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Fronteira de Roraima vive sábado de confrontos entre brasileiros e venezuelanos

Moradores de Pacaraima queimaram tendas e objetos pessoais dos imigrantes para obrigá-los a voltar a seu país

Brasileiros queimaram objetos pessoais e tendas de acampamento de imigrantes venezuelanos em protesto em Pacaraima, neste sábado.
Brasileiros queimaram objetos pessoais e tendas de acampamento de imigrantes venezuelanos em protesto em Pacaraima, neste sábado. GERALDO MAIA (EFE)

A cidade fronteiriça de Pacaraima, em Roraima, viveu momentos de tensão neste sábado, com confrontos entre moradores locais e imigrantes venezuelanos, cujos acampamentos improvisados foram incendiados e destruídos. O tumulto começou durante a manhã, depois de que um comerciante ficasse ferido em um assalto na madrugada e que sua família culpasse um grupo de venezuelanos pelo ataque.

Em retaliação, dezenas de brasileiros atacaram os dois principais acampamentos improvisados dos imigrantes —que há dois anos intensificaram o fluxo migratório no norte do Brasil— e queimaram seus objetos pessoais.

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A força-tarefa que opera na região para lidar com o fluxo migratório confirmou a informação e disse que o comerciante ferido foi socorrido e encontra-se estável em um hospital de Boa Vista, capital do estado.

Um morador de Pacaraima, que não quis identificar-se, contou à AFP que o confronto começou cedo, depois que a notícia do assalto ao comerciante se espalhou pela cidade. "Ele é um vizinho muito conhecido na região e houve indignação quando se soube do roubo. As pessoas começaram a expulsar os venezuelanos que estavam no centro, forçando-os a voltar ao seu país", disse. Outro vizinho brasileiro, que também pediu anonimato, disse que os moradores locais temem que os venezuelanos "voltem para se vingar" pelo ataque.

Vídeos publicados nas redes sociais por moradores da pequena cidade mostram episódios do confronto, que terminou antes do meio dia. As ruas que margeavam a fronteira estavam cheias de escombros e sem transeuntes. As lojas permaneceram fechadas durante todo o sábado.

"Foi terrível, queimaram as tendas e tudo o que estava lá dentro", conta Carol Marcano, uma  venezuelana que trabalha em Boa Vista e que estava na fronteira voltando de uma visita ao seu país. "Houve tiros, queimaram pneus". Marcano disse que alguns venezuelanos reagiram ao ataque e destruíram carros com placas brasileiras. Ela, seus companheiros e outras pessoas se refugiaram nos postos de controle do lado venezuelano.

Apesar do confronto, a fronteira permaneceu aberta. A força-tarefa composta pelas Forças Armadas brasileiras e organizações civis e não-governamentais repudiou os atos de violência em um comunicado.

Há três anos, milhares de venezuelanos cruzam a fronteira com o Brasil para fugir da crise econômica, política e social em seu país. Segundo as autoridades regionais, em Pacaraima, com cerca de 12 mil habitantes, aproximadamente mil venezuelanos vivem em situação de rua. Os vizinhos relataram aumento do número de roubos e incidentes violentos, atribuindo o problema aos venezuelanos, enquanto o governo local alega falta de recursos para solucionar a situação e pede o fechamento da fronteira

A cidade brasileira mais próxima da fronteira é Boa Vista, a cerca de 215 km de distância, onde, de acordo com dados oficiais, vivem cerca de 25.000 venezuelanos. A Polícia Federal estima que cerca de 500 venezuelanos atravessem para o Brasil todos os dias. Até o momento, onze abrigos que operam em Boa Vista e Pacaraima servem de lar para mais de mais de 4.000 venezuelanos, incluindo mais mil índios Warao, uma comunidade originária do norte da Venezuela. 

Só no primeiro semestre de 2018, 56.740 venezuelanos procuraram legalizar sua situação no Brasil, solicitando refúgio ou residência temporária. 

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