_
_
_
_
_

Seis propósitos sexuais para melhorar as relações em 2018

Nossa lista de resoluções de Ano Novo está destinada a descobrir o tipo de animal erótico que temos dentro de nós, e a satisfazê-lo adequadamente. Por algum motivo chegamos à maioridade neste século

Natalie Portman e Ashton Kutcher em 'Sexo sem Compromisso'
Natalie Portman e Ashton Kutcher em 'Sexo sem Compromisso'CORDON PRESS
Mais informações
Da psicanálise à falta de hormônios: as explicações para o ‘donjuanismo’
Esta é a diferença entre quem faz sexo antes de ir trabalhar e quem não faz
As doenças de transmissão sexual nos fizeram monogâmicos

1. Planejar o lazer tanto quanto o trabalho

Quando somos adolescentes ou estamos apaixonados nossos hormônios e órgão genitais têm um peso considerável nas atividades diárias, e eles mesmos encontram espaços em nossas agendas apertadas. No entanto, a coisa muda quando ficamos mais velhos ou passamos muito tempo com a mesma pessoa. O trabalho, as obrigações cotidianas, o estresse, a academia, as crianças, as compras, as redes sociais, a série de televisão do momento... Tudo fica à frente da sexualidade, essa maravilhosa e gratuita capacidade de passar bem que começamos a explorar cada vez menos, mesmo que evoquemos com verdadeiro fervor.

Deixar as relações sexuais nas mãos da espontaneidade, se não se pertence aos grupos anteriores, é como esperar que nosso chefe nos chame e aumente o nosso salário. Planejar e reservar momentos de lascívia, seja sozinho/a ou acompanhado/a, e transformá-los em compromissos inadiáveis é uma boa maneira de o sexo não passar a ser uma recordação vintage. Aqui acontece como o exercício físico. Se não nos inscrevemos em uma academia ou atividade às segundas, quartas e sextas de 7h às 9h, será muito difícil que a gente faça atividade esportiva em casa. Marque um dia na semana para a bagunça, no meu caso as dirty fridays, e vai ver que a coisa tem outro swing.

2. Atrever-se a experimentar coisas novas

Vejo as mães tentando que seus filhos pequenos experimentem receitas e alimentos novos, sempre com o mesmo argumento, “se não provar nunca vai saber se gosta ou não”. Enquanto isso, os filhos têm três listas separadas: aquilo que gostam, aquilo que não gostam e aquilo que ainda não experimentaram. “Gosta de bacalhau, Carlinhos?”, “Não sei, nunca comi”. “Quer um pouco?”. “Não, obrigado”.

A vida sexual deveria ser parecida com essa etapa infantil em que estamos permanentemente em fase de experimentação e na qual, pouco a pouco, vamos reduzindo a lista de experiências desconhecidas. É claro que há coisas que à primeira vista não ativam nem de longe os nossos sucos gástricos; mas exceto esses exemplos extremos, talvez deveríamos ser mais propensos a nos deixar surpreender pelos sabores do mundo.

Ideias preconcebidas, estereótipos ou regras autoimpostas são alguns dos principais obstáculos para provar coisas novas. “E o senso de ridículo”, afirma Francisca Molero, sexóloga e ginecologista, “é um grande inibidor sexual que nos impede de fazer muitas coisas. Porque além disso, o riso não cai muito bem com o sexo na nossa mentalidade, e não deveria ser assim”. Todos, cada um adaptado à sua personalidade sexual, temos coisas que gostaríamos de provar e que não nos atrevemos. É a hora de experimentar.

3. Comunicar o que gostamos e o que não gostamos

A má ou nula comunicação em casal pode ser uma das causas para que nossa vida sexual não esteja transcorrendo da forma como gostaríamos. Uma troca corrente e fluída de ideias, preocupações e anseios é uma das características das uniões felizes, dentro e fora da cama. O que acontece é que nem sempre nos atrevemos a expressar nossos desejos eróticos com clareza, tato e no momento adequado.

“Costumamos esperar que o outro adivinhe nossas preferências sexuais, zonas erógenas favoritas, tempos, fantasias, e isso é impossível”, afirma Molero, diretora do Instituto Clínico de Sexologia de Barcelona, do Instituto Iberoamericano de Sexologia e presidenta da Federação Espanhola de Sociedades de Sexologia. “E até podemos nos incomodar ou tachar o outro/a de mal amante. É possível também que muitas pessoas se neguem a dar instruções mais claras sobre o que gostam na cama durante um tempo e um dia estalem e joguem na cara do outro sua pouca perícia. No melhor dos casos, dirá de boa maneira, mas durante o ato sexual, o que também não é muito aconselhável. É melhor buscar um momento tranquilo e comunicar, de forma amável, o que gostamos ou não. E um exercício que sempre recomendo aos meus pacientes para descobrir as preferências eróticas do outro é brincar de “escravo sexual”. Um membro do casal se encarrega nesse dia de satisfazer os desejos do outro e fazer, expressamente, o que for pedido”.

4. Manter o corpo em forma e a mente quente

A bendita corporeidade requer um certo comprometimento para que o veículo em que nossa sexualidade se expressa seja aprovado todos os anos. Segundo Francisca Molero, “fumar e beber de forma habitual são duas das práticas que mais afetam a vida sexual. O tabaco é o inimigo número um, já que os problemas respiratórios, vasculares, de pele e de secura dos tecidos e mucosas, tão típicos do fumante crônico, são muito nocivos para o desempenho sexual. O sedentarismo é outra coisa a se evitar. A barriga não só é antiestética, mas normalmente é parte visível da síndrome do metabólico, um grupo de condições que nos predispõem a desenvolver uma enfermidade cardíaca ou diabetes e, é claro, uma alimentação saudável também tem sua repercussão positiva em nossa corpo e estado de ânimo”.

“Mentalmente, o que é muito bom para o sexo é estar motivado”, continua Molero, “ter sonhos, projetos de vida, sentir-se vital e ativo. Essa qualidade é uma das mais eróticas que existem, e para ativar o desejo, o melhor é pensar em sexo. E não me refiro apenas a cultivar as fantasias sexuais, mas também a reservar momentos para deixar que a mente divague em modo erótico. Deixar a imaginação voar sem uma rota prévia, como quando saímos para passear sem rumo, só com nossa atenção desperta e disposta a se deixar levar”.

5. Indagar nossa personalidade erótica

“Posso ensinar qualquer pessoa como conseguir o que quer na vida. O problema é que não consigo encontrar quem possa me dizer o que quer”, disse Mark Twain.

Se conhecemos pouco a nós mesmos, em matéria de sexo a maioria habita em um perfeito desconhecido porque os poucos ensinamentos sexuais que recebemos se concentram em medidas higiênicas, anticonceptivas e, com sorte, focadas em conhecer melhor nossos corpos, mas pouco ou nada se ensina sobre nossa personalidade sexual. Nossa história erótica é um reflexo fiel dos nossos gostos, preferências e inclinações ou uma sucessão de atos destinados a agradar o outro/a, a pretender dar uma imagem de pessoas livres sexualmente ou a seguir determinadas ideologias, tendências ou doutrinas morais? Como teria sido nosso passado sexual se pudéssemos agir livremente, sem medo das consequências? O que teríamos feito que ainda não fizemos e a que teríamos dito não? Nosso parceiro/a cumpre com nossas expectativas ou nós que nos dedicamos a cumprir as suas? Como somos realmente quando tiramos não só a roupa, mas também a máscara?

O mundo do sexo conta com muitos manuais e material audiovisual em que podemos ver como se executam todos os tipos de práticas. Saber quais são as que realmente gostamos é mais difícil, porque a filosofia ou psicologia sexual ainda é uma matéria pendente. Há, portanto, que se aprofundar em si mesmo, fazer as coisas de forma consciente; parar e analisar, de vez em quando, as origens dos nossos desejos. E preparar-se para se deparar com mais de uma surpresa.

6. Fugir do capitalismo sexual

O contexto político-social influencia nossa sexualidade, e vice-versa; e se durante séculos a Igreja Católica desenhou nossos relacionamentos e prazer, o que se conhece agora como “capitalismo sexual” começa a fazer o mesmo, com táticas diferentes. O sexo é mais um produto de consumo, e a forma como o usamos determina nosso perfil e status na sociedade.

Uma característica do capitalismo selvagem é a desigualdade. A riqueza se acumula nas mãos de alguns poucos, enquanto outros estão afundados na pobreza. Sexualmente falando, a classe média também começa a desaparecer, e enquanto alguns embarcam em maratonas sexuais auxiliados por remédios (viagra) ou drogas (poppers), o que se chama de chemsex, no outro extremo cada vez há mais adultos que continuam virgens depois dos 35 anos, e não apenas no Japão. A assexualidade cresce ao mesmo tempo em que o índice de relações sexuais entre casais diminui em comparação com décadas anteriores.

“As pessoas cobram o máximo de cada relação sexual, e as expectativas se tornam cada vez mais altas”, afirma Molero. “O objetivo é sentir muito, ter orgasmos incríveis, e às vezes se busca coisas bastante irreais. Além disso, tudo deve ser em grande quantidade, o que faz com que muitas pessoas se bloqueiem e apareçam as disfunções sexuais, inclusive nos jovens”.

Há tanta oferta de encontros esporádicos nos aplicativos voltados para o fuck & go que as pessoas nem perdem tempo tentando se conhecer, se entender, se gostar. Todos estão ocupados fazendo seus deveres sexuais, comprando brinquedos e acessórios eróticos para amplificar as já fragilizadas sensações naturais, mantendo seus órgãos genitais como exige a moda do momento; inclusive acostumando-se com práticas que não gostam, mas que são tendência (Molero me conta como uma de suas pacientes lhe pergunta o que pode fazer para gostar de sexo anal).

Não me interpretem mal, minha intenção não é ser a favor do sexo convencional e ordenado; mas a favor do sexo que cada um/a goste, e não o que o sistema nos impõe.

 

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_