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A bomba escatológica de Bolsonaro populariza o ‘golden shower’ nas redes

O presidente conservador causou indignação nas redes em plena ressaca da festa de rua que populariza o país no mundo todo

Boneco gigante de Bolsonaro é vaiado no Carnaval de Olinda.
Boneco gigante de Bolsonaro é vaiado no Carnaval de Olinda.Diego Herculano (AP)
Naiara Galarraga Gortázar
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O presidente do Brasil deixou seus compatriotas entre incomodados, indignados e atônitos depois de divulgar na noite desta terça-feira, último dia completo da festa de Carnaval, um primeiro tuíte que começava com uma advertência. “Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades”, escrevia o conservador Jair Bolsonaro, de 63 anos. E depois referia-se ao Carnaval, a festa pela qual o Brasil é famoso em todo o planeta e na qual embarcaram milhões de seus compatriotas durante os últimos quatro dias.

“É isto que tem virado muitos blocos de rua no Carnaval brasileiro”, escreveu para apresentar um vídeo obsceno gravado na rua que mostra a dois homens dançando sobre um ponto de táxi, um deles tocando o próprio ânus e o outro urinando nele depois. “Comentem e tirem suas conclusões”, terminava o tuíte, animando a seus 3,4 milhões de seguidores. Os brasileiros, ávidos consumidores de redes sociais, lançaram-se a comentar até que um novo tuíte nesta quarta-feira pela manhã os fez com que se engasgassem com o café da manhã ou ficassem quase sem fala. “O que é golden shower?”, perguntava o chefe do Estado em seu perfil no Twitter.

Em plena ressaca carnavalesca, o primeiro tuíte já conseguiu nesta quarta-feira mais de 40.000 comentários, incluindo o de milhares de internautas que exigem sua destituição ou que estão preocupados pelas crianças deste país conservador. “Bolsonaro, minha neta de seis anos tomou conhecimento dessa cena no seu Twitter”, respondeu a ele um jornalista com 9.000 seguidores, que conclui: “Você precisa um tratamento médico urgentemente”.

O principais hashtags desta quarta-feira no Brasil refletem o ânimo da tuitosfera local: #ImpeachmentBolsonaro #BolsonaroTemRazão #goldenshowerpresident (assim, em inglês) #VergonhaDessePresidente, #EiBolsonaroVaiTomarNoCu, um dos gritos mais escutados nos blocos neste Carnaval  —e que desencadeou o protesto de Bolsonaro no Twitter, com o polêmico vídeo.

O jornal Folha de S.Paulo revela que as imagens foram gravadas na segunda-feira em São Paulo. Acrescenta que entrevistou a vários dos presentes no bloco, que asseguraram que a cena difundida pelo presidente foi um fato isolado.

A primeira economia de América Latina com seus 200 milhões de habitantes assiste atônita a outro excesso de um político que, desde que venceu as eleições, reduzia o tom que caracterizou sua carreira política. Isso até terça-feira à noite, quando lançou o tuíte contra os blocos, uma das principais bases do Carnaval de rua brasileiro.

À noite, a presidência publicou uma "nota explicativa" sobre o vídeo em que afirma que "não houve intenção (por parte do presidente) de criticar o Carnaval de maneira genérica", mas apontar uma "distorção clara do espírito momesco" da "nossa maior e mais democrática festa popular" do Brasil. Ele acrescenta que as imagens escandalizaram muitos além de Bolsonaro e lembra que comportamentos como esses "são crimes" e "violam os valores familiares e as tradições culturais do Carnaval". Os esclarecimentos chegam 24 horas após o primeiro tuíte, o que reflete a divisão que caracteriza este Governo entre os instintos mais ultraconservadores de Bolsonaro e a ala mais pragmática de seu gabinete.

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