 2015. O casal usou Roundup, um produto elaborado com glifosato, durante 35 anos em um terreno em São Francisco. Ambos se encontram atualmente em remissão da doença. A indenização a ser paga pela Bayer inclui, além de dois bilhões de dólares em danos punitivos, outros 55 milhões em danos compensatórios. É possível que a cifra diminua após recurso. O gigante químico e farmacêutico alemão comunicou sua decepção com o veredicto e antecipou que o litígio "levará algum tempo até ser concluído", já que as apelações estão pendentes, e que o grupo "continuará avaliando e refinando suas estratégias legais à medida que avança na fase seguinte".

Assim como nos episódios anteriores, em que o Roundup foi apontado como um fator substancial para o desenvolvimento do câncer, houve uma batalha entre ambas as partes, envolvendo estudos científicos e especialistas. Segundo os reguladores europeus e norte-americanos, não ficou provado que o glifosato possa provocar câncer. Já a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse em 2015 que “provavelmente” a substância é cancerígena – e esse é um trunfo importante para milhares de queixosos. Neste caso em particular, os advogados da companhia, além de se respaldarem em documentos científicos, destacaram os antecedentes familiares dos Pilliod, que também sofreram de câncer e doenças autoimunes, as quais, segundo seu argumento, aumentavam o risco de que o casal desenvolvesse um linfoma não-Hodgkins.

O Roundup, produto estrela da Monsanto, continua sendo vendido sem uma etiqueta que advirta de que existe um risco cancerígeno para os seres humanos. O glifosato, no mercado desde 1976, é o herbicida mais utilizado na atividade agrícola. Pessoas familiarizadas com a companhia alemã afirmam que não há planos de fazer modificações enquanto os recursos judiciais não se esgotarem em pelo menos um caso, conforme publica o The Wall Street Journal. Os sócios da empresa rejeitaram no mês passado as medidas adotadas pela direção, entre elas a compra da Monsanto. Desde então, as ações da empresa alemã caíram 40%.

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