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Editoriais
São da responsabilidade do editor e transmitem a visão do diário sobre assuntos atuais – tanto nacionais como internacionais

Volta a Europa

A cúpula promove a defesa comum e ressuscita a liderança franco-alemã

Merkel e Macron na coletiva
Merkel e Macron na coletivaAURORE BELOT (AFP)
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Volta a Europa. Volta ao compasso das sucessivas derrotas populistas. E das novas lideranças democráticas surgidas nas diversas eleições. E da forja de uma frente comum sólida contra perigos externos, como os que representam Donald Trump ou o Brexit.

E volta, o que é ainda mais decisivo, não apenas entre a elite dominante, que redescobre o europeísmo como ferramenta política útil, mas também entre os cidadãos, como esperança de melhorias concretas.

Nem tudo está feito e nem todas as lições foram aprendidas da crise e dos erros cometidos em sua gestão, na orientação monolítica em direção à austeridade na política econômica e na ausência de uma forte política social agindo como um amortecedor. Ainda falta a recuperação de muitas consequências sociais nefastas da Grande Recessão. Então é preciso modular o otimismo

Mas igualmente não há nenhuma razão para bani-lo. O desenvolvimento do Conselho Europeu concluído ontem é, neste sentido, paradigmático. Não concluiu (nem estava previsto) as questões abordadas, mas deu a todo mundo um notável impulso, como sonhavam os mais ambiciosos.

Primeiro, a letra: embora os avanços em Segurança e Defesa sejam menos importantes para a maioria, foi neles que a cúpula deu passos mais concretos, de importância capital para um continente no qual se difundem os temores estratégicos, e que finalmente percebeu que exteriorizar a segurança não é sustentável, como deixou evidente a chegada do novo presidente norte-americano.

O sinal de partida para uma cooperação estruturada permanente (em princípio de cinco sócios, incluindo a Espanha); a superação das objeções britânicas causadas por sua exclusiva obsessão atlantista; a bênção do lançamento dos planos para reforçar as capacidades militares conjuntas, incluindo as industriais; a criação de um centro de excelência sobre ameaças híbridas em Helsinki; e a decisão de reforçar a cooperação na luta contra o ciberterrorismo não são conclusões menores, mas passos adiantes (embora iniciais) muito substantivos.

Tão importante quanto a letra é a música: a cúpula foi palco de uma recuperação vibrante da locomotiva franco-alemã. Com um nível de cumplicidade, de atenção da mídia e de esperança do público que não acontecia desde a liderança do presidente François Mitterrand e do falecido chanceler Helmut Kohl.

A aceitação por Angela Merkel de propostas comuns, mas recém renovadas pelo presidente Emmanuel Macron, como um orçamento para a zona do euro e a criação de um Ministério das Finanças comum é uma base central para a recuperação gradual da confiança. Que vai depender muito do sucesso de Paris na aplicação de reformas internas prometidas aos franceses... e a todos os europeus.

E é uma grande notícia que o Brexit tenha ficado relegado à terceira fila. Uma Theresa May debilitada chegou com promessas de bom tratamento aos europeus que vivem em sua ilha. Foi embora sabendo que seus ainda sócios têm uma lista de reivindicações bem maior e até duvidam que ela vai sair. Às vezes isso ocorre com o orgulho: combina mal com a derrota.

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